Olimpíada de Língua Portuguesa prioriza formação de professores e alunos
Quando as inscrições se encerram, o processo de aprendizado está apenas começando
21/09/2016
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Jornalismo
21/09/2016
Oficina realizada pela professora Rozely Martins, no Distrito Federal
Em 2008, aos 14 anos, vi na televisão uma propaganda da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP) Escrevendo O Futuro. A inserção de uns 30 segundos mostrava uma menina lendo um texto produzido por ela. Falei para minha mãe que no ano seguinte seria eu ali. Não me tornei garota-propaganda, mas ganhei duas medalhas (uma de prata, em 2008, e outra de ouro, em 2010). Isso me motivou a estudar jornalismo e hoje escrevo esta reportagem sobre o concurso de redação.
O ano olímpico de 2016 começou em fevereiro para milhares de alunos da rede pública de ensino cujos professores se inscreveram na 5ª edição da OLP. Sim, são os educadores que se inscrevem. Nesses meses, oficinas de leitura e escrita foram realizadas pelos docentes, com as turmas em que atuam, e resultaram no envio de 50.494 textos para as comissões julgadoras municipais.
Na etapa seguinte, as produções passam pelo crivo de avaliadores que selecionarão até 500 delas para participar da semifinal da Olimpíada, dividida em quatro gêneros: Poema (5º e 6º anos), Memórias Literárias (7º e 8º anos), Crônica (9º ano e 1º do Ensino Médio) e Artigo de Opinião (2º e 3º anos do Ensino Médio). A final, em Brasília, reunirá os autores dos 152 melhores trabalhos - 38 de cada categoria.
O concurso, no entanto, é apenas um motivador para a difusão do ensino da escrita. "Desejamos que o professor use nossa metodologia e trabalhe com os alunos numa situação de escrita real. A ideia é que ele leve para a sala de aula os múltiplos usos da escrita na sociedade", afirma Cida Laginestra, coordenadora do projeto. A conexão da leitura e da escrita com práticas sociais reais é uma das premissas para o ensino nesta área elencadas por especialistas como a argentina Delia Lerner, autora de Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário.
Inspiração e direção para o trabalho
Todo professor inscrito na OLP recebe, em casa, um DVD com sugestões de sequências didáticas para trabalhar os quatro gêneros. O conteúdo é pensado para se encaixar à grade curricular das séries contempladas pelo concurso. "Trabalhamos os eixos de escrita, leitura e oralidade, que formam a base de qualquer programa de ensino da Língua Portuguesa", diz Cida.
A primeira vez que a professora Rozely Martins, do Centro de Ensino Fundamental 209, em Santa Maria, no Distrito Federal, recebeu o material foi em 2002. Eram fitas cassete que ela guarda até hoje. "Depois disso, compreendi melhor como organizar uma sequência de atividades a fim de promover um aprendizado significativo. Normalmente, os concursos dão apenas um tema e o gênero, e você põe o aluno para escrever o texto, não há preocupação em garantir uma formação continuada", avalia.
Apostar na preparação e na valorização do docente como estratégia de fomentar o ensino da escrita é o que diferencia a OLP das demais olimpíadas. "Nem sempre a formação universitária é suficiente, o que torna o professor inseguro. Se ele adquire conhecimento e se sente à vontade para trabalhar os gêneros textuais, com certeza levará isso para todas as turmas", opina Rozely, que também já levou as reflexões do concurso para escolas privadas onde trabalha.
Patrícia Nara Fonsêca leciona no CE Jalles Machado, em Goianésia, a 170 quilômetros de Goiânia. Veterana na olimpíada, ela relata que trabalha com o Caderno do Professor mesmo em anos ímpares, quando não há competição. O resultado, além de duas medalhas de prata, é o interesse crescente dos alunos. "Eles não davam muita atenção para as aulas de redação. Agora vejo que isso mudou e cresceram nas produções textuais, além de melhorarem as notas no Enem e nos vestibulares", relata.
A satisfação não é só dos professores. A ex-estudante Rossana Costa, 23 anos, endossa a tese de Patrícia. Sua redação bem avaliada, fruto do despertar para a escrita que, segundo ela, foi proporcionado pela OLP, lhe garantiu média suficiente para ser aprovada no curso de Odontologia na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Em 2008, ela foi medalhista de ouro na categoria Artigo de Opinião. Na época, subiu ao palco para receber o prêmio com um barrigão de 28 semanas de gestação.
Os textos enviados para o concurso servem tanto para monitorar quão efetivas têm sido as oficinas dadas pelos docentes quanto a qualidade do material que lhes é entregue. "Olhamos para as produções que recebemos e pensamos como podemos melhorar o processo e o que precisamos fazer na formação dos professores para que o resultado chegue na sala de aula", afirma Cida.
Parte das atividades são abertas a qualquer interessado. No portal da Olimpíada, há cursos gratuitos. Um deles, o "Sequência Didática – Aprendendo Por Meio de Resenhas", disponível desde 2011, já formou cerca de 10 mil educadores. Nos anos ímpares, o programa, vinculado ao Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e à Fundação Itaú Social, organiza seminários com professores de todas as regiões do país. Nesses encontros, os docentes são estimulados a realizar as oficinas de que falamos no início do texto e, assim, o ciclo de aprendizado, reflexão e reconhecimento se torna contínuo.
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