O caminho da aprendizagem
É papel do educador ajudar o aluno a redimensionar a autoconfiança e valorizar mais a reflexão do que o resultado de cada trabalho
PorNOVA ESCOLA
09/10/2016
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Jornalismo
PorNOVA ESCOLA
09/10/2016
Beatriz Gouveia,
coordenadora dos programas Além das Letras e Formar em Rede, do Instituto Avisa Lá, e assessora em Educação em São Paulo, SP.
Aprender não é fácil. Exige do estudante disposição para enfrentar o desconhecido e encarar dificuldades, contradições, dilemas e desafios que de forma natural ou artificial perturbam. Esses desafios assumem contornos de obstáculos à medida que os recursos intelectuais dele não são suficientes para compreendê-los. O jovem precisa, então, acionar o que sabe. Somente ao colocar em prática seus esquemas de assimilação já construídos ele estabelece novas relações para tentar entender o que não sabe. Um novo objeto de conhecimento apresenta resistência e, para conhecê-lo mais de perto, é necessário acionar conhecimentos prévios e lançar mão de algum (ou muito) esforço intelectual. Depois de aproximações sucessivas e reflexões sobre o novo, crianças e adolescentes têm condições de passar de um estado de menor para um de maior conhecimento. Portanto, para compreender algo, é necessário refletir, pensar, estabelecer relações e resistir mais do que os próprios objetos de conhecimento.
Os alunos que se sentem fortalecidos a enfrentar as tensões propostas nas situações de sala de aula se relacionam mais com o conhecimento do que com o conhecido. Eles estão dispostos a redimensionar a capacidade de autoria em suas produções, e suas motivações para estudar tornam-se profundas, não se deixando macular pelas adversidades. Por outro lado, aqueles que não se sentem encorajados a enfrentar esses dilemas acabam ocupando o lugar do fracasso. Em vez de consolidar a ideia de que muitos estudantes têm dificuldades de aprendizagem, é mais produtivo pensar em meios para ajudá-los a reconhecer suas potencialidades para lidar com as tensões do processo.
A percepção da própria capacidade depende da forma como cada um é visto. A imagem construída pode ser positiva ou negativa e o reconhecimento das próprias habilidades é determinante para a vida escolar. Para avançar, é preciso expor ideias, hipóteses, representações e teorias. Sem autoconfiança, o aluno não diz o que sabe por medo e por pensar que não é capaz de aprender.
O professor é a peça-chave para ajudar os estudantes a se reconhecer como sujeitos intelectualmente ativos. Entre as ações que favorecem a relação com o conhecimento estão averiguar o que os alunos pensam sobre o objeto a ser estudado e reconhecer que há um grande esforço intelectual por trás das ideias e representações expostas. À medida que o professor conhece os saberes do grupo, tem mais condições de regular o desafio nas propostas em sala, atendendo às necessidades de cada um. Quando se depara com a diversidade, não pode classificar quem sabe menos como alguém que tem dificuldade de aprendizagem. Essas duas condições não são idênticas ou equivalentes. Ter menos conhecimento do que a maioria apenas indica que o estudante precisa de mais atenção ou de atividades diferenciadas.
Cabe ao educador ajudar a impulsionar e a infundir o desejo de enfrentar os dilemas inevitáveis do processo de aprendizagem. Um bom ponto de partida é reconhecer que ele não é fácil, não é uma brincadeira. Muitos alunos avaliados como tendo dificuldades, na verdade estão desencorajados a enfrentar as contradições intrínsecas desse processo. É preciso ajudá-los a redimensionar a autoconfiança diante dos desafios, legitimando a possibilidade dos erros e valorizando mais a reflexão do que o resultado acabado.
Para compreender algo novo, é essencial ter uma boa dose de coragem, ousadia e persistência. Ensinar pressupõe articular o modo de ser e pensar do aluno com as estruturas epistemológicas dos conteúdos. A baliza dessas ações são o compromisso, o trabalho, o afeto e a implicação de todos os envolvidos. Esse é o caminho da aprendizagem.
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