O que o filme “Estrelas Além do Tempo” tem a ver com a sua aula
Luta das mulheres, diversidade, racismo, corrida espacial e Guerra Fria são alguns dos temas abordados no longa que você pode trabalhar com a turma
06/03/2018
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Jornalismo
06/03/2018
Baseado em fatos reais, o filme Estrelas Além do Tempo (Theodore Melfi, 2h07) conta a história de três cientistas negras que trabalharam na NASA durante a década de 1960 e colaboraram para a conquista espacial: Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson.
Indicado ao Oscar de 2017 nas categorias de melhor filme, melhor atriz coadjuvante (Octavia Spencer) e melhor roteiro adaptado (Theodoro Melfi), o longa está entre os dez filmes de maior bilheteria de fevereiro nos cinemas do Brasil e dos Estados Unidos e levanta muitos temas que podem contribuir com sua aula.
Abaixo, destacamos as questões sociais, raciais, históricas e políticas presentes na narrativa e damos sugestões de como você pode trabalhá-las com a turma.
Local: Estados Unidos
Época: década de 1960
É nesse contexto de corrida espacial, segregação racial e luta das mulheres que Katherine Johnson (interpretada pela atriz Taraji P. Henson), uma matemática negra brilhante, é escolhida para trabalhar no Grupo de Missão Espacial, que pretende enviar o primeiro homem ao espaço (e, posteriormente, à Lua).
Computadores ainda não eram utilizados para realizar cálculos complexos, por isso, ela mesma precisa realizar e conferir as contas que vão garantir que os astronautas consigam ir e voltar do espaço em segurança. Katherine é a única mulher e a única pessoa negra nesse grupo e sofre com a desconfiança e desvalorização.
Ela tem seu trabalho dificultado e é impedida de assinar os relatórios que realiza. Além disso, ela precisa andar quase um quilômetro para usar o banheiro destinado a pessoas negras e os colegas não aceitam dividir a mesma cafeteira com ela.
Já Dorothy Vaughan (papel que rendeu à Octavia Spencer a indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuavante) trabalha como supervisora dos “computadores negros” (equipe que realizava cálculos), mas sem receber formalmente esse título, pois é mulher e negra.
Ao saber que a Nasa comprou um novo e potente computador, o IBM, ela descobre que ele é capaz de realizar 24 mil cálculos por segundo, o que pode colocar em risco seu emprego e de outras colegas. Para evitar que elas sejam dispensadas depois de a máquina começar a funcionar, Dorothy resolve aprender e ensinar as mulheres como programar.
(Todas as vezes que temos a chance de avançar, eles mudam a linha de chegada. Todas as vezes)
Mary Jackson (Janelle Monáe) sonha em atuar como engenheira, mas tem seu pedido para entrar no programa de treinamento de engenheiros da Nasa negado (os requisitos foram mudados justamente para que ela não pudesse concorrer).
Determinada, ela resolve apelar para a justiça com o objetivo de se tornar a primeira mulher negra a estudar na Universidade da Virgínia. Ela consegue, vira a primeira engenheira da NASA e trabalha na construção da cápsula que lançaria o homem ao espaço.
Deu para perceber que ser uma mulher negra, especialmente naquela época, é muito difícil. Katherine, Dorothy e Mary sofrem preconceitos de todos os lados. Tanto de homens e mulheres brancas, como de homens negros, que se sentem superiores por serem homens.
Apesar disso, o filme deixa claro que, sem essas três protagonistas, os Estados Unidos demorariam muito mais para lançar um homem ao espaço. Se elas tivessem sido valorizadas e inseridas antes nos programas para a missão espacial, o país poderia ter saído na frente da União Soviética.
“O Estado soviético recrutou cérebros em todos os lugares. Além de trazer essa diversidade para o projeto de desenvolvimento do país, na época, eles estavam na frente na questão do preconceito em relação a mulher”, diz Juarez Xavier, professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação e Coordenador do Núcleo Negro da Unesp.
Nem sempre o que aparece no filme é totalmente fiel ao que realmente aconteceu. Isso não costuma ocorrer nem quando o longa é uma adaptação de um livro. Essas diferenças entre um e outro são normais e, em geral, servem para ajudar na narrativa cinematográfica, dando mais dramaticidade, ou para ajustar a história à linguagem do meio em que ela está sendo contada.
Em Estrelas Além do Tempo, por exemplo, o diretor da Nasa, Al Harrison (Kevin Costner), fica indignado ao descobrir que sua funcionária precisa fazer uma grande caminhada para usar o banheiro destinado às pessoas negras.
<ALERTA PARA SPOILER> Por isso, ele quebra a placa que indica “banheiro para pessoas de cor” e diz que, a partir daquele momento, não haverá mais essa distinção. Além de dar a ele o papel de “justiceiro”, a cena disfarça o que realmente aconteceu: os banheiros continuaram separados, apenas Katherine recebeu autorização para usar o banheiro para pessoas brancas. <FIM DO SPOILER>
O título original de Estrelas Além do Tempo é Hidden Figures, que, em tradução literal, significa Figuras Escondidas. Escondidas porque poucas pessoas têm conhecimento de que mulheres negras trabalharam tão ativamente para a conquista espacial. Mas, na adaptação para o português, o nome ficou Estrelas Além do Tempo. “Essa adaptação esvazia o sentido crítico do filme. Mais uma vez, o mito da democracia racial presente no Brasil mascara o problema”, defende Juarez Xavier, da Unesp.
Imagens: Divulgação
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