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Jornalismo

O modo de vida no meu bairro ou na minha cidade

Pornovaescola

02/09/2017

Objetivo(s) 

  • Contribuir para a construção da percepção do modo de vida, com base em elementos presentes na paisagem local.
  • Trabalhar a competência de percepção das escalas geográficas dos fenômenos que se expressam na paisagem local, mas que possuem outra abrangência.

Espera-se como desdobramento desse plano de aula que as seguintes expectativas de aprendizagem sejam alcançadas:

  • que os estudantes consigam progredir no processo de descentração espacial percebendo que seu modo de vida e sua paisagem podem se reproduzir para além de sua realidade geográfica local;
  • que os alunos percebam que no espaço local se estruturam elementos geográficos que indicam o modo de vida da sociedade;
  • que notem na paisagem local as marcas do modo de vida, mas também percebam que vários dos elementos estão presentes para além do seu lugar, o que indica que os modos de vida se estendem para além dos bairros, das cidades, para além da escala local.

Conteúdo(s) 

  • Modo de vida
  • Espaço humano e paisagem local
  • Escala dos fenômenos humanos
  • Escala geográfica dos modos de vida

Ano(s) 

3º, 4º

Tempo estimado 

2 aulas

Material necessário 

  • Atlas Geográfico, fonte para mapas do Brasil que tenham reservas indígenas demarcadas
  • fotografias de áreas indígenas
  • fotografias da paisagem de outras cidades do Brasil e do mundo, de outros bairros

Desenvolvimento 

1ª etapa 

Introdução

Depois que uma criança faz, digamos, 5 ou 6 anos, se ela ainda não vai à escola, deve ir. Em nossa sociedade, trata-se de um direito da criança e uma obrigação dos pais ou dos adultos responsáveis. O trabalho infantil é proibido. Um jovem com mais de 18 anos, se ainda não estiver estudando, deverá procurar um emprego e deverá se inserir no processo produtivo de nossa sociedade. Por vezes, mesmo ainda estudando, nessa época de sua vida, ele também trabalharará.

A vida, para nós, segue um rumo conhecido: na idade adulta as pessoas poderão constituir famílias ou não. Em geral constituem-na e continuam mantendo relações com a sua família de origem (pais, irmãos, tios, primos, avós). Onde as pessoas trabalhararão? Há muitas possibilidades, mas em geral procuramos empregos em empresas que possuem donos, que, por sua vez, ao contratar um trabalhador, devem respeitar leis. Trabalhadores recebem salários sustentam suas vidas, pagam aluguel ou compram casas, compram alimentos, sustentam seus filhos etc.

Vivemos, a maioria de nós, em cidades, em países que possuem governantes, que decidem e realizam ações que interferem na vida social e econômica. Em sociedades democráticas, esses governantes foram eleitos para fazer o que fazem, desde que dentro das leis, dentro de regras.

Leis, regras, direitos, obrigações, rumos de vida, passagem da vida infantil e da adolescência para a idade adulta, a busca do emprego, as formas de sustentação material, o processo produtivo, o patrão que emprega e obtém lucros, a ação do Estado... Em nosso mundo, o funcionamento disso tudo segue um certo padrão, que se reproduz ao longo do tempo. Mas será que era assim há 200 anos? Será que é assim em todas as partes do mundo, com todos os povos? Não, não era e não é sempre assim! Nós somos assim, esse é o nosso modo de vida, o modo de vida das sociedades contemporâneas, o modo de vida dominante no Brasil, que não necessariamente está presente em todo o território. Será que podemos construir uma descrição do modo de vida presente em nossas vidas a partir de elementos que a paisagem local de um bairro de nossa cidade apresenta? É justamente isso que será explorado nesta seqüência.

Comece provocando um contraste entre o nosso modo de vida e outro bem diferente, digamos, o de um agrupamento indígena brasileiro. Não é preciso ser especialista em grupos indígenas. Basta assinalar para os estudantes o que há de mais evidente. A seguir um pequeno roteiro:

Ver o espaço de outro modo vida

Inicialmente ofereça aos alunos um mapa do Brasil, ou algum regional, com as áreas indígenas demarcadas. Esse mapa deve ser comparado com outro que mostre as características atuais do espaço brasileiro. Mostre aos alunos que as áreas indígenas estão pouco transformadas: não há cidades, não há infra-estrutura moderna, mas há florestas, rios etc.

