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Jornalismo

Chega de culpar quem veio antes

Não adianta se esquivar. Na escola, a aprendizagem dos alunos é responsabilidade de todos!

PorMara Mansani

01/08/2016

Depois de problemas no trânsito, cheguei uns minutinhos atrasada na escola. Mas fiquei tranquila quando vi que meus alunos estavam bem acompanhados: Dona Maria, a funcionária responsável pela limpeza, estava cantando e lendo o alfabeto com eles, fazendo do mesmo jeitinho que eu iniciava minhas aulas. Agradeci, dei um abraço e ri com ela.

Dona Maria, sempre tão sábia, espalha carinho e otimismo por onde passa. Sempre tem uma explicação para as dúvidas, relembra ensinamentos para a vida, dá orientações sobre higiene ou traz um conselho para o bem-viver. Que educadora nota 1.000!

Essa cena me fez pensar que não podemos restringir a apenas um professor a tarefa de alfabetizar. O processo de aprender a ler e a escrever é muito complexo! Envolve professores, equipe gestora, demais funcionários da escola, família e governo. Depende de políticas públicas, investimentos financeiros, boa vontade e muito, muito mais.

Quando pensamos especificamente no ambiente escolar, vejo um cenário assim: os professores do 1° ano do Ensino Fundamental culpam os da Educação Infantil pelo fato de os alunos não estarem “preparados” ou “nem saberem o alfabeto”. Os educadores do 2° ano responsabilizam os antecessores questionando “como os estudantes ainda não sabem escrever?!”. Os professores do 3° ano reclamam do trabalho dos colegas do 2° ano afirmando “não acredito que esses alunos não leem com autonomia!”. Depois, a equipe do Ensino Fundamental 2 culpa a do Ensino Fundamental 1. As famílias culpam a escola. Nós devolvemos responsabilidade à família. E assim seguimos nessa ladainha sem fim!

Durante muitos anos, concordei com essas afirmações e fiz coro para o falatório. Mas o fato é que estamos juntos nesse barco, que a alfabetização é processo que se dá ao longo de anos, é base da Educação dos alunos e responsabilidade de todos nós. Se há problemas na aprendizagem, encontrar soluções também é dever e necessidade urgentes. Coletivamente, essa tarefa fica menos pesada.

Na escola em que leciono, os alunos são nossos, de todos da equipe, e não de uma turma ou outra. Mantemos constante e vivo o diálogo sobre a trajetória de aprendizagem das crianças, seus avanços e dificuldades. E isso é sempre enriquecido e orientado pela nossa coordenadora pedagógica, Valéria, com apoio da equipe gestora e de todos funcionários (incluindo a Dona Maria, claro!).

As dificuldades de um dos profissionais são superadas em conjunto, seja com uma sugestão de prática pedagógica ou uma palavra motivadora, uma conversa com os pais, um replanejamento de ações e muito mais. Esse ambiente solidário nos faz muito bem. Entre muito estudo e planejamento, cultivamos momentos felizes e tranquilos.

Quanto à participação dos pais na aprendizagem dos filhos, podemos e ainda precisamos avançar nessas relações. Mas já demos um passinho: oferecemos um canal de permanente diálogo, propondo sempre a parceria para uma boa aprendizagem dos nossos alunos, o que normalmente dá certo!

Por isso, fico segura em afirmar: cada um tem seu papel, mas todos podem ser educadores no sentido de formar uma escola unida e forte. Imagine o potencial que temos de transformar nossas realidades para melhor, reivindicarmos direitos, combatermos absurdos, nos unirmos pela Educação de qualidade? Como dizia Chico Buarque, na divertida e reflexiva obra infantilOs Saltimbancos, “Todos juntos somos fortes!”. Dessa forma, cai por terra um pensamento tão difundido de que: “ a escola deve se encarregar, sozinha, do processo educativo.”

E na sua escola, todos colaboram? O que está dando certo? O que precisa melhorar? O ambiente é de solidariedade?

Deixe seu comentário, conte a sua experiência!

Ainda em tempo: agradeço pela participação de todos no bate-papo sobre alfabetização com a coordenadora Leninha Ruiz, do blog Coordenadoras em Ação. Conversamos ao vivo, no Facebook da Nova Escola, e foi tão bacana que ficamos quase uma hora por lá respondendo às perguntas que vocês mandaram. Para quem perdeu, dá para ver a gravação na íntegra, clicando aqui. Foi muito bom!

Muito obrigada a todos e beijos!

Mara Mansani

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