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Jornalismo

Do que é feito um bom livro-imagem

O livro que mais me chamou a atenção se chama A Bruxa e o Espantalho, do mexicano Gabriel Pacheco, cuja ilustração abre este post. Ele tem uma linguagem aparentemente sombria.

PorAnna Rachel Ferreira

24/06/2015

Ilustração de Gabriel Pacheco para o livro A Bruxa e o Espantalho.

Sempre tive dificuldade de avaliar um livro-imagem, ou seja, aquele com narrativa contada somente por fotos e/ou ilustrações, sem texto. Eu sempre pensei neles como alternativa para os pequeninos que ainda não sabiam ler e, por essa razão, achava que os melhores seriam os alegres. Afinal, as crianças merecem coisas coloridas e felizes, certo? Errado!

No início do ano, participei de um curso sobre o assunto na Escola da Vila, em São Paulo. Voltei encantada e com algumas ideias modificadas. O livro que mais me chamou a atenção se chama A Bruxa e o Espantalho, do mexicano Gabriel Pacheco, cuja ilustração abre este post. Ele tem uma linguagem aparentemente sombria. As páginas são acinzentadas, bem escuras. Afinal, a história é de uma bruxa e de um espantalho. A princípio, dei uma folheada e desisti da leitura. Imaginei que os pequenos também não se interessariam muito.

Na sequência, uma das professoras do curso pegou justamente essa obra para comentar sobre o trabalho realizado com alunos dos anos iniciais. Decidi ler. Na narrativa, a bruxa cai do seu monociclo voador e é banida de sua comunidade. Um pássaro e o um espantalho a observam. O pássaro liberta o espantalho – que se desfaz para que a bruxa construa uma vassoura e voe. Assim, eles ficam juntos no céu. Talvez ele tenha se apaixonado por ela ou tenha sido simplesmente solidário, entendendo que é preciso doar de si mesmo para ajudar outra pessoa (as intenções das personagens são uma interpretação minha. É provável que existam muitas outras). Mas, dentro de toda aquela escuridão, vi a singeleza das ilustrações, a beleza da narrativa e um conjunto que se tornou uma poesia emocionante para mim.

Voltando às experiências que a professora contou, fiquei admirada com a profundidade do que ela alcançou com os pequenos. Percebi que podemos apresentar muito mais do que um livro fofo para as crianças. Elas são capazes de entender coisas mais profundas e expressões extremamente poéticas. Um dos alunos, por exemplo, havia dito que o espantalho estava apaixonado, como eu mesma concluí!. Por essa razão, é possível trazer aos mais novos livros que tratam de assuntos presentes no dia a dia e que causam discussões intensas.

Para além da narrativa, há outros elementos importantes em um bom livro-imagem. Nele, tudo trabalha para comunicar a história da melhor maneira possível. Existem algumas perguntinhas básicas que podem nos ajudar a identificar isso:

  1. O formato é determinante para a expressão que a obra quer passar? Ele afeta nossa apreciação?
  2. A capa e a contracapa apresentam aspectos relevantes que colaboram com a narrativa?
  3. Quais efeitos de sentido o título traz da maneira como é apresentado graficamente e textualmente?
  4. As guardas – ligação entre capa ou contracapa e miolo – são coerentes com a escolha plástica do livro?
  5. A folha de rosto orienta a leitura ou sugere alguma interpretação?
  6. Os fólios – paginação – apresentam marcas relevantes?

Parece exagero pensar em todos esses detalhes, não é mesmo? Mas, provavelmente, o autor cuidou de cada um deles.

E você, que outros livros-imagem já leu ou usou em sala? Compartilhe nos comentários sua experiência.

Até mais!
Anna Rachel

Capa do livro A Bruxa e o Espantalho, de Gabriel Pacheco (Ed. Jujuba, 48 págs., tel.: 11/2592-4302, 42 reais).

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