Além dos mapas (que são necessários como um exercício que introduz as representações cartográficas) mostre às crianças fotografias de áreas indígenas, dos aldeamentos e das paisagens locais desses lugares. O objetivo é o mesmo: que eles notem as características dominantes das paisagens locais com as quais os grupos indígenas se relacionam. Que notem o quanto essas paisagens são distintas das paisagens costumeiras da maioria dos brasileiros.

A seguir, proponha que os estudantes reflitam sobre o modo de vida indígena. Abra uma reflexão com a seguinte pergunta: como eles fazem para sobreviver em termos materiais, como se alimentam? Lançada a pergunta, organize uma lista de respostas. É provável, considerando o que os alunos já tenham ouvido falar nessa idade, que eles venham se referir à caça, à pesca, à coleta de frutos e raízes na mata, a alguma agricultura. Outra questão pode se referir às crianças: elas vão à escola? Elas vão aprender profissões diferentes da dos pais? Quais são as profissões dos pais? São diferentes entre si? Todas as respostas, por mais diversas, possivelmente terão algo em comum: os estudantes não vão afirmar que as coisas se dão numa tribo indígena do mesmo modo como se dão em nossa sociedade. Aliás, deve-se zelar para que se chegue a esse entendimento. O importante é que essas perguntas os ajudem a notar que se trata de um outro modo de vida.

O modo de vida e a paisagem local

O que fazem mesmo os indígenas adultos para sobreviver? Caçam, pescam e coletam. Caso um grupo indígena viva dessa maneira, como é a paisagem do seu lugar? Faz sentido que eles pratiquem esse modo de vida e ao mesmo tempo derrubem as florestas? Ou eles precisam que suas áreas sejam florestadas para preservar o hábitat dos animais que serão caçados? E os rios e lagos podem ser poluídos ou transformados em outra coisa? Não, de um modo geral, as condições naturais, a natureza como ela era, deve ser preservada. Não fica claro que a paisagem do espaço de um grupo indígena tem características marcantemente naturais, porque isso se harmoniza com o modo de vida indígena? Que outras relações podem ser identificadas entre as paisagens dos aldeamentos indígenas e o modo de vida ali estabelecido? Tudo o que for notado será importante. E uma questão para o final dessa aula: tudo isso não é muito diferente do nosso modo de vida? Essa paisagem também não é muito diferente da nossa?

2ª etapa 
Dirija o olhar dos estudantes para o nosso modo de vida e exercite com eles uma comparação com o modo de vida indígena trabalhado na primeira aula. Um comentário importante como elemento de desenvolvimento cognitivo, como elemento que contribui para construção de competências intelectuais: para se comparar o modo de vida indígena com o nosso é preciso que se usem os mesmos critérios de comparação, caso contrário, não será válida.
Abaixo, um quadro dos critérios e métodos utilizados para analisar o modo de vida indígena. No quadro, aparece o que se concluiu sobre os grupos indígenas e também o que se pode concluir sobre as sociedades modernas. Coloque na lousa, dialogue com os estudantes e vá preenchendo com a participação de todos. Se achar mais adequado, organize os estudantes em grupos e inicialmente peça a eles que tente preenchê-lo, para que depois se faça a compilação de um só quadro, coletivo.
 
