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Jornalismo

Objetivo(s) 

– Perceber os fundamentos de algumas representações da escravidão no Brasil, com base no trabalho de três pintores/gravuristas: Debret, Rugendas e Paul Harro-Harring.

Conteúdo(s) 

– Escravidão no Brasil.
– Representações ideológicas e artísticas da escravidão.

 

Leia também: Educação Antirracista: como desenvolver projetos nos Anos Iniciais do Fundamental?

Ano(s) 

4º, 5º

Tempo estimado 

04

Material necessário 

Cópias da reportagem "O cais dos escravos" (Veja, Ed. 2230, 17 de agosto de 2011) para todos os alunos; imagens dos quadros "Mercado da Rua do Valongo", do francês Jean-Baptiste Debret (disponível em http://abr.io/debret); "Mercado de Escravos", do alemão Johann-Moritz Rugendas (disponível em http://abr.io/rugendas) e "Cena de Abertura de uma Venda Pública de Negros”, de Paul Harro-Harring (parte do acervo do pintor dinamarquês pode ser vista no Instituto Moreira Salles, em São Paulo: http://abr.io/harring).

Este plano de aula está ligado à seguinte reportagem de VEJA:

Desenvolvimento 

1ª etapa 

Introdução
A reportagem “O cais dos escravos”, de Veja, mostra que as obras para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro estão trazendo à superfície estruturas remanescentes do cais do Valongo, que já foi o maior porto de escravos do mundo. Este é um bom mote para você usar o texto, algumas obras de artistas do século 19 e este plano de aula como bases para falar sobre a escravidão no Brasil com a turma.

Desenvolvimento
Comece contando aos alunos que as próximas duas aulas serão sobre as impressões que a escravidão no Brasil causava em alguns artistas estrangeiros.

Pergunte aos estudantes o que eles sabem sobre a escravidão no Brasil: quanto tempo durou, como funcionava o tráfico de escravos e quantos negros eles imaginam que tenham chegado ao país para serem escravizados.

Em seguida, distribua as cópias da reportagem de Veja para todos os alunos, peça que leiam silenciosamente e destaque o fato de que, segundo a revista, o Brasil importou 4 milhões de escravos africanos entre os anos de 1758 e 1831.

Antes de iniciar uma discussão com a classe, lembre que a maioria dos fenômenos sociais gera representações ideológicas a seu respeito – algumas favoráveis, outras desfavoráveis e outras que se propõem a interpretar os fatos com uma postura neutra. Conte que essas representações sobre a escravidão no Brasil não se deram de uma única maneira: artistas e escritores que testemunharam o cotidiano dos escravos registraram-no em suas telas e em seus textos. O modo como abordaram a escravidão, contudo, variou segundo a perspectiva ideológica e a sensibilidade de cada um.

As criações de três artistas estrangeiros que estiveram no Brasil no século 19 – Jean-Baptiste Debret, Johann-Moritz Rugendas e Paul Harro-Harring – são bons pontos de partida para abordar essa questão.

Inicie contando à turma que Debret, Rugendas e Harro-Harring retrataram o Brasil de formas distintas em suas obras. Lembre, também, que são desses artistas algumas das pinturas e gravuras mais conhecidas sobre a escravidão.

Na sequência, mostre as imagens dos quadros indicados em “materiais necessários” neste plano de aula e peça aos alunos que façam uma pesquisa em casa sobre os três pintores, para que tenham acesso a mais obras de cada um deles.

Para orientar a investigação dos alunos, forneça alguns elementos sobre os três artistas. Explique que Jean-Baptiste Debret (1768 - 1848) foi um pintor e desenhista francês que integrou a chamada Missão Artística Francesa (1816), responsável por fundar, no Rio de Janeiro, a Academia Imperial de Belas Artes (leia mais a respeito em http://abr.io/aiba). De volta à França (1831) ele publicou o livro “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século 19.

Rugendas, por sua vez, visitou duas vezes o Brasil: de 1821 a 1824 e depois, em 1845. O exotismo tropical também o fascinou, mas ele procurou manter certo distanciamento em relação a uma possível “visão oficial” do Império sobre a realidade brasileira.

Registrou cenas de impacto – como o interior de um navio negreiro, os castigos sofridos pelos escravos e um arrogante capitão-do-mato, caçador de escravos fugidos. Ele também pintou manifestações culturais de origem africana, como a capoeira, o batuque e o lundu.

