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Jornalismo

Nunca fomos tão infelizes

OPINIÃO: Três razões fazem dos dias de hoje o tempo mais depressivo da história do Brasil

PorRodrigo Ratier

18/07/2017

Ilustração: Patrick Cassimiro

O título pode parecer exagerado. O Brasil, afinal de contas, é osso desde sempre. Mas não consigo pensar num momento mais depressivo em nossa história – e acho que não estou sozinho.

O Datafolha do final de junho perguntou a 2,7 mil pessoas sobre a imagem do país. 81% citaram aspectos negativos. 47% disseram ter vergonha de ser brasileiro. Não é preciso ir longe, faça o teste. Pergunte a um conhecido se ele ou ela está feliz. Aliás, pergunte a si próprio: você está feliz?

A resposta pode até começar positiva caso você tenha motivos pessoais para estar bem. Porém inevitavelmente deriva para um “mas…” e aí vem a lembrança da atual crise política, econômica e social. A impressão é que estamos todos cansados, ou deprimidos, ou decepcionados, ou irritados. Ou todas as anteriores. Ninguém, enfim, passa imune ao mal estar que nos rodeia.

O caos não chega a ser novidade. Só nos últimos 50 anos, tivemos ditadura, hiperinflação, moratória, planos econômicos fracassados, dois presidentes impedidos e um que morreu antes de assumir. Ainda assim, penso que há algo de novo – tristemente novo – nos tempos bicudos em que vivemos. Trata-se da conjugação, inédita a meu ver, de três fatores geradores da megadepressão que nos rodeia.

Falta de esperança 

Em outras épocas de dificuldade, por mais que a situação fosse complicada, havia a crença em um futuro melhor. “Amanhã vai ser outro dia”, dizia Chico Buarque em seu Apesar de Você, hino de protesto contra o Regime Militar. Essa chama se esvaiu. Na economia, diz-se que a retomada consistente vai demorar alguns anos, no melhor dos casos. E na política, as opções viáveis oscilam entre o requentado, o mais do mesmo, o autoritarismo conservador e o velho em roupa de novo. Você vê algo de diferente no horizonte? Eu, não. Sinto conformismo no ar, e em todos os casos, o medo vencendo a esperança, numa inversão do slogan vitorioso de Lula em 2002.

Ilustração: Patrick Cassimiro

Ódio social 

Começamos com a divisão entre coxinhas e petralhas. Pode-se argumentar que não é uma novidade e que se trata apenas de uma reedição da clivagem entre esquerda e direita. Mas, amplificado pelo ódio das redes sociais, o fosso entre os dois lados aumentou, a ponto de o diálogo ter se interrompido – as famosas “bolhas” de informação estão aí para comprovar. Alguém disposto a fazer a ponte? Ninguém, ainda, teve sucesso. E o que é pior, hoje observam-se divórcios também nos diferentes polos ideológicos. As esquerdas não se entendem, e as direitas também não. Cada um carrega sua bandeira sozinho, sem muita força para as lutas necessárias e sem grande interesse em escutar o que pedem possíveis aliados.

O baixo nível do debate público 

Na gritaria por atenção instantânea, ofender se tornou mais importante do que conversar e expor ideias de forma racional e razoável. A tendência, que vem do século passado, ganha feições ferozes na arena do Facebook. A forma, polêmica e agressiva, toma o lugar do conteúdo. Quanto a ele: onde estão as ideias? Quem está pensando nosso país? Onde estão os grandes projetos? As visões de futuro e suas conexões com o presente e o passado, de modo que se possa imaginar o que vem por aí? Essas vozes existem, claro. Mas, hoje, se encontram silenciadas pelos brucutus da opinião fácil.  

E você, como vê nossa situação? Temos saída? Em caso afirmativo, por onde começar?

Tenho um palpite. Compartilho com vocês na semana que vem.

As opiniões do autor deste artigo não refletem necessariamente o ponto de vista de NOVA ESCOLA

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