O diploma falso do Educador do Ano: o que sabemos e o que falta descobrir
Ainda não há responsáveis. Mas o educador apagou informações sobre a graduação. E o polo da Universidade não tinha autorização para oferecer o curso
29/05/2017
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Jornalismo
29/05/2017
A surpreendente notícia estourou no início do mês. Wemerson Nogueira, ganhador do Prêmio Educador Nota 10 em 2016 e um dos indicados ao Global Teacher Prize, o Nobel da Educação, foi acusado de falsificação de documentos. Ele teria apresentado um diploma ilegítimo numa seleção de professores da Secretaria de Educação do Espírito Santo (Sedu). Com essa alegação, a Sedu abriu um processo contra o professor, que pode perder o cargo na rede estadual e ter de devolver os salários já pagos.
O caso é complicado. As partes envolvidas – Wemerson e a Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), responsável pela emissão do diploma – se apresentam como vítimas de falsários. Ao mesmo tempo, se negam a esclarecer detalhes importantes sobre o que ocorreu. Manifestam-se apenas por notas oficiais. A Sedu diz que o caso está com a Polícia Civil. Essa, por sua vez, confirma que há uma investigação por falsificação de diplomas, mas não fornece informações sob a justificativa de não atrapalhar o trabalho.
Nos últimos 15 dias, a reportagem de NOVA ESCOLA se debruçou sobre o assunto. Ainda não é possível responsabilizar alguém pelo diploma falso, mas há fatos que aumentam o mistério. Do lado da Unimes: o polo de Ensino à Distância (EaD) em que Wemerson diz ter estudado não tinha autorização do Ministério da Educação (MEC) para oferecer o curso de Licenciatura em Química. Enquanto isso, o educador apagou do Facebook seu comunicado sobre o ocorrido e retirou de seu currículo as informações sobre a cidade em que teria se graduado.
Posição de NOVA ESCOLA
NOVA ESCOLA é apoiadora do prêmio Educador Nota 10 e destacou, em reportagem especial de outubro de 2016, o trabalho de Wemerson. Assim como a Fundação Victor Civita, organizadora do prêmio, NOVA ESCOLA mantém a avaliação de que o trabalho de Wemerson é de extrema qualidade e foi merecedor do prêmio Educador Nota 10 de 2016.
Esperamos que o caso seja resolvido o quanto antes e que os fatos sejam esclarecidos. Se Wemerson for inocente, excelente. Se não for, será um caso triste para todas as pessoas que acreditam em uma educação pública, de qualidade, para todas as pessoas. E então, infelizmente, ele terá de responder pelas suas ações.
Acompanhe o que sabemos até agora.
Os fatos
Segundo Ricardo Ponzetto, advogado da Unimes, Wemerson nunca foi aluno da instituição. Diz Ponzetto: “Não temos nenhum registro dele como estudante. E a assinatura presente no documento é grosseiramente falsa”.
Foi essa informação que a Unimes enviou à Sedu e à Polícia Civil do Espírito Santo, que investiga o caso.
A versão de Wemerson
O que o professor afirmou em sua nota oficial é que ele teria sido enganado. “Me dediquei dia após dia aos estudos, até me formar. Posso provar que estudei, sim, e tenho documentos e evidências que comprovam isso e, jamais usaria de má fé para me beneficiar”.
Em sucessivos contatos por e-mail (Wemerson não tem atendido ao telefone), NOVA ESCOLA pediu para ter acesso a essas evidências. O professor negou. Diz seguir orientações do advogado para apresentar as provas somente na defesa do processo. “Entendo que a universidade se diz vítima, mas eu também fui”, afirma.
A versão da Unimes
Também em nota para a imprensa, a Unimes aponta para a ação de uma quadrilha de falsários. Diz ter conhecimento de casos de diplomas falsos emitidos em seu nome há um ano e meio. O advogado Ponzetto defende a tese de que um bando estaria por trás das falsificações. “A Polícia Civil do Espírito Santo está investigando a quadrilha desde 2015”, afirmou por telefone.
Fato novo 1: um polo irregular
Pelo Facebook, Wemerson afirma ter cursado o EaD da Licenciatura em Química numa cidade “na região de Colatina”, no interior capixaba. Em outro trecho, cita o nome de Pancas, município a 60 quilômetros de Colatina. É lá que ele teria feito as atividades presenciais do curso. Segundo matéria do G1 divulgada em 11 de maio, o professor chegou a descrever o local como “uma casa com computadores”.
A questão é a seguinte: segundo o MEC, o processo de credenciamento da Unimes em Pancas ainda está em andamento. Em 2015, a universidade foi proibida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) de expandir suas atividades por dois anos por atuar irregularmente em vários estados.
Em 2016, a instituição entrou com recurso para contornar a decisão do CNE e voltar a atuar pelo país, inclusive em Pancas, em caráter provisório, até que o processo de credenciamento fosse finalizado. O polo da cidade recebeu a visita de uma equipe do ministério no fim de abril, como registra o Facebook da instituição.
NOVA ESCOLA apurou que a Unimes opera na cidade há, pelo menos, cinco anos. As informações são da assessoria de comunicação da Prefeitura de Pancas, que falou com nossa reportagem por telefone.
De acordo com o Ministério da Educação, uma universidade só pode atuar nos limites do município em que foi credenciada. A Unimes ainda não tem credenciamento em Pancas. Mas tem em Mucurici, município no norte capixaba a 234 quilômetros de Pancas. De carro, são cerca de quatro horas de viagem.
A universidade, segundo a assessoria de comunicação da prefeitura, operaria em Pancas uma espécie de extensão do polo de Mucurici, ofertando alguns de seus cursos. A Unimes precisaria de autorização do ministério para fazer isso, mas, como dissemos, o credenciamento não foi concluído até o momento.
Confirmamos por e-mail que a Licenciatura em Química é uma das opções em 2017.
No Facebook do polo virtual, publicações de 2014 (ano em que Wemerson teria se formado), indicam que o curso existe pelo menos desde aquele ano.
Fato novo 2: informações apagadas no currículo de Wemerson
No diploma de Wemerson constaria a informação de que a Licenciatura em Química teria sido cursada em Mucurici. O portal de notícias G1 registra a informação em 11 de maio com dados retirados do currículo Lattes do professor. No dia 13, porém, o currículo de Wemerson foi alterado. A informação sobre o local do curso desapareceu.
Silêncio impede desfecho
Os fatos novos não concluem o caso, mas lançam dúvidas sobre a atuação dos envolvidos. Contatados novamente, Wemerson e Unimes preferiram não comentar as informações apuradas por NOVA ESCOLA. “Eu não posso encaminhar [nenhuma documentação]. Todas seguem em anexo à minha defesa junto à Sedu, e meu advogado pede sigilo na exposição”, respondeu o professor por e-mail. Procurada para falar sobre o polo de Pancas, a Unimes não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
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