Comparação dos modos de vida indígena x sociedade moderna
Critérios Indígena Sociedade moderna
Ver o espaço do outro modo de vida, utilizando mapas. Reservas indígenas em áreas de baixa urbanização, com pouca infra-estrutura moderna, com presença grande de cobertura vegetal. Áreas com concentração de muita gente; com cidades, com presença de infra-estruturas modernas (estradas, portos, sistemas de comunicação etc.).
Ver o espaço de outro modo de vida, utilizando fotos. Fotos mostrando aldeamentos pequenos construídos com materiais coletados na floresta, mostrando áreas florestadas no entorno etc. Paisagem natural (pouco modificado pelo homem). Fotos mostrando concentração de edifícios; edifícios diferentes; mostrando concentração de infra-estruturas; concentração de gente; paisagem artificial (feita pelo homem)
Perceber a existência de outro modo de vida, questionando. Para se alimentar os indígenas caçam e pescam; as crianças aprendem a serem adultos sem ir à escola; não há profissões distintas, todos os membros do grupo fazem a mesma coisa. Para se alimentar os membros da sociedade moderna se incluem num sistema produtivo complexo, cheio de partes; as crianças vão à escola, aprendem novas profissões; os pais têm profissões variadas.
Modo de vida e paisagem local Paisagem local pouco alterada; formações naturais como meio da prática da caça, da pesca etc. Paisagens artificiais, construídas pelo ser humano, presença de residências, presença de estabelecimentos comerciais, de edifícios escolares, de fábricas, de campos agrícolas, de infra-estruturas de transportes, etc.

Não é necessário que se chegue a uma análise muito detalhada. O importante é que os alunos notem que modos de vida diversos implicam em paisagens diferentes: cada modo de vida ? paisagem própria.

3ª etapa 

Como conclusão desse plano de aula, um outro nível de comparação entre o modo de vida indígena com o modo de vida moderno (o nosso modo de vida) pode ser feito. E ele é de crucial importância. Diz respeito à escala geográfica de alguns fenômenos que marcam muito as paisagens locais.

Selecione algumas fotos de lugares diferentes do mundo. De cidades diferentes, por exemplo. A idéia é pedir para que os estudantes, em grupo de até 4 alunos, comparem uma foto do seu bairro ou de sua cidade com a de outra cidade qualquer do mundo (comparar fotos é comparar paisagens). A mesma atividade pode ser feita com paisagens rurais. Pode-se pedir que ponham a atenção em alguns aspectos:

a) na concentração do casario;
b) na organização do sistema viário (ruas, avenidas);
c) na presença de elementos da vida econômica (comércio, fábricas, escritórios);
d) na presença de edifícios de órgãos públicos e de serviços (sedes de governo, hospitais, escolas etc.).

O ideal seria que um grupo procurasse na foto da paisagem local (do bairro e da cidade) esses elementos e os descrevesse. Um outro grupo ficaria com a análise da foto de uma outra cidade (do Brasil). Outro, com uma cidade de um país da América do Sul. A idéia é que se varie bastante. Como poderia ser a descrição? Bem simples: estamos vendo casas baixas, casas pequenas, edifícios em altura, uma lanchonete etc.

O efeito que se espera é que os alunos terminem percebendo que as paisagens das diferentes cidades têm todas as marcas nas suas paisagens do mesmo modo de vida que o nosso. Que, de certo modo, em termos gerais, a nossa paisagem local se repete em várias localidades do mundo. O nosso modo de vida tem uma escala geográfica maior do que nossa realidade local. É sempre importante dar acesso ao mundo à criança no início de sua escolarização e indicar que certas coisas vão para além de seu espaço. É fundamental essa descentração espacial, uma ampliação da visão de espaço que é ao mesmo tempo uma ampliação cognitiva.

Comparando-se com o modo de vida indígena quantas realidades como as das áreas indígenas no Brasil existem? Quantos grupos sociais praticam aquele mesmo modo de vida? É algo parecido com o nosso que se espalha pelo mundo?

Avaliação 

Nesse ciclo da escolarização já ficou estabelecido que a avaliação se dá no processo. Várias atividades sugeridas nesse plano de aula vão permitir isso. O importante é ter claro quais devem ser as expectativas de aprendizagem. A mais geral e fundamental é a questão da descentração espacial. Não é algo que se constrói num único plano de aula, ao contrário é uma construção lenta e paciente, mas é preciso avaliar o progresso dessa aquisição. Quer saber mais? BIBLIOGRAFIA A cartografia escolar, Rosangela Doin de Almeida (Org). São Paulo, Contexto, 2007, 224 págs. A questão indígena na sala de aula: subsídios para professores de 1º e 2º graus, Aracy Lopes da Silva (Org). São Paulo, Brasiliense, 1987, 253 págs.    

Créditos: Jaime Oliva Formação: Professor de Geografia

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