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Jornalismo

Disseram que meus projetos não me levariam a lugar nenhum

Wemerson Nogueira ignorou as críticas e hoje acumula prêmios como o Educador do Ano de 2016

PorWemerson Nogueira

03/02/2017

Wemerson da Silva Nogueira tem 26 anos e há 5 se dedica à docência. Crédito: Diana Abreu

“Nos meus tempos de estudante, eu conversava muito e tirava a atenção dos colegas. Por conta desse meu comportamento hiperativo, me colocaram para ser monitor nas aulas de Ciências no 9º ano. Foi a forma que a professora encontrou para eu ser produtivo dentro de sala. Já no Ensino Médio, entrei pela primeira vez no laboratório de Química. Foi ali dentro que começou o meu enorme interesse pelo mundo da experimentação.

Alguns anos depois, fui fisgado pela docência enquanto cursava o segundo período da Faculdade de Química a distância na Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), no polo de Mucurici (ES). Já nessa época, eu sonhava desenvolver projetos com meus futuros alunos por ser algo que sempre me encantou quando eu estava na escola.

Na primeira instituição em que trabalhei, na periferia de Nova Venécia (ES), os professores eram pouco motivados e os alunos menos ainda. Quando cheguei, a diretora me disse que eles tinham um problema: começavam o ano com 400 estudantes e terminavam com pouco mais de 300. Mas entrei com energia para mudar essa realidade.

Criei um projeto chamado Jovens Cientistas, Projetando um Futuro Melhor e envolvi outros docentes para diferenciar as aulas e atrair os estudantes. Também convidamos os pais para valorizar o estudo dos filhos. Queria ensinar minha disciplina de um jeito diferente. Em 2014, outro projeto – o “Karaoquímica” Aprendendo Química com a Arte de Cantar – me rendeu o segundo lugar no prêmio de Boas Práticas, da Secretaria Estadual de Educação. Ganhei uma TV e 20 mil reais para a escola, que na época alcançou visibilidade e montou um laboratório, que hoje é centro das atenções.

Aquilo só me motivou. Em 2015, implantei um projeto de Escola Virtual em uma outra instituição e me inscrevi no prêmio Inovação na Gestão Pública do Estado do Espírito Santo. Levei menção especial por atitude empreendedora. Em 2016, além de ser o Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10, também fiquei entre os finalistas de dois prêmios estaduais e de um internacional, o Global Teacher Prize, que reconhece educadores com trabalhos de destaque ao redor do mundo.

O engraçado é que eu sempre ouvi de colegas que meus projetos não levariam a nada, que era para desistir. Também sofri pela falta de apoio de gestores e muita perseguição dentro da escola. Os pedagogos escolares (como são chamados os coordenadores no Espírito Santo) bloqueavam os meus trabalhos, muitas vezes por excesso de regras. “Ah, não vamos liberar o uso do celular durante as aulas, não vamos organizar um debate ou um passeio fora da escola, temos outras prioridades...”, era o que diziam. Mas como eu trabalhava em mais de uma escola, foquei nas que me davam espaço. Nelas, desenvolvi projetos e os inscrevi nas oportunidades que surgiam. Os prêmios vieram para comprovar que aquelas pessoas estavam erradas.

Ser professor me deu três coisas: reconhecimento e valorização do meu trabalho (e não tem salário que pague isso); a oportunidade de dar sentido à vida do aluno na sala de aula, promovendo uma aula diferenciada; e a esperança de que é possível mudar uma situação. Mesmo diante de todas as dificuldades que permeiam a vida profissional docente, precisamos trabalhar com convicção.

O que mais me orgulha é saber que estudei a distância. Precisei me dedicar muito para fazer tudo online. As pessoas não valorizam a EAD, mas se admiram quando digo que me formei assim e veem que tenho toda essa bagagem como professor. Dá o maior orgulho saber que venho de família humilde, cursei escola pública, fiz uma graduação a distância – que era o curso que eu podia pagar – e isso me levou à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em que fui convidado a fazer o mestrado em Química. Também vou contribuir com a equipe do meu estado que irá trabalhar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a reforma do Ensino Médio. Para isso, vou ficar um período em Brasília a partir de abril. A Secretaria Estadual de Educação me chamou para dar palestras sobre desenvolvimento de projetos para professores da rede pública. Depois, vou fazer monitoria com os interessados, dando suporte e segurança para quem se dedicar a projetos com suas turmas.

O trabalho Filtrando as lágrimas do Rio Doce cresceu e ganhou mais apoio depois da premiação.  Entre outras coisas, a Secretaria do Meio Ambiente está propondo um projeto de lei (PL) para instituir a Semana Estadual de Preservação Ambiental da Bacia do Rio Doce (de 5 a 10 de novembro), para falar para crianças e jovens da Educação Infantil ao Ensino Médio. Acho que a palavra mobilização é a melhor para expressar o momento da Educação. Eu era professor até 2015, agora digo que sou um mobilizador!”

Wemerson da Silva Nogueira, professor de Ciências na EEEFM Antônio dos Santos Neves, em Boa Esperança (ES), e Educador do Ano de 2016

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