A Amazônia ganha com a divisão do Pará?
Pornovaescola
02/09/2017
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Jornalismo
Pornovaescola
02/09/2017
8º, 9º
3 aulas
Introdução
A aprovação de um plebiscito para avaliar a possibilidade de dividir o estado do Pará em dois novos estados - Carajás e Tapajós - tem gerado polêmica. A preocupação aumenta quando se constata que há um grande interesse na exploração dos recursos naturais paraenses, já que o estado é rico em jazidas minerais e detentor de grandes áreas florestais.
Por isso, é oportuno discutir com a turma que motivos levaram à criação dessa proposta e suas possíveis consequências socioambientais.
Para identificar o conhecimento prévio dos alunos sobre a Amazônia solicite que façam um desenho livre e individual que represente a região. Peça que apresentem os desenhos, expliquem o que quiseram representar, e anote os principais pontos na lousa. Depois de conhecer as representações que os alunos têm da Amazônia apresente algumas informações sobre a região. Destaque o papel da floresta amazônica na manutenção do ciclo de chuvas no Brasil e em outros países da América do Sul e conte que o atual modelo de exploração dos recursos naturais na Amazônia tem contribuído para as mudanças climáticas no Brasil e no mundo.
(Para saber mais sobre o Bioma Amazônico, leia o plano de aula Biomas brasileiros: Amazônia).
Texto de apoio
A importância ecológica das florestas
- As florestas nativas são as maiores fontes de biodiversidade (as plantas, animais e micro-organismos e sua inter-relação nos ecossistemas). É dessa variedade biológica que são extraídas inúmeras matérias-primas consumidas pelo homem. Isso significa que a biodiversidade tem alto valor econômico. Por isso, o governo brasileiro vem criando inúmeras Unidades de Conservação (UC¿s) para garantir a manutenção desses recursos em nosso país.
- As florestas plantadas não são diversas como as nativas. Pelo contrário, a maioria delas são monoculturas. Mesmo assim, tanto as florestas nativas quanto as plantadas oferecem inúmeros serviços ambientais:
- elas ajudam a regular o clima;
- sequestram o carbono;
- ajudam a conservar o solo;
- contribuem para a conservação dos recursos hídricos;
- auxiliam na manutenção dos ciclos de chuva (em especial a floresta amazônica).
Fonte: http://www.florestal.gov.br/snif/recursos-florestais/bens-e-servicos-que-a-floresta-fornece
Depois de falar sobre a importância das florestas para a turma, conte que a floresta amazônica possui a maior concentração de biodiversidade do planeta. Ela ocupa, aproximadamente, 50% do território brasileiro, com 4,1 milhões de quilômetros quadrados. Desse total, 30% está no estado do Pará.
Em seguida, peça aos alunos que observem o mapa abaixo, identifiquem e registrem no caderno que estados brasileiros fazem parte da Amazônia. Se preferir, utilize um atlas escolar.
Solicite, ainda, que os estudantes apontem os dois maiores estados da região amazônica (Amazonas e Pará). Com base nessa informação comente que esta realidade geográfica pode ser alterada, já que a realização de um plebiscito que propõe a divisão do Pará em dois novos estados (Carajás e Tapajós) foi aprovada. Proponha, então, duas questões para debater com a turma: a divisão do Pará trará benefícios à população? E a preservação ambiental da região, como ficará? Explore o texto de apoio abaixo e o mapa que mostra como ficariam os estados, disponível em http://abr.io/divisao-para, para estimular a reflexão.
Texto de apoio
A divisão do estado do Pará
Por Tainã Mansani, colaboradora de Outras Palavras
(...) O Congresso Nacional aprovou, em 5 de maio (em sessão esvaziada), a realização do plebiscito para criação de dois novos Estados oriundos da subdivisão do Pará: Carajás e Tapajós.
Os interesses políticos e econômicos, no entanto, ainda não foram esclarecidos. Pior: não se sabe "para quê" e "para quem" servirá a divisão do atual estado do Pará.
Atualmente, o Pará é o segundo maior estado do País, atrás apenas do Amazonas. Trata-se de uma área de 1.247.703 km² com densidade demográfica aproximada em 5,5 habitantes por km². Nesse estado, o PIB per capita é de R$ 4.992 (dado de 2004).
Se aprovado em plebiscito popular, o estado de Carajás contará com uma área aproximada de 296 mil km² contra mais 700 mil km² de Tapajós. Em percentual de população Carajás ficaria com cerca de 23% do que é hoje o estado do Pará, e Tapajós 16%. Carajás, no entanto, herdaria as maiores reservas minerais e empreendimentos da região.
Mas a questão está mesmo nos recursos naturais presentes nessas áreas - e, diga-se, não são de pouca monta. Lá está uma das maiores jazidas minerais do mundo, explorada pela empresa de capital privado Vale (antiga estatal Vale do Rio Doce, privatizada em maio de 1997 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso).
Com a divisão, as minas de bauxita do Rio Norte (Oriximiná), de Juruti e a polêmica Usina de Belo Monte (a 40 quilômetros de Altamira) passariam a pertencer ao estado de Tapajós.
Carajás abocanharia a mina de ferro do município de Parauapebas (maior produtora de minério de ferro do mundo, explorada pela empresa Vale), as Minas de cobre em Marabá e Canãa, além de importantes reservas de cobre e níquel. No Pará restariam as minas de bauxita em Paragominas.
