Para começar
Sobre os planos de Educação Financeira
A Educação Financeira integra a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como um dos temas transversais que deve ser explorado e trabalhado concomitante aos demais componentes curriculares. De acordo com a Base, a Educação Financeira não deve se restringir ao ensino cru de Matemática. “Essa unidade temática favorece um estudo interdisciplinar envolvendo as dimensões culturais, sociais, políticas e psicológicas, além da econômica, sobre as questões do consumo, trabalho e dinheiro”. Pretende-se, com os planos de Educação Financeira, fazer os estudantes refletirem sobre ações individuais e coletivas que podem impactar sua vida e a da sociedade.
As orientações deste plano não devem ser apresentadas aos estudantes, pois elas detalham as ações e trazem mais subsídios para que você, professor, se organize melhor para a realização da aula.
Os planos de Educação Financeira têm o objetivo de promover um trabalho inter e transdisciplinar, já que as habilidades destacadas para cada componente curricular se correlacionam com o tema transversal.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018a.
Ação prévia
Antes da aula, é importante solicitar aos estudantes que tragam alguns objetos de casa. Essa escolha não precisa necessariamente ser pautada em algum critério, no entanto, eles devem ser orientados a trazer objetos simples que possuem em casa: um brinquedo, um artigo escolar, uma embalagem, entre outros.
O professor também deve separar materiais que servirão de apoio para a caixa dos desejos. Deixamos como sugestão: lápis, caixa pequena de papelão, foto de um ponto turístico, garrafinha squeeze ou similar, copo descartável, toalha de mão, livro ou caderno. Acrescente nessa lista outros materiais que tenham representatividade no dia a dia das crianças, que sejam comuns na região em que atua e que sejam compostos a partir de recursos diferentes, como plástico, papel e metal. A eficácia na utilização não é uma preocupação nesse momento. Quanto mais variada, mais significativa a atividade será.
Organize esses materiais em uma caixa, compondo o que vamos chamar de “caixa dos desejos”.
Para se aprofundar
Falar de consumismo com crianças? Será que elas são ou se tornam consumistas?
Para refletir um pouco mais sobre o assunto, recomendamos a leitura do artigo disponível em: https://criancaeconsumo.org.br/consumismo-infantil/
Orientações iniciais para o professor
Tempo sugerido:
50 minutos de aula.
Para o desenvolvimento deste plano de aula, indicamos o uso dos seguintes materiais:
- Caixa para colocar os objetos.
- Objetos compostos por materiais diversos. Considerar quatro objetos (mínimo) por grupo. Sendo assim, para cinco grupos a caixa deve ter no mínimo 20 objetos produzidos em materiais diferentes (papel, metal, vidro, papelão, entre outros). Caso tenha mais estudantes, considere o uso de mais materiais.
- Tabela 1 para atividade em grupo (pode ser compartilhada na aula, registrada na lousa ou providenciada com antecedência para registro dos grupos).
- Uma foto do entorno da escola com acúmulo de resíduos, água contaminada ou problemas ambientais que propiciem a reflexão sobre o comportamento humano e o descarte inadequado de materiais.
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Contexto
Tempo sugerido: 15 minutos.
Orientações
Para otimizar o tempo da aula, organize os estudantes em grupos de até cinco integrantes, coloque a caixa dos desejos na frente da sala com todos os objetos trazidos pelos estudantes e por você dentro. É importante que eles não vejam os objetos e que o sorteio, utilizado como disparador da atividade, realmente seja surpresa.
Com a turma já organizada, siga para o desenvolvimento da atividade.
O que propor?
A proposta deve começar com a caixa dos desejos. Explique aos estudantes que na caixa temos vários objetos e que cada grupo deverá sortear até quatro itens e levá-los para a mesa. Os estudantes devem ser convidados a sorteá-los, sem escolher o que está na caixa. Se achar necessário, pode vendê-los.