Finalmente, Paul Harro-Harring veio ao Brasil em 1840, para escrever reportagens para o jornal londrino The African Colonizer sobre o combate ao tráfico de escravos. Voltou à Europa meses depois. Suas imagens são mais militantes, refletindo suas convicções abolicionistas. Acrescente que quando Harro-Harring chegou ao Brasil, o tráfico de escravos estava proibido desde 1831, embora a lei fosse abertamente ignorada.

Explique aos estudantes que as informações da pesquisa serão utilizadas em um debate sobre a escravidão africana no Brasil na próxima aula.

2ª etapa 

Inicie a aula mostrando novamente as imagens dos três quadros aos alunos e estimule o debate sobre a escravidão no Brasil, com base na reportagem de Veja e nos conceitos apresentados na aula anterior. Peça aos alunos que contem quais foram as semelhanças e diferenças que encontraram nos quadros e na pesquisa e anote as principais observações no quadro.

Com base nas informações listadas, proponha que os estudantes identifiquem a posição dos pintores: há artistas que parecem favoráveis à escravidão? E há artistas que parecem contrários?

Sugira o exame da postura e da expressão facial dos personagens das produções de Debret, Rugendas e Harro-Harring. Observe que os escravos pintados pelo francês apresentam expressões mais "leves", cotidianas, enquanto muitas figuras dos artistas alemão e dinamarquês claramente transmitem revolta. Na opinião da turma, essa diferença pode ser atribuída à perspectiva abolicionista de Harro-Harring ou à visita tardia de Rugendas ao Brasil, com relação à passagem de Debret?

Esclareça que, provavelmente, alguns africanos viam a escravidão como algo inevitável, enquanto outros se rebelavam (o que pode originar algumas diferenças de representação nas obras). Isso remete a outra questão, sobre as formas de resistência dos escravos. Muitos historiadores admitem que, além das ações coletivas - como a rebelião nas fazendas e a fuga para os quilombos, houve uma resistência individual, com a redução deliberada do ritmo de trabalho e até a sedução dos senhores de escravos.

Depois de ouvir as opiniões dos alunos a respeito das obras dos três pintores, exiba novamente a tela de Debret e debata com a turma: o modo como Debret retratou a escravidão brasileira pode ser atribuído à condição de membro da Missão Artística Francesa e, portanto, de artista próximo à Corte?

Lembre que Debret esteve no Brasil entre 1816 e 1831, quando não apenas a escravidão, mas também o tráfico de africanos eram atividades legítimas.

Para apoiar e esclarecer a discussão, leia com a turma o excerto escrito pelo crítico de arte Rodrigo Naves. Antes, porém, lembre a turma de que Debret foi um pintor neoclássico, habituado a fazer pinturas épicas e históricas na França. Quando veio ao Brasil e se deparou com a nossa realidade, mudou radicalmente seu jeito de pintar. Nas palavras do crítico:

"Não resta dúvida de que Debret teve uma preocupação documental acentuada. Poucos aspectos da cidade do Rio de Janeiro fugiram à sua observação. O cotidiano de escravos e homens livres, de brancos pobres e aristocratas, as festas reais, pontos geográficos, monumentos, frutos, plantas e animais receberam dele uma atenção detida. No entanto, uma parcela significativa de seus desenhos - principalmente os que envolvem as atividades dos negros de ganho no Rio de Janeiro - tem, por assim dizer, uma dimensão a mais, que confere uma nova realidade às cenas e objetos representados. Nessas aquarelas Debret incorpora uma dinâmica social típica do Rio de Janeiro, e apenas um ponto de vista que vá além do aspecto puramente documental poderá revelar o quanto essa mudança formal do seu trabalho [o Debret “neoclássico” da França em contraponto às obras produzidas no Brasil] proporcionará não somente ganhos artísticos, como também uma melhor compreensão da vida da colônia".

Finalize a aula pedindo aos alunos que produzam desenhos (retratos) comparando as visões dos três pintores a respeito da escravidão no Brasil. Não se esqueça de lembrar que os três artistas passaram pelo Brasil em momentos diferentes e com intenções diferentes. Peça que analisem as expressões faciais dos negros nas pinturas, as cores utilizadas e o tipo de cena retratada pelos artistas.
 

Avaliação 

As atividades vão mostrar que o discurso abolicionista era bem mais articulado que o dos escravistas, talvez por ter os "ventos da história" a seu favor.

O aspecto decisivo é que os alunos consigam constatar, por meio da pesquisa, das discussões em sala e da produção de texto, que as duas posições tiveram papeis importantes para a construção da história do Brasil. Isso, com enfoque especial nas representações ideológicas (como a crítica militante do abolicionista Harro-Harring) presentes nas obras dos três pintores do cotidiano do escravo.

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