Compartilhe:

Jornalismo

Muito se fala sobre feminismo, mas na literatura (e em outras áreas também) continuamos tendo como exemplo unicamente o que é produzido pelos homens, e poucas pessoas dão atenção à isso. Nos livros didáticos de português, a maioria dos textos são de homens; se perguntadas sobre autores, a maioria das pessoas só se lembrarão de homens; das 9 leituras obrigatórias para a prova da Fuvest, NENHUMA é de mulher; das 40 cadeiras da Academia Brasileira de Letras apenas 5 são ocupadas por mulheres. Quer dizer que mulher não sabe escrever? Quer dizer que o que as mulheres escrevem não é digno de ser conhecido? Não. Quer dizer que nem a literatura está livre do machismo.

Em  2014, a escritora Joanna Walsh propôs o projeto #readwomen2014 (#leiamulheres2014), cuja proposta era incentivar a leitura de escritoras. Conheci a campanha no final de 2015 e decidi então que 2016 seria um ano dedicado principalmente a leitura de livros escritos por elas (ainda que continue lendo produções masculinas). Participei de um amigo-livro (amigo-secreto onde todos os participantes se presenteiam com livros) e pesquisei vários títulos para colocar na lista de pedidos; a única exigência foi “Quero livros escritos por mulheres”. Compartilho agora algumas das autoras que conheci:

lupe

Lupe Cotrim. Foto: Dossiê Lupe Cotrim

Lupe Cotrim é um dos grandes nomes da poesia brasileira da década de 1960, porém é pouco conhecida atualmente. Integrou a equipe dos professores-fundadores da Escola de Comunicações e Artes da USP, lecionando Estética e Pensamento Filosófico. Devido à sua atuação diante dos desafios da recém-criada faculdade e ao seu posicionamento frente a conjuntura política adversa por que passava o país, o Centro Acadêmico da escola recebeu o seu nome após sua morte de câncer aos 36 anos. Lupe tem oito livros de poesia publicados (sendo dois póstumos), porém só consegui encontrá-los para venda em sebos virtuais. Parte de sua obra está disponível na internet e você pode conferir alguns de seus poemas aqui.

paulina

Paulina Chiziane. Foto: Companhia das Letras/ Divulgação

Paulina Chiziane é a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. Neta de uma contadora de histórias, ela fez da tradição familiar uma profissão. Em seus oito livros, Paulina aborda suas raízes culturais e temas como miscigenação na África, casamento, prostituição e até mesmo a loucura feminina.

NIKETCHE

Em Niketche (344 págs., Ed. Companhia das Letras, tel. 11/3707-3501, 59,90 reais), a personagem Rami descobre que o homem com quem é casada há 20 anos tem outras quatro esposas e vários filhos. Ao narrar a busca de Rami por essas outras mulheres, o romance retrata uma incursão pelo desconhecido e uma tentativa de lidar com a diferença, simbolizada pelas amantes do marido.

Foto: Acervo pessoal

Cidinha da Silva. Foto: Acervo pessoal

Cidinha da Silva é mineira e formada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Incomodada com questões sociais, de gênero e étnico-raciais, a escritora começou a escrever em 2006 e até o momento já publicou oito livros, entre romances, literatura infanto-juvenil e crônica sobre essas temáticas. Como escritora e mulher negra, ela usa seu trabalho para quebrar paradigmas da literatura afro brasileira. Em seu blog, Cidinha divulga livros e textos.

pentes1

Sua estreia na literatura infanto-juvenil foi o livro Os Nove Pentes d’África (56 págs., Ed. Mazza Edições, 31/3481-0591, 20 reais). Nele, o velho artista Francisco Ayrá deixa um pente africano como herança para cada um dos nove netos. Esses nove pentes representam sentimentos  e virtudes, como: amor, alegria, liberdade, abundância, generosidade, sabedoria e o tempo. Por meio da leitura do livro, a escritora convida crianças, adolescentes, jovens e adultos a desembaraçar as histórias que nos levam até esses preciosos valores humanos.

alice

Alice Sant’Anna. Foto: Alexandre Sant’Anna

Alice Sant’Anna é carioca e tem apenas 28 anos de idade, mas já escreve desde os 16. Em 2008 publicou seu primeiro livro, Dobradura (64 págs., Ed. 7 letras, 21/2540-0076, 29 reais) – considerado na época o livro do ano pelo Jornal do Brasil. O livro tem poemas sobre coisas simples interpretadas com um humor bem peculiar e inesperado. Alice nos mostra que a poesia está nas coisas mínimas: anotações, objetos, gatos, peixes, cachorros e formigas.

dobradura

Hoje, com mais dois trabalhos publicados, a autora também é colaboradora da revista Serrote, publicada pelo Instituto Moreira Salles, e do jornal O Globo.

Foto: Bel Pedrosa

Angélica Freitas. Foto: Bel Pedrosa

Angélica Freitas nasceu em Pelotas em 1973. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente atua como poeta e tradutora. Seus poemas foram publicados pela primeira vez em 2006, na antologia de poesia brasileira contemporânea publicada na Argentina, Cuatro Poetas Recientes del Brasil (126 págs., Ed. Black Vermelho),organizada e traduzida pelo poeta e crítico argentino Cristian De Nápoli. Seu primeiro livro solo, Rilke Shake (72 págs, Ed. Cosac Naify, indisponível) veio no ano seguinte.

umútero

Um Útero é do Tamanho de um Punho (96 págs., Ed. Cosac Naify, indisponível) é um livro onde a mulher aparece como centro. Mas o que seria essa figura feminina? Em 35 poemas, a autora nos traz uma visão ao mesmo tempo séria e bem humorada. Nele, a autocrítica também questiona o mundo.

Se você se interessou em ler livros escritos por mulheres, vale ficar de olho no site da campanha Leia Mulheres e na página Leia Mulheres Negras. Além de boas indicações, às vezes também acontecem rodas de conversa sobre as obras.

E aí, gostou das dicas? Conhece outras boas escritoras que gostaria de indicar? Conte pra gente nos comentários.

Um abraço,
Nairim Bernardo.

continuar lendo

Veja mais sobre

Últimas notícias