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Jornalismo

Eu me torno professor </br> a cada dia e continuo aprendendo </br> com meu aluno

Para o professor Greiton Toledo de Azevedo, um dos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2016, o preconceito contra Matemática é cultural. Ele trabalha para mudar essa história e prepara aulas para formar estudantes que pensem matematicamente

PorNOVA ESCOLA

06/03/2018

Apaixonado por Matemática, Greiton Toledo foi premiado com o prêmio Educador Nota 10 de 2016. Foto: Raphaela Boghi 

“Minha família queria que eu fosse médico, mas, contra todos, prestei vestibular para Matemática. Desde a 8ª série, meu sonho era ser professor e pesquisador de Matemática. Minha paixão por ensinar e ajudar os outros começou um ano antes, na 7ª série, quando eu fui convidado a ser monitor.

Pesquisar planos de aula para usar a distância

Como sempre fui muito estudioso e ganhei bolsa para cursar o 3º ano do Ensino Médio em uma escola particular. Segui com duas matrículas na escola, uma na instituição particular, onde estudava de manhã, e outra na pública, para onde ia à noite. À tarde, eu ainda trabalhava como jovem aprendiz.

Com 18 anos comecei a cursar Matemática na Universidade Federal de Goiás (UFG). Era muito novo, curioso e apaixonado pela docência. Aos 19, já estava trabalhando como estagiário no Colégio de Aplicação da Federal e fiz formação em programação. Depois de formado, passei em um concurso para dar aula no Ensino Médio do Colégio de Aplicação e para o Fundamental 2 no município de Goiânia. Minha primeira turma foi um 5º ano. Desde o primeiro ano como professor, eu trabalho das 7h às 23h, todo dia, inclusive final de semana.

Sempre criei aulas para que os alunos pensassem criativamente. Sou empolgado por desmistificar a Matemática e investir na construção crítica dos conceitos. Estou terminando agora meu mestrado em Educação Matemática pela UFG, com ênfase em Matemática Computacional. Trabalho também como formador de professores e há dois anos participo do Grupo de Pesquisa e Formação em Educação Matemática, o Matema, também da UFG. No ano que vem, parto para o doutorado. Devo pesquisar e escrever minha tese no estado de São Paulo, de onde recebi dois convites. 

Sou um militante da Educação Básica e da escola pública. Os problemas lá são reais, as lutas são enormes – a falta de motivação do aluno, a falta de base familiar, as crianças que não sabem trabalhar em grupo ou receber um não. Em 2014, entrei numa escola pública afastada, marginalizada, em área de violência, que atende alunos com falta de tudo em casa. Hoje, vejo a turma motivada pela Matemática, querendo ir pra escola dialogar, construir saberes. Como são crianças carentes, comprei pastas e cadernos para elas. Tive apoio de pais, mas gastei do meu próprio bolso para que todos pudessem participar do projeto Mattics, com o qual fui um dos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2016.

Ser professor é uma profissão, não um sacerdócio. É ter espaço para formar pessoas com espírito crítico. É não considerar apenas o produto do trabalho, mas o processo. E digo sempre que não foi do dia para a noite que me tornei professor. Eu me torno professor a cada dia, continuo aprendendo com meu aluno – e isso é um movimento muito forte. Não vejo outra carreira tão linda, nobre e importante para a sociedade.

Costumo dizer que existem dois tipos de alunos: quem já aprendeu Matemática e quem está aprendendo. O preconceito contra a disciplina é cultural, socialmente construído e, muitas vezes, o bloqueio vem porque os professores que estão na base não gostam dela. Não há neutralidade em nenhum assunto pedagógico, ele é munido de intencionalidade. Hoje, nós pensamos como o aluno aprende, planejamos, discutimos e analisamos se o estudante gostaria de ter a aula que programamos. Mas precisamos de tempo para isso, o que nem sempre o professor tem.

Quando eu planejo uma aula, sempre considero se a aula vai fazer com que o aluno pense matematicamente. Cuido para que as ideias sejam mobilizadas, garanto que se faça uso de discussão e de argumentação. Quando insiro a tecnologia em sala de aula, preciso ter cuidado redobrado para não correr o risco de reduzir a atividade a passatempo, em vez de trazer um aprendizado realmente significativo.

No início do ano, faço questão de perguntar ‘quem gosta de Matemática’? Dois ou três levantam a mão. Ao longo do ano eu me esforço para mudar isso. Hoje, tenho orgulho de ter alunos medalhistas e de levar as crianças para a universidade para apresentar uma palestra sobre algoritmos computacionais. A escola não é só pra aprender o conteúdo, deve ser um espaço para debater ideias, e a Matemática não pode ficar de fora disso.”

Greiton Toledo de Azevedo é professor de Matemática na EM Irmã Catarina Jardim Miranda, em Senador Canedo, região metropolitana de Goiânia e Educador Nota 10 de 2016.

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