Literatura na escola - 8º ano: Texto teatral de Dias Gomes
Pornovaescola
02/09/2017
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Jornalismo
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02/09/2017
Estimular o gosto pela leitura;
desenvolver a competência leitora;
desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico;
estabelecer relações entre o lido/vivido ou conhecido (conhecimento de mundo);
conhecer as características do gênero dramático.
Diferenças entre Épica, Lírica e Dramática;
Características do gênero dramático;
Sincretismo religioso.
6º, 7º, 8º, 9º
Oito aulas
- Livro O pagador de promessas. A. Dias Gomes. 176 págs.Ed. Bertrand Brasil, tel (21) 2585-2000, 29 reais
- Se possível, computador ligado à internet
Antecipação/Motivação/Sensibilização
Lance a pergunta à classe:
- Você já ouviu falar do autor Dias Gomes? Conhece alguma obra que ele escreveu?
Apresente o autor à turma.
Dias Gomes
A obra "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes, recebeu sete prêmios de Teatro, desde sua estreia em 1960 no Teatro Brasileiro de Comédia. Essa obra é mundialmente conhecida em sua versão cinematográfica, dirigida por Anselmo Duarte, que recebeu nove prêmios nacionais e internacionais, dentre eles a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1962.
Seu autor, Alfredo de Freitas Dias Gomes, destacou-se na Literatura como dramaturgo, escrevendo "A invasão", "O Santo Inquérito", "As primícias" e "O Rei de Ramos", mas se popularizou como autor de telenovelas e como esposo da "rainha" da teledramaturgia brasileira, Janete Clair. "O bem-amado" e "Roque Santeiro" são as telenovelas mais famosas de Dias Gomes. A obra que o imortalizou em nossa Literatura, sem dúvida alguma, é "O Pagador de Promessas".
http://www.ces.uc.pt/lab2004/programa/resumo_sessao/resumo9_4.html
Se tiver acesso à internet, mostre à turma o trailer do filme de Anselmo Duarte, cenas da minissérie televisiva de 1988 ou o trecho inicial de uma montagem para o teatro.
Leia com os alunos a primeira parte do texto teatral O pagador de promessas esclarecendo as possíveis dificuldades sobre o enredo ou as características do gênero dramático.
Gênero dramático
Em aula expositiva dialogada, explique à turma as diferenças entre os gêneros lírico, épico e dramático. Esclareça que o texto dramático é um texto "incompleto", pois que feito para ser encenado no teatro. Use o trecho lido na aula anterior para exemplificar as características do gênero.
Segundo Anatol Rosenfeld (O teatro épico. Ed. Perspectiva, col. Debates)
"...Pertencerá à Lírica todo poema de extensão menor, na medida em que nele não se cristalizarem personagens nítidos e em que, ao contrário, uma voz central - quase sempre um ¿Eu¿ - nele exprimir seu próprio estado de alma. Fará parte da Épica toda obra - poema ou não - de extensão maior, em que um narrador apresentar personagens envolvidos em situações e eventos. Pertencerá à Dramática toda obra dialogada em que atuarem os próprios personagens sem serem, em geral, apresentados por um narrador. (...)
... na Dramática (de pureza ideal) não há mais quem apresente os acontecimentos: estes se apresentam por si mesmos, como na realidade; fato esse que explica a objetividade e, ao mesmo tempo, a força e intensidade do gênero. A ação se apresenta como tal, não sendo aparentemente filtrada por nenhum mediador. Isso se manifesta no texto pelo fato de somente os próprios personagens se apresentarem dialogando sem interferência do ¿autor¿. Este se manifesta apenas nas rubricas que, no palco, são absorvidas pelos atores e cenários."
Como lição de casa, peça que os alunos leiam o segundo ato da peça.
Escolha um aluno para interpretar as falas de cada personagem envolvido na segunda parte de O pagador de promessas. Realize com a turma uma leitura dramática do texto lido anteriormente em casa.
Grosso modo, podemos definir a Leitura Dramática como uma peça de teatro lida em voz alta para uma plateia. Ela se situa entre o teatro enquanto gênero literário autônomo e a encenação propriamente dita.
Como lição de casa, peça aos alunos que leiam o terceiro ato da peça.
Realize com a turma a leitura dramática do terceiro ato aproveitando para esclarecer as últimas dúvidas dos alunos.
O pagador de promessas - comentário
Pergunte à classe do que fala a peça. Em aula expositiva dialogada, discuta as respostas com a turma e, em seguida, apresente os dois grandes eixos temáticos da obra de Dias Gomes.
Podemos localizar na peça dois grandes eixos temáticos:
1. O sincretismo religioso das camadas populares (que se contrapõe à intolerância do padre e dos membros do clero),
2. A oposição campo / cidade (figurada na ingenuidade de Zé-do-burro em contraposição à "malandragem" dos habitantes da cidade.)
Conte à turma um pouco da origem do sincretismo religioso no Brasil. Se for possível, convide a professora de história para fazer esta apresentação.
A partir do século 15, inicia-se uma das maiores migrações forçadas da história da humanidade, na qual milhões de africanos que haviam sido capturados em seus territórios ancestrais (...) foram levados para o litoral e vendidos como escravos para os europeus e brasileiros em portos específicos na África e trazidos nessas condições para o Brasil.
