Use cartas para promover leitura, escrita e intercâmbio cultural
Professora Débora Garofalo conta sobre um projeto que aproximou alunos de São Paulo e do interior do Espírito Santo
POR: Débora Garofalo
Entre os vários projetos que já realizei com o Ensino Fundamental I, um que sempre tem destaque especial no meu planejamento é o “Trocando cartas, uma viagem cultural entre as regiões brasileiras”. Essa é a terceira vez que realizo o trabalho com as turmas de 4º ano e resolvi colocar uma novidade: um intercâmbio entre escolas, contemplando diferentes culturas e regionalismos, trocando experiências e boas práticas sobre o processo de uso da língua.
O projeto nasceu da necessidade de trabalhar o uso social da Língua Portuguesa, uma viagem ao passado desde o Império até os dias de hoje. Nesse contexto, tratamos a evolução dos meios de comunicação, das cartas, e-mails, chats, Messenger, Telegram e WhatsApp.
A motivação do programa era aliar os currículos de Língua Portuguesa, Geografia e História em uma atividade prática e de troca entre culturas. Com isso, os alunos vivenciam a utilização do nosso idioma, refletindo sobre seu uso e avançando no desenvolvimento de leitura e escrita.
Em uma conversa com Marlucia Brandão, diretora da EMEIF Boa Vista do Sul em Marataízes (ES), em um encontro nacional de professores, ela embarcou comigo no projeto e envolveu as professoras Aliciane Orechio Nunes de Souza e Elizangela Marvila Silva de Jesus. Juntas, traçamos o plano de trabalho, respeitando as especificidades das cidades e dos estudantes:
- Conhecer e produzir textos formais e informais a partir de modelos e exemplos trabalhados em sala de aula, conhecendo as características desse gênero;
- Ler e apreciar textos literários ligados ao tema, aumentando o repertório e entendendo a estrutura do gênero a ser trabalhado;
- Promover discussão e reflexão sobre textos orais;
- Conhecer sua região (no caso, a cidade de São Paulo), reconhecendo suas características e pontos turísticos, dando ênfase a geografia e história locais, realizando ligações com a comunidade onde escola está inserida;
- Aulas externas, rodas de conversas e reconhecimento dos pontos estudados;
- Por meio da leitura das cartas recebidas, conhecer a cultura e costumes específicos do Espírito Santo;
- Desenvolver habilidades de ouvir, falar, interpretar e expressar opiniões pessoais.
Vamos às etapas:
1) Produção de cartas
Após conversa com os professores regentes da sala, identificamos as hipóteses de escrita. Iniciamos pela leitura da obra O carteiro chegou, de Janet e Allan Alhberg. O livro é cheio de cartas, postais, livros e envelopes, onde exploramos as imagens e realizamos conexões com os conhecimentos prévios dos alunos, dando novo significado à experiência e à lógica existente entre os personagens e os meios de comunicação.
Na sequência, realizamos uma roda de conversa, compreendendo como era produzida uma carta, sua intencionalidade e funcionalidade. Como as crianças sabiam que iriam escrever para outra turma de 4º ano, de outro Estado, foi necessário estabelecer um roteiro que contemplasse a sua própria história e também informações sobre a cidade de São Paulo.
Os alunos produziram a carta no computador, com o auxílio do editor de texto, aprendendo a usar a ferramenta.

2) Revisão das cartas
Para realizar a revisão, planejei uma aula em que um aluno lia a carta do outro, opinando e dando sugestões. Além disso, fizemos uma correção de forma coletiva, sanando dúvidas sobre organização do texto, estrutura coesão, coerência textual e também sobre a sintaxe. Foi bastante produtivo
3) Visita dos Correios
Convidei os Correios a virem em nossa escola para conhecer o trabalho, falar sobre sua própria história e a do selo postal. Montamos um correio móvel com caixa de postagem e sessão de pagamento do selo, permitindo a cada criança acompanhar a história e vivenciar a postagem de uma carta, escrevendo as informações de remetente e destinatário no envelope e aprendendo a lidar com o dinheiro.
Aproveitei o momento para tratar dos novos meios de comunicação, como e-mail, chat, Messenger, Telegram e whatsApp, com envio instantâneo.
4) Recebimento e leitura das cartas
As postagens foram simultâneas. Dessa forma, as crianças paulistas e as capixabas receberam as cartas ao mesmo tempo. Os alunos fizeram uma grande festa ao receber a correspondência. Depois, tiveram muito cuidado para abri-las, realizaram a leitura e trocas entre os colegas. Realizamos uma roda de conversa levantando os principais pontos abordados, como pontos turísticos, produtos, comidas típicas, costumes, hábitos e festas regionais, entre outras informações. Anotamos tudo no flip chart para pesquisar na internet e aprofundar os conhecimentos.

5) Videoconferência
Esse foi um momento muito esperado. Para organizar esse momento, foi conversado antecipadamente com as crianças sobre colaboração, cooperação e que como funciona a videoconferência. Depois, realizamos a conversa com um projetor e o Hangouts (plataforma gratuita de mensagens instantâneas e chat de vídeo). As crianças puderam trocar as informações culturais das diferentes cidades e conhecer os novos amigos.
Dessa forma, vivenciamos a escrita em situação real de uso. Além de motivador, foi muito efetivo no avanço da leitura e da escrita. Ao longo do projeto, a Marlucia, a Aliciane, a Rosangela e eu fomos também trocando as experiências e os aprendizados obtidos nas etapas do trabalho.
Foi uma experiência maravilhosa. Foi muito bom ver os olhos das crianças brilhando quando o carteiro chegou com as cartas e de ver de fato os alunos utilizando a língua em situação real. O projeto também teve foi importante ao possibilitar o acesso a diferentes tecnologias e formas de uso.
E você, querido professor(a), já realizou algum projeto assim? Conte aqui nos comentários! Compartilhe conosco as suas experiências.
Um grande abraço e até a próxima!
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