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Jornalismo

O papel do diretor

Figura nem sempre presente nas escolas de Educação Infantil, um bom gestor é o elo entre a rede, os professores e a comunidade

PorSarah Fernandes

03/01/2016

Funcionários valorizados

"Depois de lecionar por 12 anos na Educação Infantil, candidatei-me à direção, pois queria ajudar a resolver alguns problemas, como a falta de participação dos funcionários na gestão da escola. Quando eleita, passei a envolver a todos nas discussões e implantei um processo de avaliação para medir a satisfação do pessoal da cozinha, da limpeza, da secretaria e do setor pedagógico. Com a análise dos dados, vamos melhorar o trabalho de cada equipe. Conto com o apoio da supervisão de ensino por meio das reuniões e visitas à unidade."
Patrícia Loureiro, pedagoga com pós-graduação em psicanálise com práticas educacionais e gestora da CMEI Valdivia da Penha Antunes Rodrigues, em Vitória.

Ter uma visão global da instituição com foco na aprendizagem dos alunos é um dos principais atributos de quem assume a direção de uma escola. Ao gestor é creditada grande parte dos sucessos - e também dos fracassos - de uma instituição. E não é para menos, pois, como o responsável legal, espera-se que ele providencie as condições necessárias à aprendizagem, zelando pelo uso dos espaços, cuidando da administração dos recursos financeiros e melhorando as relações interpessoais (com funcionários e professores), institucionais (com a Secretaria de Educação) e com a comunidade.

Tantas exigências chegam a assustar alguns profissionais. Há, inclusive, os que nem sequer se identificam com o termo gestor - que passou a ser usado em meados dos anos 1980, visando levar aos sistemas públicos educacionais a ideia de eficiência por metas a serem alcançadas. Sendo assim, fica a pergunta: que condições são dadas para que esse profissional exerça seu trabalho a contento? A pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC) constatou que, nas escolas que oferecem outras etapas de ensino, a Educação Infantil não recebe a devida atenção do diretor.

O ideal é que cada creche e pré-escola tenha uma pessoa presente que olhe e responda por tudo o que lá acontece. Para tanto, é preciso que as redes, além de criar o cargo, definam com clareza as responsabilidades e ofereçam meios democráticos de seleção e formação específica (leia outras recomendações no quadro abaixo).

"Definir critérios para a escolha desse profissional faz com que ele entenda melhor as tarefas que realiza e atenda às expectativas. Isso garante, por exemplo, uma tomada de decisão mais qualificada", avalia Jodete Fullgraf, professora da Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das coordenadoras locais da pesquisa.

A maneira de chegar ao cargo também é importante. Em nenhum dos municípios pesquisados, os diretores assumiram a função por meio de concurso público, pouco mais de 10,5% dos diretores foram indicados por técnicos ou políticos e quase metade (46%) declarou ter participado de uma eleição. Para Jodete, tal prática leva ao reconhecimento do diretor pelos pares e evita a nomeação de uma pessoa que desconhece a realidade da escola.

 

Foco nas dúvidas específicas

A Secretaria de Educação de Vitória realiza eleições diretas para gestor desde 1995, com mandatos de três anos. A rede oferece uma orientação inicial aos eleitos, com noções gerais sobre a função, e promove encontros ao longo do ano. Foi numa dessas reuniões que Patrícia Loureiro, diretora da CMEI Valdivia da Penha Antunes Rodrigues, foi alertada a não comprar enlatados e embutidos para melhor atender às necessidades nutricionais das crianças.

Para Jodete, o ideal é que, nos municípios em que ocorrem eleições, os interessados no cargo recebam formação em serviço sobre gestão escolar. Dos diretores entrevistados no estudo, 88,9% disseram ter participado dessas atividades nos últimos dois anos.

Em Florianópolis, os gestores frequentam reuniões mensais de quatro horas, escolhendo os temas relacionados aos problemas do cotidiano para estudar. "A maioria dos diretores foi professor, mas para aquele cargo são exigidas outras competências, como gerir pessoas e recursos financeiros", diz Marcos Abrael, diretor de administração escolar da Secretaria de Educação da capital catarinense.

Recomendações dos especialistas

Às Secretarias Municipais de Educação

  • Estabelecer mecanismos de seleção de diretores por processos democráticos, evitando que interesses políticos prevaleçam.
  • Garantir que todas as unidades de Educação Infantil municipais tenham um diretor.
  • Estabelecer medidas que permitam a continuidade da gestão e a coerência do trabalho em relação ao projeto político-pedagógico.
  • Definir as atribuições do diretor, considerando sua função articuladora entre a política municipal de Educação, os profissionais da unidade, as famílias e a comunidade.
  • Organizar cursos de formação continuada específicos para os gestores.
  • Adotar um processo de avaliação periódica do diretor, inclusive com a participação da comunidade.
Foto: Edson Chagas
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