(...) Assim que chegavam ao Brasil, os africanos escravizados eram logo submetidos à aculturação portuguesa, traduzida principalmente na catequese católica: eram batizados e recebiam um nome "cristão", pelo qual seriam conhecidos a partir daquele momento.
Assim como os tupis, os africanos também tentando preservar suas tradições religiosas no Brasil, adaptaram suas crenças às condições de escravidão a que estavam submetidos. A principal forma encontrada por eles, como foi feito também pelos tupis décadas antes, foi associar os santos católicos aos seus deuses (...) de acordo com as características ou arquétipos que ambos possuíam em comum.
(...) É importante ressaltar que, apesar dessa tolerância, os aspectos ritualísticos do Calundu ligados à magia e a incorporação de espíritos eram frequentemente combatidos por serem considerados coisas malignas, surgindo daí a expressão magia negra para designar a magia voltada para o mal, que na mentalidade da época era "coisa de negro".
Ao longo dos séculos XVII e XVIII cresce consideravelmente o número de cidades em todo o país. Devido a esse fato, surge uma situação completamente nova em todo o território colonial: o aumento do número de negros e mulatos alforriados, livres, e de escravos circulando com relativa liberdade nessas áreas urbanas. A partir das residências desses negros e mulatos livres, localizadas em sua grande maioria em casebres e cortiços, as manifestações religiosas de origem africana encontraram condições mínimas para se desenvolverem. Nessas casas, os afrodescendentes poderiam realizar suas festas com certa frequência, construírem e preservarem seus altares com os recipientes consagrados aos seus deuses.
É nessas residências que surge, em fins do século XVIII e início do século XIX, uma nova manifestação sincrética brasileira, que ficou conhecida na Bahia como CANDOMBLÉ.
http://jorgebotelho.spaces.live.com/Blog/cns!957924DACBFCF689!574.entry?sa=533574942
O pagador de promessas - análise
Divida a sala em grupos de três ou quatro alunos e peça que cada grupo responda por escrito a uma dessas perguntas:
1. Zé-do-Burro vê diferença entre Iansan e Santa Bárbara? Por quê?
2. Quais personagens partilham da crença de Zé-do-Burro sobre Iansan e Santa Bárbara e quais não compartilham? Por quê?
3. Por que Zé-do-Burro não compreende os motivos que levam o padre a impedi-lo de cumprir sua promessa?
4. Por que o padre considera Zé-do-Burro um enviado do demônio?
5. Por que Zé-do-Burro, mesmo tendo feito a promessa em um terreiro de candomblé, recusa-se a cumpri-la no terreiro de Menininha, como sugere Minha Tia?
6. Que características de Zé-do-Burro permitem que Bonitão, o Repórter e o Galego tentem tirar proveito dele?
7. Por que os capoeiras entram na Igreja com o corpo de Zé-do-Burro sobre a cruz?
Peça que cada grupo apresente brevemente sua resposta e discuta cada uma com o resto da sala.
Zé-do-Burro possui uma religiosidade sincrética típica das camadas populares da Bahia. Para ele, como para Minha Tia e os capoeiras, Iansan e Santa Bárbara são a mesma entidade, uma vez que a imagem é a mesma para ambas.
Para o padre e o Monsenhor, adeptos do catolicismo, o sincretismo religioso não deve ser tolerado. Herdeiros das concepções europeias trazidas pela colonização portuguesa, consideram os cultos afro-brasileiros coisas "do demônio".
Zé-do-Burro não compreende os motivos do padre, pois fez a promessa para a imagem de Santa Bárbara, que para ele é Santa Bárbara, não importando se esteja no candomblé ou na igreja. Sitiante humilde e sem estudo, Zé-do-Burro estabelece suas relações com os santos com base nas referências que possui: entende promessas e graças como transações comerciais. "Não, nesse negócio de milagres, é preciso ser honesto. Se a gente embrulha o santo, perde o crédito. De outra vez o santo olha, consulta lá os seus assentamentos e diz: - Ah, você é o Zé-do-Burro, aquele que já me passou a perna! E agora vem me fazer nova promessa. Pois vá fazer promessa pro diabo que o carregue, seu caloteiro duma figa! E tem mais: santo é como gringo, passou calote num, todos os outros ficam sabendo."
Por ter prometido a Santa Bárbara que carregaria a cruz até sua igreja, Zé não aceita entregá-la no terreiro de Menininha, pois teme que a promessa fique "mal cumprida".
Habitante do campo, Zé-do-Burro, em sua ingenuidade, torna-se despreparado para enfrentar a malícia dos habitantes da cidade. Os códigos culturais não são os mesmos, resultando daí que nem Zé compreende o Padre, Bonitão e o Repórter, nem esses compreendem suas razões. O choque cultural termina em morte e Zé-do-Burro finalmente entra na igreja sobre a cruz, como um mártir que morreu em nome de sua fé.
1- Assista com os alunos ao filme de Anselmo Duarte, disponível para download em: 2- Peça, como lição de casa, que o aluno responda às seguintes questões: a- O que da peça se manteve no filme e o que mudou? b- Como o filme figura o sincretismo religioso?
Créditos: Helena Weisz Formação: Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP) Créditos: Regiane Magalhães Boainain Formação: Mestre em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP)
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