300 dias para mudar sua vida
Tempo, dinheiro, relação com os alunos, com os chefes e com as famílias. Conheça saídas para resolver seus principais problemas até o fim do ano
15/03/2017
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Jornalismo
15/03/2017
NOVA ESCOLA lançou seu primeiro número em março de 1986. Naquela edição, um passeio pelas reportagens e seções revelava um cardápio de dificuldades tão rico quanto recorrente: “jornadas excessivas”, “remuneração insuficiente”, “crianças agitadas” e “famílias com poucos recursos”. Soa familiar?
Provavelmente, sim. Apesar dos inegáveis avanços em termos de acesso à escola e mesmo de alguma evolução quanto à qualidade do ensino, a Educação brasileira continua sendo fonte das mesmas queixas dos professores. Durante o mês de janeiro passado, realizamos uma enquete no Facebook: “Educador, qual problema tira seu so- no?”. Algumas das dificuldades mais lembradas foram falta de tempo, salário baixo, indisciplina e famílias desestruturadas.
Mudou a forma de se referir às dificuldades. Mas, se você reparar bem, são exatamente os mesmos obstáculos que apareceram em nossa edição inaugural. A diferença – para pior – é que agora eles vêm acompanhados de outras reclamações que não eram tão comuns em 1986. O desafio da inclusão. Relação conflituosa com os chefes. Alu- nos desinteressados no que você tem a dizer.
Não vamos minimizar as barreiras. Muitas dessas dificuldades são consequência da desvalorização da carreira docente e da falta de investimento e de planejamento por parte dos governos. Mas também não vamos ficar só nas queixas, comparando o presente com o passado.Nossa proposta é aproveitar esta edição 300 para refletir sobre como nosso futuro pode ser melhor. Há pequenas revoluções possíveis de incorporar no dia a dia da escola, da sala de aula e em sua rotina pessoal. Esta reportagem é sobre elas.
Dessa vez, juntamos o conhecimento de profissionais de Educação a uma nova metodologia de desenvolvimento pessoal: o coaching – palavra de origem inglesa que indica um percurso de formação em que um parceiro mais experiente ajuda outro a evoluir em alguma área da vida.
A ideia desse método é que você consiga resolver problemas complicados ou realizar sonhos ambiciosos. Para chegar lá, entram em jogo técnicas e ferramentas de diferentes áreas: gestão de pessoas, planejamento estratégico, Psicologia, Neurociências e Administração.
Com esse aporte, o coach (quem instrui, o nosso papel nesta reportagem) e o coachee (quem está sendo instruído – aqui é você) traçam metas graduais e planejam tarefas de curto, médio e longo prazo. Também preveem avaliações periódicas para garantir que continuam no caminho certo. Pouco a pouco, essas ações vão produzindo mudanças pessoais e no trabalho. Assim, você fica cada vez mais perto da linha de chegada.
O trajeto que convidamos você a percorrer junto conosco é bem didático. Está dividido em primeiros passos, ações práticas, recursos úteis, avaliação e indicações de materiais. O calendário sugerido prevê um prazo de 300 dias – ou seja, de agora até o fim do ano. É tempo suficiente para colocar em prática sua revolução pessoal. Convide os colegas para encarar o desafio. Vamos nessa?
Antes de dormir ou ao acordar, liste todas as atividades do seu dia. Isso vai dar uma noção geral da quantidade de trabalho e do que deve ser priorizado. Estipule prazos para o fim de cada tarefa e tente reduzi-los ao longo dos dias. Se ajudar, cronometre o tempo e vá marcando o que já foi feito.
O método bullet journal é um tipo de organização que reúne em um só lugar todos os aspectos da vida. Pegue um caderno e siga as dicas:
Otimize essa tarefa, que geralmente toma muito tempo, ao contar com a parceria dos colegas. Para isso, use o período garantido pela Lei do Piso às atividades extraclasse para se reunir com os docentes da mesma disciplina ou série que você e elaborar o semanário. As atividades planejadas por um podem ser usadas e adaptadas pelo outro.
