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Apresentado por

Arte na Creche

Jornalismo

A hora e a vez das crianças

Ao trabalhar com narrativas na creche, os pequenos têm a oportunidade de se expressar

Por

06/03/2018

O QUE É?

Proposta de atividade permanente sobre narrativas infantis com exploração de brincadeiras com caixas sensoriais e ateliê de pintura. Conteúdo originalmente publicado no site Arte na Creche, iniciativa do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC) e do Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social (Impaes).


QUEM FEZ? 

Instituto Avisa Lá, organização não-governamental (ONG) que contribui para qualificar a prática pedagógica das redes públicas de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental nas áreas de leitura, escrita e matemática.


PODE TE INSPIRAR PORQUE....

As brincadeiras propostas têm como foco estimular a imaginação das crianças e permitir que elas toquem, interajam com os objetos.

ETAPA

Educação Infantil

ANO

Creche 

CONTEÚDOS

Linguagem visual, Arte, manipulação de objetos, oralidade

Narrativas Infantis

Criança brincando com papel e tesoura
Crédito: Getty Images

Proposta

O propósito é descobrir e explorar novas possibilidades de brincadeiras, experimentando o toque, o uso de materiais de largo alcance, criando intervenções no espaço para que as crianças possam ambientar narrativas de diferentes maneiras, ao mesmo tempo que se alimentam a interação, a criação e a expressão de sentimentos e ideias.

A inspiração para essa proposta é a obra do artista plástico Bruno Munari. A exposição “Proibido não tocar – crianças em contato com Bruno Munari”, de 2009-2010, conduz as crianças à experimentação não somente na construção de objetos, mas também através de experiências multissensoriais em um espaço com muitas instalações temáticas. A proposta consiste em organizar e apresentar um cantinho com caixas dispostas em meio aos outros materiais disponibilizados no momento da acolhida, com o propósito de despertar a curiosidade do grupo.

Na maioria das vezes, as atividades eram propostas pelas professoras, mas houve também situações em que as crianças montavam o espaço e escolhiam as atividades. Os saberes e a participação das crianças ficam explícitos quando percebemos que, ao entrar em contato com novos materiais, elas podem conhecê-los explorando, tocando, observando suas características, fazendo escolhas, criando novas brincadeiras.

Tempo

Cada atividade foi planejada para ser desenvolvida durante o período de aproximadamente uma hora com as crianças. Porém, por se tratar da criação de contextos para a constituição de experiências, cada atividade foi reapresentada, recriada, trazendo a cada vez novos desafios às descobertas das crianças. Foram planejadas cinco atividades que acabaram sendo desdobradas em diversas outras.

Espaço
As construções foram exploradas em diferentes situações do brincar, nos espaços internos e externos:
- espaços internos confortáveis;
- cantinhos de acolhida;
- salas de brincar.

Materiais
Utilizaram-se nessa proposta materiais que estimulam a imaginação, a interação e o potencial criativo da criança. Os elementos não estruturados favorecem uma exploração rica e maior conhecimento de texturas, formas, pesos, temperaturas diferentes entre si. Tais elementos foram organizados de forma a convidar as crianças para várias atividades, valorizando a brincadeira.

Os materiais utilizados foram os seguintes:
- Tapete, almofadas, caixas de papelão de diversos tamanhos
- Papelão micro-ondulado, bandeja de ovos
- Tesoura sem ponta, cola
- Espelhos, CDs, espuma, barbante
- Miçangas diversas, tecidos, botões, papéis
- Mesa
- Rolinhos, pincéis, guaches coloridos e demais acessórios para pintura
- Objetos com texturas diferentes para a construção dos livros (lixa, renda, palhas traçadas usadas para chapéus etc.)