Considere a organização de cinco grupos e, assim, para quatro objetos por grupo a caixa deverá ter, no mínimo, 20 objetos, compostos por diferentes materiais.
Com todos os grupos contemplados pelo sorteio, peça a eles para observar os objetos e, em seguida, questione-os sobre a necessidade, o desejo e a própria utilidade do material. Você pode usar como questões disparadoras:
- O que nos leva a precisar muito de algo?
- O que nos leva a querer algo?
- Será que tudo o que temos aqui nessa caixa atende às necessidades de todas as pessoas da turma?
- Tem algo que não seria tão útil no nosso dia a dia, mas que gostaríamos de ter?
Realize a mediação das discussões, possibilitando que compreendam a diferença entre precisar de algo e ter vontade de ter algo, independente da função ou utilidade que esse objeto tem no nosso dia a dia.
Avance nas construções e questione-os, agora de maneira mais específica, sobre os materiais que possuem nas mesas.
- Dos materiais que vocês sortearam, de qual ou de quais vocês precisam, e quais vocês, embora não precisem, gostariam de ter?
Informe-lhes que terão em torno de cinco minutos para discutir, agrupar os materiais e preencher a primeira e a segunda coluna da Tabela 1.
Com a tabela preenchida, passe para o segundo momento da aula.
Sugestões de adequação
Caso tenha dificuldades na captura de objetos reais, eles podem ser substituídos por imagens. Atente-se apenas para que sejam apresentadas aos estudantes com materiais adequados, que exista a possibilidade de reaproveitamento e que não evidenciem desperdício de papel. Se for possível, elas também podem ser compartilhadas com recursos multimídias.
Problematização
Tempo sugerido:
20 minutos.
Orientações
Certifique-se de que todos os grupos conseguiram reunir os materiais separando algo que gostariam de ter por necessidade e algo que gostariam, mas sem necessidade. Só então inicie a etapa de problematização que busca estabelecer uma relação com o uso dos materiais, o recurso com o qual ele é produzido e seu descarte inadequado. Na mediação, considere a reflexão inicial sobre querer algo e de fato precisar de algo. A intencionalidade desse momento deve possibilitar aos estudantes refletir sobre as consequências de suas escolhas. Nessa etapa os grupos devem preencher as demais colunas da tabela, considerando matéria-prima e custo de cada objeto. A ideia não é estabelecer um valor exato para cada item, mas pensar que muitas vezes investimos em produtos com durabilidade pequena, sendo necessário um gasto a mais para novas aquisições. Tudo isso demanda exploração de recursos naturais em um ciclo altamente prejudicial para todos.
O que propor?
Apresente a imagem do entorno da escola ou de um problema ambiental relevante na região e que tenha relação com o descarte inadequado de materiais.
Pergunte aos estudantes:
- Um lugar assim causa prejuízos? Por quê?
- Como esses materiais foram parar nesse local? O que vocês acham que fez com que as pessoas jogassem tudo dessa forma?
- Dos materiais que vocês possuem no grupo, quais vocês encontrariam facilmente nesse local?
- Por que será que isso acontece?
Possibilite aos grupos que discutam e busquem, coletivamente, respostas para esses questionamentos.
Amplie as reflexões considerando agora a composição dos materiais. Você pode usar o seguinte questionamento:
- A maioria dos materiais descartados é formada a partir de qual recurso natural?
- Será que a composição do objeto interfere em sua durabilidade? E no seu custo?
Possivelmente, considerando a faixa etária das crianças, eles podem mencionar plástico, vidro, metal ou papel, mas não o recurso natural em si. Caso isso aconteça, você não precisa antecipar-se e explicar o ciclo produtivo desde a extração da matéria-prima, essas considerações podem ser feitas na sistematização e aprofundadas em aulas posteriores.
Após ouvi-los, peça para preencherem as duas últimas colunas da tabela e estabeleça cinco minutos para que os grupos possam concluí-la.
