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Apresentado por

Diversa

Jornalismo

Bilboquê e barangandã: vamos brincar com brinquedos antigos?

Com ajuda de todos, um colega autista pôde participar

Por

06/03/2018

O QUE É?

Relato de experiência sobre projeto de confecção de brinquedos antigos com uma turma de 4o. ano, dentre eles, um aluno com autismo, de 14 anos, ainda não alfabetizado. Conteúdo originalmente publicado no portal Diversa, do Instituto Rodrigo Mendes, organização sem fins lucrativos que tem a missão de colaborar para que toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum.

QUEM FEZ?

Geysa Freire, Minervina Gomes e Sueli Caldas, educadoras da EM Ascendino Henriques de Almeida Júnior, em Natal.

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As crianças foram convidadas a pesquisar e construir brinquedos antigos - dentre eles, bilboquê e barangandã, com material reciclável, e ajudaram o colega autista a participar, auxiliando-o sempre que necessário.

ETAPA

Ensino Fundamental.

ANO

CONTEÚDOS

Arte, brinquedos, Educação Física, inclusão

Estudantes confeccionam brinquedos do passado

A Escola Municipal Ascendino Henriques de Almeida Júnior está localizada em um bairro periférico da cidade de Natal (RN) e atende 684 estudantes do ensino fundamental I nos turnos matutino e vespertino. A unidade conta com uma sala de recursos multifuncionais (SRM), onde uma professora realiza o atendimento educacional especializado (AEE) para 21 alunos. Como a docente trabalha nos dois turnos está em contato constante com os educadores da sala comum. Em 2014, acrescentamos ações sobre AEE e educação inclusiva ao projeto político-pedagógico (PPP), que estão aos poucos sendo concretizadas. Como parte dessas iniciativas, realizamos um projeto de confecção de brinquedos antigos com material reciclável para promover o desenvolvimento sócio-afetivo e motor das crianças.

Três estudantes estão sentados no chão de uma quadra. Eles brincam com grandes fitas de papel crepom.
Projeto de confecção de brinquedos antigos teve como objetivo promover o desenvolvimento socioafetivo e motor das crianças.

As atividades foram desenvolvidas pelas professoras Geysa Martins Freire do AEE; Minervina Gomes, da sala comum e Sueli Caldas, de educação física com a turma de 4º ano do estudante Pedro, de 14 anos. O garoto é autista, não foi alfabetizado e encontra dificuldades para participar da rotina escolar. Sua turma é bem mais nova e é composta por alunos entre 9 e 10 anos.

Pesquisa e coleta de materiais

Nossa primeira ação foi apresentar a proposta para as crianças. Nessa conversa inicial, destacamos o princípio inclusivo da iniciativa e pedimos que elas apresentassem sugestões de como poderíamos garantir que Pedro participasse de todas as atividades. A turma foi extremamente receptiva e colaborativa.

Professora auxilia estudante durante oficina de confecção de brinquedos. Os dois estão sentados lado a lado e sobre as carteiras há materiais como durex, garrafa, caneta, tesoura etc.
Professora auxilia estudante durante oficina de confecção de brinquedos.

Em seguida, partimos para a etapa de pesquisa. Elaboramos um questionário de perguntas e os estudantes entrevistaram seus familiares sobre os brinquedos que costumavam usar na infância. Os resultados foram apresentados oralmente durante a aula de educação física. Na sua vez, Pedro segurou um cartaz contendo as respostas que obteve com sua mãe e um colega fez a leitura para o grupo.

Para confeccionar os brinquedos, mobilizamos a escola para arrecadar materiais recicláveis. Muita gente trouxe garrafas PET e latas. A equipe gestora disponibilizou cordões, colas e os papéis específicos. Toda comunidade se envolveu nessa etapa e foi co-participante do projeto.

Confecção e manuseio dos brinquedos

Quatro brinquedos foram escolhidos para a confecção – bilboquê, vai-e-vém, barangandã e roladeira. Os alunos ficaram muito interessados e envolvidos na montagem das peças. Aqueles que tinham dificuldades de cortar, medir e encaixar foram auxiliados por colegas e professores. Durante o manuseio lúdico das criações, exploramos as diversas formas do brincar e incentivamos a criatividade e cooperação entre as crianças.

Crianças brincam com varetas com fitas de papel na ponta em quadra de esporte.
Outras turmas demonstraram interesse em usar os brinquedos criados durante horário do intervalo.

Os brinquedos foram apresentados em uma exposição aberta para toda comunidade escolar. A turma do 4º ano se sentiu bastante valorizada com o reconhecimento e feliz com o fato de Pedro ter participado ativamente de todo o processo. Os estudantes das outras turmas sugeriram que os brinquedos fossem colocados à disposição para a brincadeira todos os dias durante o intervalo e que o projeto fizesse parte das ações contínuas das disciplinas de educação física e   arte.

Algumas vezes foi difícil envolver o aluno autista nas atividades, especialmente nas de corte e encaixe de peças, quando ele demonstrava maior frustração. Nessas ocasiões, os colegas o auxiliavam naquilo que ele não conseguia fazer sozinho. De modo geral, a turma foi bastante sensível e acolhedora, ajudando-o em suas dificuldades motoras e de comunicação. Mesmo com essas barreiras, Pedro participou e se envolveu com entusiasmo no projeto e acreditamos que o objetivo de incluí-lo nas aulas de educação física por meio de estratégias pedagógicas simples, acessíveis e lúdicas foi alcançado. Pretendemos acrescentar a iniciativa no projeto político pedagógico (PPP) da Escola Municipal Ascendino Henriques de Almeida no próximo ano. Queremos que os materiais sejam utilizados na hora do intervalo e em oficinas em outras disciplinas.

Projeto participante do Portas Abertas para a Inclusão 2015.

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