Ler para estudar o mundo ao meu redor
A turma aprendeu a se preparar para exposições orais
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06/03/2018
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Apresentado por
Jornalismo
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06/03/2018
O QUE É?
Experiência de Língua Portuguesa sobre interpretação de texto. Trabalho vencedor do Prêmio Educador Nota 10 de 2015. Conteúdo originalmente publicado no site de Nova Escola.
QUEM FEZ?
Andreia Fernandes de Souza, professora da EE Fulvio Abramo, em São Paulo (SP).
PODE TE INSPIRAR PORQUE...
O trabalho ajudou a turma a compreender os textos lidos.
ETAPA
Ensino Fundamental
ANO
5º
CONTEÚDOS
Língua Portuguesa, leitura, interpretação de texto
Ler, entender e explicar o conteúdo
"No começo, eu ficava muito nervoso, mas depois me acostumei. Vou fazer uma apresentação no próximo bimestre, e sei que vou estar seguro", diz Nathan Azevedo, 11 anos, hoje estudante do 6º ano. As aulas de Língua Portuguesa com a professora Andreia Fernandes de Souza, no 5º ano da EE Fúlvio Abramo, em São Paulo, o deixaram pronto para encarar os desafios de estudar por conta própria e fazer exposições orais.
Pedagoga pela Unicsul, com pós-graduação em Neuroeducação pela UniÍtalo e mestrado em Educação e Saúde pela Unifesp.
"NEM SEMPRE IMAGINAMOS QUE PRECISAMOS REGISTRAR AS AULAS, FILMÁ-LAS E NOS AVALIAR. ISSO FICOU CLARO NOS SEMINÁRIOS DE BOAS PRÁTICAS DA REDE ESTADUAL."
Ao notar que a maior dificuldade dos seus alunos era a compreensão de texto, Andreia criou um projeto de ler para estudar. Ela trabalhou procedimentos de leitura e pesquisa e ensinou estratégias de comunicação oral para que eles pudessem passar o que aprenderam a outras turmas. "É responsabilidade do educador e da escola entender que o estudo é objeto de ensino. Aprender a estudar dá grande autonomia, é algo para a vida toda. Por isso, esse projeto foi uma intervenção transformadora no percurso das crianças", diz Célia Prudêncio, formadora de educadores da rede pública e privada e selecionadora da área do Prêmio Educador Nota 10. Andreia conta que a inspiração para o trabalho veio de suas próprias experiências. "Não tenho formação em Letras e, às vezes, certos termos técnicos me assustam. Mas a troca com os colegas propicia o entendimento. Foi decisivo compartilhar minhas dificuldades e alegrias com os outros professores da escola", diz.
Para planejar a sequência didática, a docente escolheu um tema de interesse dos alunos: meio ambiente e sustentabilidade. Ela começou levantando os conhecimentos da turma ao propor a análise de uma charge sobre o planeta Terra. "Para ensinar a ler para estudar, o ideal é aproveitar a curiosidade das crianças por uma temática. Textos de divulgação científica são os mais indicados, porque têm uma organização objetiva", comenta Cláudio Bazzoni, da Universidade Padre Anchieta (Unianchieta). "Num primeiro momento, o foco principal não deve ser o conteúdo temático, mas as capacidades de leitura. É importante que o professor escolha textos adequados ao grau de conhecimento do aluno. Se for muito simples, ele não precisará buscar informações em outras fontes e não avançará nos procedimentos de pesquisa; se for muito complicado, a leitura não fluirá", observa Marly Barbosa, formadora do Programa Ler e Escrever da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
Andreia apresentou as etapas do projeto aos estudantes e explicou que o objetivo final seria realizar um seminário sobre questões ambientais para os colegas do 4º ano. "É essencial que o professor deixe claro para a turma quais são os objetivos das atividades. Caso contrário, fica difícil eleger parâmetros para analisar a escolha de informações", afirma Cláudio.
Leitura bem orientada
Andreia selecionou textos disponíveis no material didático, na biblioteca e na internet para leitura coletiva. Antes de mergulhar nos parágrafos, chamava a atenção para os elementos extratextuais, como fotos, figuras e infográficos, além das legendas, títulos, subtítulos e intertítulos. Ao analisar essas informações, antecipa-se os assuntos tratados no texto, o que facilita a compreensão.
Finalmente, a professora partiu para a leitura em voz alta. Ora ela mesma lia, ora pedia que as crianças lessem. Após cada parágrafo, a educadora fazia uma pequena pausa e perguntava: "O que vocês entenderam desse trecho?", "Quais são as principais informações?". Assim, estimulava os alunos a selecionar e grifar os principais pontos (leia mais sobre o grifo abaixo). Quando surgiam palavras desconhecidas, ela introduzia estratégias de busca de significados: procurar no dicionário, pesquisar em materiais específicos daquele assunto ou inferir sentido pelo modo como o termo está inserido no contexto.
Um dos mais simples procedimentos de leitura pode ser o mais útil na hora de retomar o conteúdo estudado. Mas engana-se o educador que não considera necessário explicá-lo a fundo.