Interações
O grupo é dividido e mediado pelos professores, de modo a contemplar os desejos e necessidades das crianças. As construções podem ser exploradas em diferentes situações do brincar, nos espaços internos e externos, o que oportuniza momentos lúdicos, nos quais se expressar é necessário. As interações podem acontecer de várias maneiras – com gestos e expressões corporais, falas, balbucios.

Atividades
As proposições da professora podem desencadear as seguintes atividades das crianças:
1. Brincadeira com caixas nos cantinhos de acolhida. As crianças vão explorar as caixas e pensar o que podem fazer com elas: empilhar, colocar uma dentro de outra, entrar dentro delas. Podem criar brincadeiras com as caixas, como saltar, construir labirintos e ainda fazer construções como uma cidade, um sítio, um prédio, além de construir narrativas, com o intuito de ampliar seu repertório.

2. Conversa sobre o que criaram e o que mais gostariam de fazer com as diferentes caixas. Momentos de conversa mediados pela professora permitem que as crianças emitam suas opiniões pessoais sobre essa experimentação do que pode ser feito com as caixas.

3. Exploração das caixas e de um percurso sensorial, um caminho que oferece diversos materiais para a exploração.

4. Ateliê de pintura, desenho e colagem na horta: reconfiguração das caixas, dando novos significados e sentidos a elas a partir de desenhos, colagem, pintura.

5. Brincadeira e exploração das caixas sensoriais no gramado (com faces que apresentam diferentes texturas, além de objetos curiosos para a exploração em seu interior).

Observe
No desenvolvimento dessa proposta, é interessante observar:
1. A qualidade e as características da interação e sociabilidade das crianças com o grupo:
- as crianças constroem vínculos? Sentem prazer em brincar juntas?
- sentem prazer em descobrir novas brincadeiras com os brinquedos inusitados?
- constroem, junto com os educadores, brinquedos inusitados e depois brincam com eles?
- brincam juntas e se divertem?

2. A capacidade de criação narrativa e interação com os materiais propostos:
- as crianças fazem escolhas e têm preferências por espaços e brincadeiras?
- criam e recriam brincadeiras a partir do contato e exploração de materiais?
- observam nos materiais as diferenças de peso, medida, altura?
- ampliam o repertório com relação aos materiais e brincadeiras?
- como é a participação e expressão das crianças em favorecer a criação de novas possibilidades?
- fazem associações a contos de fadas e outras histórias?
- criam e enriquecem as narrativas?
- expressam seus sentimentos e ideias?

A voz de quem participou
“Ter participado diretamente desse trabalho me proporcionou inúmeros aprendizados. A escuta/observação das crianças assim como as pesquisas que antecederam as experiências foram sempre regadas por um olhar sensível e atento ao potencial criativo da criança. Todo o trabalho foi acontecendo de forma processual, onde as crianças participavam ativamente. Certamente isso contribuiu para que as proposições fossem vivenciadas com tanto envolvimento. A reutilização de materiais foi fundamental, novos significados foram dados por meio de produções individuais e coletivas. Esse foi um daqueles trabalhos incansáveis, que a cada situação as crianças nos indicavam tantos caminhos, e que também estávamos num dos caminhos possíveis. Capaz de sair do lugar comum de alimentar, de saciar uma sede inesgotável, e a 'arte' é simplesmente esse alimento, a água que nos rega infinitamente.” (Laudicéia Ferreira de Barros – CEI Jardim Shangrilá)

Referências
ABRAHÃO, Cristiane. Pensamento sincrético em conversas infantis. Revista Avisa Lánº 38,São Paulo, Instituto Avisa Lá, maio de 2009.
BRASIL.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. vol. 3 – Artes Visuais.Brasília: MEC/SEF, 1998.
Galvão, Izabel. Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 2013.
SCARPA, Regina. – Conhecendo a criança: Pensamento de criança. Revista Avisa Lánº 26, São Paulo, Instituto Avisa Lá, abril de2006.
Exposição e vídeo
MUNARI, Bruno. Proibido não tocar.  

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