Explique aos estudantes que na última coluna a quantidade de “$” representa um custo maior ou menor e não necessariamente o valor final de cada item.
Durante o preenchimento, circule pelos grupos realizando a mediação das discussões sem intervir nas respostas dos estudantes.
Sugestões de adequação
Caso os materiais não sejam diversificados de maneira suficiente para disparar as discussões, peça aos estudantes que analisem a imagem do local com descarte inadequado e preencham a tabela considerando o que imaginam que encontrariam com maior frequência no local. A intencionalidade dessa etapa é perceberem do que os materiais são feitos e que, além disso, existe um custo para a produção que vai desde a exploração do recurso até seu consumo e seu descarte.
Sistematização
Tempo sugerido:
10 minutos.
Orientações
Nessa etapa os grupos devem apresentar os resultados do preenchimento da tabela.
Enquanto apresentam, organize as informações tabulando os dados e considerando:
- Tipo de material (plástico, metal, vidro, papel ou outro).
- Recurso natural (madeira, petróleo, areia, alumínio, entre outros).
- Custo, considerando a quantidade de “$” sinalizada pelos estudantes.
Essas anotações são importantes para a sistematização da aula e a organização das aprendizagens construídas.
O que propor?
Diga-lhes que cada grupo tem um minuto para apresentar a tabela.
Anote as informações considerando o tipo de material, o recurso e o custo sinalizado por cada grupo.
Ao concluírem as apresentações, caso não tenha aparecido especificamente o recurso natural, questione-os:
- Vocês sabem de onde vem o plástico?
-E se o petróleo acabar, como o plástico poderá ser produzido?
Pode ser que alguma criança mencione produções alternativas feitas a partir de vegetais, por exemplo. Nesse caso você pode evidenciar a necessidade de uma produção alternativa, exatamente pela escassez do recurso natural que não é fonte inesgotável para exploração.
Você pode seguir com a mesma lógica de questionamento, considerando outros objetos presentes na turma.
Dialogue com eles sobre os custos, os investimentos necessários para a produção e toda a logística até chegar em nossas casas. Selecione um dos objetos com baixa durabilidade e custo alto para que os estudantes percebam que pagamos por tudo o que consumimos e grande parte desses materiais é descartada indevidamente em locais como o mostrado na foto anterior.
Mostre aos estudantes as anotações que foram feitas e os materiais que poderiam ser utilizados de outra forma e questione-os se tudo que consumimos é por que precisamos ou por que queremos.
Com as considerações feitas, organize um registro coletivo a partir do texto lacunado disponível no Anexo 1.
Sugestões de adequação
Caso perceba a dificuldade em relacionar os recursos naturais usados como matéria-prima para cada objeto, você pode fazer um banco de dados com essas informações e permitir que os estudantes investiguem e relacionem com os objetos da caixa de desejos a partir dele.
O que aprendemos?
Tempo sugerido: 5 minutos.
Orientações: Como fechamento da aula, mas não do assunto, oriente a turma a refletir sobre o texto lacunado disponível no Anexo 1.
O que propor?
Solicite aos estudantes que reflitam, a partir do texto organizado na etapa anterior, sobre a seguinte questão:
Quais os impactos que nossos padrões de consumo podem trazer para o meio em que vivemos?
Os grupos devem analisar a organização do texto e a tabela que preencheram, para reorganizar as informações que acharem necessárias com base nas discussões feitas ao longo da aula.
Solicite aos estudantes que respondam coletivamente:
Nossas escolhas, os padrões de consumo que temos e toda produção de objetos, que nem sempre são necessários, interferem nos impactos causados no meio ambiente?
Sugestões de adequação
Caso não seja possível a distribuição do texto para a turma desenvolver a atividade, desenvolva a proposta coletivamente, com as ideias sendo compartilhadas por você e organizadas pela exposição oral dos estudantes.