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Jornalismo

6 formas de usar a descoberta de novos planetas na sua aula

Notícia pode ser usada em diversas disciplinas, da Matemática à Filosofia

PorUbiratan Leal

07/03/2017

A comunidade astronômica está bastante animada nas últimas semanas. E tem bons motivos para isso. Em 22 de fevereiro, a Nasa (agência espacial norte-americana) anunciou a descoberta de sete planetas dentro da zona habitável (região que permitiria a existência de água em estado líquido em sua superfície, condição considerada obrigatória para o surgimento de vida) da estrela Trappist-1. Uma descoberta localizada a 40 anos-luz da Terra, mas que pode ter uma aplicação imediata na sala de aula de qualquer escola de Ensino Fundamental ou Médio no Brasil.

Ainda é cedo para saber se há seres vivos em algum desses astros, ou mesmo se todos eles têm realmente atmosfera e água em estado líquido. Isso só será possível em alguns anos, quando um novo telescópio espacial, será colocado em operação.

NOVA ESCOLA conversou com Jorge Meléndez, professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo, onde lidera um grupo de estudos na área de exoplanetas (aqueles planetas de fora do nosso sistema solar), astrofísica estelar e populações estelares em nossa galáxia, que deu algumas sugestões de como aplicar esse conteúdo no Ensino Básico. Confira:

Ciências em geral

“Um telescópio no Chile havia descoberto dois planetas no sistema Trappist-1 no ano passado. Com base nisso, os cientistas resolveram investigar com mais detalhes e acharam os outros cinco. Agora vem a nova fase da pesquisa, com coletas de novos dados para verificar as teorias levantadas. Só esse processo já ajuda o aluno a entender como funciona o método científico, com o estabelecimento de hipóteses, teste e avaliação. Os astrônomos têm forte suspeitas de que existe vida em outros planetas, mas precisam de provas coletadas de forma criteriosa para confirmar.”

Ciências/Biologia

A água líquida é considerada fundamental por servir de meio para as reações químicas que podem resultar no surgimento e na sustentação de seres vivos. No nosso sistema solar, a Terra é o único planeta dentro da zona habitável. “Essa questão ajuda a entender o surgimento de vida no nosso planeta e alevantar o debate sobre a importância de preservar esse recurso aqui. Além disso, podemos fazer o aluno refletir sobre como as condições ambientais em outros corpos celestes podem ou não sustentar vida, ou sustentar vidas diferentes das que conhecemos.”

Ciências/Física

“A existência de água líquida depende da temperatura do planeta. Ela está relacionada à distância do planeta em relação a sua estrela e também à temperatura da estrela. Os corpos descobertos pela Nasa agora estão muito mais próximos de sua estrela que a Terra em relação ao Sol, mas a Trappist-1 é uma estrela pequena, menos quente, então, sua zona habitável é mais próxima que a nossa. É um meio interessante de se estudar temperatura. Também podemos usar a distância entre a Trappist-1 e a Terra [40 anos-luz, ou 378,43 trilhões de quilômetros] para montar problemas de cálculo, como descobrir quanto tempo uma onda de rádio ou uma sonda levaria para chegar lá. Por fim, os cientistas vão estudar a presença de atmosfera, e uma das formas de descobrir isso é com desvio da luz quando passa por ela.”

Matemática

“Os astrônomos usam geometria para calcular a distância de um corpo celeste da Terra. Observamos a posição do astro a partir de dois pontos distintos. A partir daí, desenhamos um triângulo em que conhecemos a base – a distância entre um ponto de observação e outro – e um dos ângulos. Depois, isso se transforma em um problema simples de geometria: a altura desse triângulo é a distância entre a Terra e esse corpo.”

Geografia

Os cientistas imaginam que os sete planetas descobertos estejam tão próximos da Trappist-1 que eles não teriam movimento de rotação. Dessa forma, uma face fica sempre voltada à estrela e a outra, sempre no escuro. Com isso, a tendência é uma grande variação de temperatura em cada hemisfério do planeta. Mas aí entra a atmosfera. “Ainda estão estudando se há gases ao redor desses planetas, mas ela teria o papel fundamental de regular o clima, de distribuir o calor entre uma região e outra. A atmosfera também faz na Terra essa papel, e dá para usar esse exemplo mais claro dos novos planetas para falar sobre como isso ocorre aqui.”

Filosofia e História

“A questão mais imediata quando se fala em estudo de planetas em outros sistemas solares é ‘estamos sozinhos no universo?’. Só isso já permite muita discussão filosófica. Mas dá para ir mais longe. Se descobrirmos que realmente existe vida, o que vamos fazer? Há cientistas que defendem que fiquemos só observando, para não interferir. Há outros que defendem o contato com as espécies descobertas. Tendo em vista a distância de 40 anos-luz e nossa tecnologia, a chance real de contato é mínima, mas é um ponto válido para se debater a ética científica e até História. Afinal, estaríamos colocando dois ecossistemas diferentes em contato, com riscos de um causar danos ao outro. Foi o que ocorreu com os colonizadores europeus quando chegaram à América, causando a morte de milhões de indígenas americanos por doenças que eles não estavam preparados a enfrentar.”

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