A divisão do estado do Pará, no entanto, não elucida quais as melhorias imediatas para a população. Além disso, não são explícitos os gastos que a população deverá pagar pela criação de dois novos aparatos burocráticos - por baixo, cada deputado custa ao país mais de R$ 100 mil, por ano.
Em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, em maio, o doutor em ciência política, Fernando Luiz Abrucio, esclarece: "o problema é a gestão pública brasileira¿ Novas estruturas governamentais replicam os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário", afirma ele. Logo, geram-se maiores gastos.
(...) O quiproquó político tampouco esclarece os interesses econômicos - de poucos - na região. A mensagem é "subliminar", mas está no pacote. Valeria perguntar à população quanto ela quer pagar para ver o público "virar" privado.
Fontes: O Estado de São Paulo (07 de maio de 2011, nacional); Folha de S. Paulo (07 de maio de 2011, caderno Poder); Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia - SEDECT do Estado Pará e Sepe - Secretaria de Estado de Projetos Estratégicos (Pará).
Proponha à turma a elaboração de um quadro com os argumentos favoráveis e contrários à divisão do estado do Pará. Abaixo, veja uma sugestão de como formatar este quadro:
Argumentos favoráveis
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Argumentos contrários
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Estados menores facilitam a administração | Aumento dos gastos públicos com novos cargos |
Depois de montar o quadro comparativo, é hora de os alunos aprofundarem os conhecimentos sobre alguns temas, para que tenham mais argumentos para responder às questões debatidas previamente na aula anterior ("a divisão do Pará trará benefícios à população? E a preservação ambiental, como ficará?").
Para finalizar, divida a classe em pequenos grupos e proponha que cada um deles escolha um tema, dentre os listados abaixo, para pesquisar em livros, revistas, jornais e na internet. Cada grupo deverá trazer informações para elaborar um painel na próxima aula.
Os painéis poderão conter textos, fotos, mapas, tabelas e gráficos sobre os assuntos propostos.
- Grupo 1: Unidades de Conservação no Pará
- Grupo 2: comunidades tradicionais no Pará e sua relação com a floresta
- Grupo 3: extrativismo mineral no Pará e seus impactos ambientais
- Grupo 4: atividade madeireira e o desmatamento no Pará
Reserve esta aula para que os grupos confeccionem os painéis e organizem uma apresentação da pesquisa. Durante a apresentação de cada um dos grupos, anote pontos que devem ser reforçados e discuta-os com a turma. Espera-se que os alunos do primeiro grupo apresentem o que são as unidades de conservação (UCs) e como estão classificadas. As UCs podem ser: de proteção integral (destinada apenas a estudos e pesquisas) e de uso sustentável (para fins comerciais restritos).
Os integrantes do segundo grupo vão contar aos colegas como se organizam as comunidades tradicionais do Pará, quais são os modelos de ocupação de espaço existentes e como se dá o uso dos recursos naturais, voltado principalmente para a subsistência. Estas populações - caiçaras, ribeirinhos, seringueiros, quilombolas e outras variantes - em geral ocupam a região há muito tempo e não têm registro legal de propriedade privada individual da terra, definindo apenas o local de moradia como parcela individual, sendo o restante do território encarado como área de utilização comunitária, com seu uso regulamentado pelo costume e por normas compartilhadas internamente.
Os dois últimos grupos deverão apresentar como se dá o uso comercial da floresta e qual é a dimensão dos impactos ambientais causados pelo extrativismo vegetal e pela atividade madeireira. Conte aos alunos que as companhias mineiras são obrigadas a cumprir normas ambientais de forma a assegurar que a área afetada pela exploração volte à sua condição inicial. Apesar disso, a região ainda sofre muito com a exploração ilegal de seus recursos.
Retome o quadro comparativo construído na aula anterior e complete com as informações trazidas pelos alunos. Com base na pesquisa, nesse quadro e nas discussões em sala, finalize a aula com a simulação de um plebiscito sobre a divisão do Pará.
As explicações e as atividades realizadas com a turma devem demonstrar os argumentos favoráveis e contrários à divisão do estado do Pará. No decorrer das aulas, observe se os alunos conseguiram reconhecer a importância do bioma Amazônia para o planeta, bem como o uso sustentável de sua biodiversidade. Valorize a participação de todos nas atividades individuais e realizadas em grupo. Avalie, também, a construção do painel: como os elementos e os dados foram organizados. Considere o domínio dos conceitos explicados por você e pesquisados pela turma na apresentação dos temas investigados. Quer saber mais? Bibliografia Bertha Becker, Amazônia: geopolítica na virada do III milênio, Rio de Janeiro, Garamond, 2006. Maria C. N. Coelho, A CVRD e a (re) estruturação do espaço geográfico na área de Carajás (Pará). In: CASTRO, Iná Elias de, GOMES, Paulo Cesar da Costa, CORRÊA, Roberto Lobato (organizadores). Brasil: questões atuais de reorganização do território, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008. Sueli Furlan e João C. Nucci, A conservação de florestas tropicais. São Paulo, Atual, 1999 (Série Meio Ambiente). Ariovaldo Oliveira, Amazônia: monopólio, expropriação e conflitos. Campinas, Papirus, 1987. _______________ Integrar para não entregar: políticas públicas e Amazônia. Campinas, Papirus, 1991.
Créditos: Edinilson Quintiliano dos Santos Formação: mestre em Geografia pela PUC de São Paulo Créditos: Clodoaldo Gomes Alencar Júnior Formação: mestre em Geografia pela PUC de São Paulo
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