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Há 13 anos, um projeto realizado nas escolas da rede pública municipal de São Paulo propunha que os estudantes refletissem sobre suas realidades e propusessem soluções para os problemas encontrados. Meninas de 7 e 8 anos disseram que no banheiro das crianças na escola não havia papel higiênico, enquanto que no dos professores sobravam rolos. Resolveram mostrar à comunidade tal injustiça e encontrar caminhos para mudar as coisas. Para isso, produziram uma fotonovela.
O processo não foi tranquilo. Em um primeiro momento, gestores e professores não queriam permitir que as meninas manipulassem câmeras e filmadoras digitais. Aos poucos, porém, passaram a colaborar no planejamento das ações e na mediação das vivências. O foco do trabalho docente foi o de propor que os alunos explicitassem suas ideias produzindo um storyboard (leia sobre como elaborá-lo, aqui e aqui), elaboraram os diálogos e exploraram os equipamentos por meio de testes de enquadramento, luz, cenário e pose. Depois, junto com os docentes, fizeram a revisão da escrita.
Com a fotonovela pronta, os papéis higiênicos passaram a ser repostos nos banheiros e até a reforma desses ambientes entrou na fila das prioridades. O projeto ainda foi compartilhado e replicado em outras escolas.
Esse caso bem-sucedido nos faz pensar que a produção de fotos, áudios e vídeos podem ser experiências cognitivas significativas e reais, além de narrativas digitais da participação histórica da garotada no ambiente escolar e no mundo. E, para isso, precisamos superar o medo de que eles danifiquem os aparatos tecnológicos. A realidade já é outra, e não como a das décadas de 1970 e 1980, quando uma Pentax ou uma Kodak só repousavam nas mãos de profissionais treinados para manipular as mágicas máquinas fotográficas. Naquele tempo, as filmadoras VHS eram objetos que crianças não podiam tocar, e microfones repousavam nas lapelas de sisudos apresentadores do jornal.
Hoje, ainda bem, não é mais assim. Há muitos exemplos de como isso é possível. O coordenador pedagógico Ricardo de Souza, da EMEI CEU Casa Blanca, em São Paulo, por exemplo, convidou seu grupo de professores a levar câmeras, fotos impressas e digitais para a reunião. A proposta é que deveriam construir uma linha do tempo sobre como a fotografia fez parte da vida de cada um. Os educadores notaram que o registro fotográfico avançou do âmbito particular para uma dimensão virtual, de publicação aberta na web e, portanto, mundial. Isso é interessante porque nos traz inúmeras possibilidades de compreensão, como a de que a produção de imagens e vídeos, antes exclusiva aos grandes veículos de comunicação, avança para outros campos e ganha novas funções, inclusive sociais.
Já a professora Cida Ruiz, também da EMEI CEU Casa Blanca, desenvolveu um projeto sobre o olhar das crianças em relação aos momentos de convivência com os familiares. Para isso, ousou! Mandou a máquina digital para a casa dos pequenos e possibilitou que eles ampliassem a maneira de contar como veem, interpretam e compreendem o mundo.
Na EMEI Eunice dos Santos, em São Paulo, as explorações e descobertas das crianças passaram a ser registradas no canal de TV que o professor Marcelo Santos criou para eles, a TV Cedro Rosa. E na EMEI Guia Lopes, também em São Paulo, o dia-a-dia da turma foi discutido e refletido por meio do programa de rádio Tem Gato na Tuba, transmitido na escola e nas redes sociais.
Tudo isso nos mostra que o desafio proposto aos educadores é para que desenvolvam vivências reflexivas no contexto de uma sociedade digital. É a transformação do consumidor em produtor de fotos, áudios e vídeos que possibilitem pensar, descobrir, compreender e se relacionar com o mundo em que vivemos, as pessoas, as ciências e as tecnologias.
Espero que tenham gostado desse nosso primeiro encontro. Estarei por aqui uma vez por mês para conversar sobre desafios e caminhos para a integração cheia de sentido entre tecnologia e escola. Aliás, aproveito para me apresentar:
Aproveito para me apresentar. A partir de agora, estarei por aqui uma vez por mÇes:
Boas reflexões e até o próximo post,
Jane Reolo