Tenho uma aluna com deficiência. Como estou fazendo para alfabetizá-la
PorMara Mansani
26/06/2017
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Jornalismo
PorMara Mansani
26/06/2017
Uma nova turma de alunos é sempre uma surpresa. Fico contente, ansiosa e empolgada para começar o novo desafio, mas também cheia de dúvidas: serão muitos? Serão calmos ou agitados? Gostarão de mim?
Não tenho vergonha de reconhecer que as dúvidas que mais me deixam apreensiva são: será que terei algum aluno com deficiência? Serei capaz de desenvolver sua aprendizagem e atender às suas necessidades? Como boa parte dos professores brasileiros, minha formação inicial deixou a desejar nessa área, e esse era um grande motivo de apreensão.
Tenho vivido, ao longo dos anos como professora, experiências difíceis mas também maravilhosas com os alunos com alguma deficiência.
Lembro-me de Cláudio, um aluno de 6 anos com deficiência intelectual. Demorei a entender como poderia trabalhar com ele, mas fui ajudada por professoras mais experientes. Em apenas um semestre, seu desenvolvimento já era nítido. A fala continuava de difícil compreensão, mas ele já tinha autonomia para ações aparentemente simples do dia a dia, como escovar os dentes, além da incrível socialização que desenvolveu com os colegas.
Também fui professora do Fernando, um aluno de 8 anos, autista de grau leve. Sua história renderia um texto exclusivo, mas nunca vou esquecer o que ele fez por mim: tive que estudar, aprofundar meus conhecimentos para entender como poderia ajudá-lo. Com isso, aprendi muito e evoluí como professora. Saudades daquele menininho!
Neste ano, novamente recebi um presente: Alessandra, uma menina de 11 anos com deficiência intelectual, na minha turma do 4º ano. No início, nos olhamos com um certo receio, mas logo nos entendemos. Posso dizer que está sendo a melhor experiência de inclusão que já vivi em sala.
Nas aulas, não foco nas limitações de Alessandra, mas sim nas inúmeras possibilidades de seu desenvolvimento. Ela participa de quase todas as atividades, mas com adaptações, muitas vezes oralmente. Não lê e não escreve, pelo menos não da maneira convencional. Mas isso não é um limitante de seu desenvolvimento.
Estou trabalhando o estudo do alfabeto com ela, que já identifica algumas letras, de maneira contextualizada. Por exemplo: os 4º anos da escola estão participando de um projeto de alimentação saudável. Eles estudaram a respeito de verduras e legumes, criaram suas hortas e comeram saladas com os ingredientes colhidos. Alessandra, com meu auxílio, escreveu uma lista de legumes e verduras que foram utilizados, e deu um grito de alegria ao perceber sozinha que com a letra P se escreve a palavra "pepino".
Ela adora ouvir as leituras diárias de livros de literatura, e consegue recontar a história na sequência correta de acontecimentos, com riqueza de detalhes. Quando os alunos vão fazer reescritas de contos e fábulas, sua participação é fundamental no reconto oral, antes de se iniciar as escritas. Também gosta de livros infantis. Muitos textos lidos em sala são transformados em pequenos livros de imagens com desenhos feitos por ela e legendas escritas com o meu auxílio.
Apesar dessa evolução, era preciso mais. Por que não tentar a construção de um texto completo? Para isso, desenvolvi com os alunos a ideia de tutoria na escrita. Alessandra criou uma resenha de filme, mas precisava de ajuda para se expressar na escrita. Para atender às suas necessidades, um aluno escreveu o que Alessandra lhe ditava. O resultado foi incrível: eu e toda a turma ficamos boquiabertos com a qualidade da produção!
Pequenas atividades assim permitem uma ampliação da participação de Alessandra em sala. Assim vamos caminhando, dando pequenos passos a cada dia, sempre com novas aprendizagens para ela, para mim e para a turma. Acredito que ela está mais que incluída em nossa escola, pois faz realmente parte ativamente de nossa vida escolar, onde é a protagonista de sua aprendizagem.
Uma grande diferença no caso de Alessandra está na rede de apoio, uma estrutura que converge para seu desenvolvimento global. Além de ter aulas comigo no 4º ano da turma regular, ela também frequenta o Atendimento Educacional Especializado (AEE) de outra escola, em alguns dias da semana, com o devido acompanhamento psicológico. Lá, ela faz oficinas de Arte e outras atividades educativas.
Na rede municipal de Educação, eu e todos os outros professores que também recebem alunos com deficiência fazemos reuniões pedagógicas com os professores do AEE e com os psicólogos. Também aproveitamos esses momentos para compartilhar boas práticas de sala de aula que foram adaptadas para as crianças com deficiência.
Acho esse movimento muito importante, pois aprendo com quem tem mais experiência. Em minha escola, conto também com o apoio e orientações pedagógicas de minha coordenadora, a Patrícia, para o atendimento à minha aluna.
Abaixo, listo algumas posturas que nós, professores, podemos adotar na busca por maior inclusão e desenvolvimento de nossos alunos:
Continuo precisando estudar mais sobre a Educação de alunos com deficiência, e acho que precisarei sempre. Cada novo caso de aluno que recebo é uma oportunidade para me aprofundar nesse conhecimento. Acredito que nós, professores, precisamos de cursos de capacitação, mas precisamos principalmente de apoio e recursos pedagógicos para desenvolver a boa aprendizagem desses alunos. Em breve, retorno para contar outras experiências de inclusão que marcaram minha trajetória profissional.
E vocês, queridos professores? Como andam a aprendizagem de seus alunos com deficiência? E a relação deles com o resto da turma? Quais boas práticas vocês desenvolvem? Compartilhem conosco nos comentários!
Um grande abraço a todos e até a próxima segunda-feira!
Mara Mansani
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