Papel, planilha ou aplicativo. Não importa o suporte desde que ele funcione para você organizar o seu dia. O ideal é que seja de fácil acesso para você ter a agenda à mão sempre que preciso.
Precisa ser diária! O monitoramento é contínuo,já que a ideia é você verificar se está dando conta do que planejou. Toda noite, faça os ajustes necessários para conseguir cumprir as metas.
O planejamento deve levar em conta expectativas reais. Pode parecer óbvio, mas se você colocar um grande número de tarefas e não conseguir realizá-las, logo vai se frustrar e deixar de lado a organização à qual se propôs. Por isso, no caso de atividades complexas, divida-as em diversas menores.
Há dois jeitos de ganhar mais: aumentando o salário ou gastando menos. Registre seus planos para daqui cinco anos: o que você gostaria de estar fazendo? Qual salário imagina ganhar? No que poderia economizar? Anote o que você pode fazer para atingir os objetivos. Estabeleça uma escala do que é de curto, médio e longo prazo. Na semana seguinte, mapeie oportunidades para cumprir as de curto prazo, como cursos.
Defina um dia e um horário por semana para retomar o cronograma e colocar uma ação em andamento. Neste momento, já programe qual passo você vai querer dar na semana seguinte e, com base no seu desenvolvimento, reavalie se:
Não tem problema se as respostas forem não. O essencial é o planejamento guiá-lo na direção certa.
Controlar os gastos é uma forma de tentar fazer com que sobre uma grana no fim do mês. Há diversas planilhas disponíveis gratuitamente na internet. Nelas, normalmente, a divisão é entre receitas e despesas, sendo que esta última contém as seguintes categorias:
Outra opção são os aplicativos. Um deles, o GuiaBolso, captura os dados diretos da conta bancária e faz a categorização automaticamente. Ele ainda permite que você adicione metas de gastos por serviço, facilitando o planejamento.
Embora tenham que respeitar o piso nacional, cada rede estabelece seu próprio salário-base e plano de carreira. Isso significa que uma cidade vizinha à sua pode pagar mais para o professor. Veja se esse é o caso e se vale prestar concurso em outro município.
Organizações sindicais costumam ter poder de mobilizar a classe e de negociar com os governos. O reajuste salarial é um exemplo do esforço das associações coletivas. Ao unir-se a elas, você contribui com essas conqusitas.
A matéria de capa de março de 2016 da NOVA ESCOLA apresenta prós e contras de nove modalidades de formação continuada. Leia sobre elas.
Organize um inventário de motivação dos alunos. Registre os momentos em que eles se mostram engajados e também quando estão desinteressados. Assim, é possível refletir sobre o que não dá certo e recorrer, quando necessário, às estratégias mais mobilizadoras.
Responda ao seguinte questionário:
Ao lado das questões coloque números de 0 a 5, onde 0 é “não fiz isso ainda” e 5 é “faço sempre”. Em junho, mais da metade das respostas devem receber ao menos a nota 3. Em novembro, nenhum tópico pode ter menos que 2 e cinco deles devem ter nota 5.
Repense as regras. Foque nas que importam. Proibir o boné é realmente importante? Quando os alunos acham as normas injustas ou aleatórias não veem razão para cumpri-las.
Os alunos devem responder ao seguinte questionário:
As respostas podem ser anônimas, com notas de 0 a 3, sendo que 0 é nunca e 3 é sempre. Tabule os dados e veja quais os pontos precisam de mais atenção. Reaplique-o em junho e em novembro para avaliar se as ações têm sido efetivas.
O livro Bullying: Quem Tem Medo?, de Luciene Tognetta, traz uma proposta de um programa de convivência para ser implantado na escola. A ideia é que as ações sugeridas na obra previnam todo o tipo de conflito que surja no ambiente escolar – não só o do título do livro.
Saiba o que você quer – e o que seu chefe quer. Muitas vezes, as relações se desgastam porque as expectativas do professor em relação ao diretor (e vice-versa) são diferentes do que ocorre na prática. A solução? Manter uma comunicação clara e transparente. Se a iniciativa não parte do gestor, proponha você mesmo uma conversa para saber o que ele espera do seu trabalho e quais indicadores podem ser definidos para as metas.