"Grifar é algo comum, mas o aluno nem sempre sabe quais critérios deve usar e o grifo acaba perdendo a função", comenta Cláudio. "Se você simplesmente pede que eles grifem, cada um vai ressaltar algo diferente, a seleção é subjetiva. Mas, ao estabelecer um propósito para a leitura, você pode monitorar as escolhas dos alunos por esse parâmetro. É preciso saber por que selecionar ou descartar cada informação", explica.
Ao trabalhar com textos científicos, é comum que os estudantes grifem expressões técnicas que não conhecem. Por isso, Marly indica que o educador discuta, em paralelo, a ortografia e o significado dessas palavras novas.
"A única forma de aprender procedimentos de leitura é a prática", diz Célia. Por isso, o passo seguinte de Andreia foi dividir a turma para pesquisas mais profundas. Cada grupo ficou responsável por um tema - como sustentabilidade, Mata Atlântica e biomas brasileiros - e recebeu alguns textos impressos. Nesse momento, a docente e a auxiliar passavam de mesa em mesa ajudando as crianças na interpretação (leia mais sobre as intervenções da educadora abaixo).
UMA BOA INTERVENÇÃO FAZ A DIFERENÇA
Numa das leituras, os alunos se depararam com uma expressão desconhecida: mata ciliar. Primeiro, buscaram no dicionário, mas não a encontraram. Então, a professora sugeriu: "E se a gente buscasse uma palavra de cada vez?". Como sabiam o que é mata, as crianças procuraram "ciliar" e descobriram que se trata de algo relacionado aos cílios. Mas isso ainda não tirava a dúvida.
Andreia aproveitou a deixa para provocá-los: "Vamos pensar nesse termo. Onde estão os cílios? Para que eles servem?". "Eles ficam em volta dos olhos, como proteção", responderam os estudantes. Tentando entender, eles começaram a rabiscar o que estavam pensando em uma folha em branco e fizeram a inferência do significado: "Então, mata ciliar são as árvores que ficam em volta dos rios?", perguntaram, enquanto mostravam o desenho à esquerda. "Isso mesmo!", comemorou a educadora.
"Eu não gostava tanto de ler. Mas passei a gostar, porque aprendi que tenho que fazer isso com calma e grifar para entender tudo. Mesmo que seja difícil, que demore, se você ler com atenção, vai compreender!", comenta Kamille França, 12 anos. Para ampliar as fontes de estudo, os alunos buscaram livros na sala de leitura e na internet. "Foi interessante observar essa pesquisa e intervir nela, porque eles não conferiam qual era o tipo de site que consultavam ou se o texto respondia à questão que precisavam esclarecer. Pontuamos que é preciso prestar atenção a isso e ficamos surpresas com a facilidade deles para organizar as informações", comenta Andreia.
Diante da variedade de materiais encontrados, ela orientou que os estudantes lessem alguns textos em duplas e outros individualmente. Assim, poderiam compartilhar as informações com o restante do grupo. Depois, cada agrupamento produziu um cartaz com um esquema (leia mais sobre essa estratégia abaixo) reunindo as principais informações sobre o tema pesquisado.
Esquematizar é um dos recursos mais poderosos para fixar o entendimento. É importante ensinar a técnica como uma ferramenta que facilita a compreensão.
"Comecei mostrando o exemplo do material didático. Mas era tão complicado que as crianças confundiam as informações. Então, apresentei um esquema que eu mesma faço e fluiu melhor", conta Andreia.
"Não existe uma única forma de estudar nem de esquematizar. Cada um opta pelo que funciona melhor para si. Por isso, é interessante que o professor mostre o procedimento que ele usa e logo os alunos encontrarão seus próprios modelos", comenta Marly.
Cláudio recomenda que se peça para os estudantes lerem seus esquemas em voz alta. "A cada relato, você pode pontuar conexões que faltam para construir o sentido. Isso ajuda a escrever", afirma.
Chegou a hora de preparar o seminário. Com base nos esquemas, os alunos produziram slides, selecionaram imagens para ilustrá-los e pensaram no que iriam falar. "Eu gostei dos esquemas. É fácil e prático de fazer e ajuda muito na hora de apresentar, você vê o slide e já lembra o que tem que falar", comenta Samira de Souza, 12 anos.
Em seguida, a turma estudou estratégias para uma boa comunicação oral, como falar de maneira clara e objetiva, interagir com o público fazendo perguntas e explicar as imagens escolhidas. Cada grupo ensaiou sua apresentação tendo os colegas de sala como plateia. Parte do processo incluía sugerir melhorias uns para os outros. No dia da apresentação, ensaiaram mais uma vez.
A apresentação deu certo, mas as crianças saíram um pouco frustradas, porque os alunos do 4º ano não interagiram muito. Como o seminário foi filmado pela professora, no dia seguinte, eles puderam assistir e analisar o próprio desempenho. "Eles ficaram chocados com os erros, como não prestar atenção nos integrantes do grupo, falar baixo ou rápido demais", conta Andreia. Então, a turma pediu para fazer uma nova sessão para os alunos do 3º ano. "Comentei que eles eram menores e que alguns termos precisariam ser melhor explicados, e todos toparam o desafio. Eles deram um show e as crianças participaram bastante!", comemora a educadora.
Fotos: Raoni Maddalena. Ilustrações: Jacqueline Hamine
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