No canal de GESTÃO ESCOLAR no YouTube, você encontra uma série de vídeos sobre as relações entre professores e gestores na escola.
Responda ao seguinte questionário:
Estabeleça uma pontuação para cada questão, tendo 0 como o pior indíce da escala e 4 como o melhor. Depois de seis meses, todas as repostas precisam ter tido um aumento de ao menos 50% na nota.
Ao detectar os problemas de relação na equipe, seja propositivo. Em vez de chegar com críticas e reclamações, sugira maneiras dos conflitos serem resolvidos, não se excluindo da sua responsabilidade por eles.
Conheça as famílias e a realidade delas. Uma das opções é realizar visitas domiciliares para saber como é o aluno em casa, o que gosta de fazer e como vive e orientar a família sobre como acompanhar melhor a aprendizagem. Como isso nem sempre é viável, vale criar momentos para que cada estudante apresente o bairro, a família, o que gosta de fazer junto com os pais, no que gostaria que eles fossem mais presentes. São informações que podem basear ações de aproximação com Wos responsáveis.
É importante estabelecer metas de participação da família – quantitativas e qualitativas. Exemplos: terminar o primeiro semestre com 40% das famílias participando dos encontros, número que deve subir para 75% no segundo semestre; e, no fim do ano, ter conseguido que dois pais, daqueles considerados mais ausentes, tenham se envolvido em alguma proposta, como compartilhar a história do processo migratório da sua familía com a turma.
Envie o seguinte questionário aos pais:
Em quadradinhos, as famílias deverão atribuir cores: verde para sim, amarelo quando for às vezes e vermelho para não. Deixe espaço para que elas comentem o porquê das escolhas e proponham mudanças. Exponha o resultado em um mural, junto com as ações que estão sendo feitas para reverter a situação para que a família veja que sua participação é reconhecida e valorizada.
A pesquisa Família, Escola, Território Vulnerável, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), está disponível.
A expectativa de presença das famílias pode não corresponder à realidade delas. É comum que os pais que deveriam estar mais presentes sejam os mais ausentes. Isso ocorre porque são eles os mais distantes do universo cultural da escola por terem estudado pouco ou nada. Ao acolher bem o aluno e conhecer seu universo, a escola facilita a aproximação da família, que abandona a postura defensiva.
Antes de tudo, convide as famílias dos alunos com deficiência para uma conversa. São elas que mais podem colaborar com informações – o laudo não define a criança. Cobre que o gestor implante o AEE. Como você vai ver abaixo, o atendimento educacional especializado é um parceiro essencial para auxiliar no dia a dia de quem tem alunos com deficiência. Sem ele, tudo fica muito mais difícil.
Estabeleça indicadores individuais, lembrando que o avanço de cada aluno só pode ser considerado em relação a ele mesmo e nunca em comparação com outros. Para crianças com deficiência mental, por exemplo, pense em metas como o conhecimento e a incorporação de regras sociais e de habilidades ligadas à oralidade.
O plano educacional individualizado (PEI) é o instrumento norteador do trabalho a ser desenvolvido pelo professor da sala regular e do AEE com cada aluno com deficiência. Entre os tópicos que devem ser contemplados estão:
Caso o AEE ainda não esteja estabelecido na rede ou na escola, procure orientações em entidades especializadas como a Apae, que está presente em todos os estados.
Fontes: Ângelo de Souza, professor do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná, Luciene Tognetta, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, Marília Dias, coordenadora da Comunidade Educativa Cedac, Tania Resende, pesquisadora do Observatório Família-Escola, Maria Carolina Nogueira, coordenadora de projetos da Fundação Lemann, Joe Garcia, professor da pós-graduação em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná, Carlota Moraes, gerente de desenvolvimento da OD&M Consulting, Caio Polizel, coordenador de consultoria da Hoper Educação e Felipe Maluf, consultor da YCoach.
Ilustrações: Camila Marques
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