O feitiço do rio
30/04/2008
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Jornalismo
30/04/2008
Em Manaus, quem não ouviu falar em Amando Cordovil, homem de riqueza e fama tão grandes quanto seu orgulho? Em pleno ciclo da borracha e às vésperas da Primeira Guerra Mundial, ele toca com mãos de ferro uma empresa de cargueiros e enriquece com o transporte de borracha e castanhas. Quando sua mulher morre no parto, ele passa a ter
uma relação de raiva e distanciamento com o filho Arminto. Único herdeiro, o rapaz é criado pela índia Florita, que lhe traduz as lendas da região. Enfeitiçado pelo olhar de Dinaura, a silenciosa órfã que vive com as carmelitas, ele se divide entre se entregar ao desejo ou tocar os negócios do pai. Com narrativa hipnotizante, o autor mistura realidade e ficção na novela Órfãos do Eldorado, inspirada no Amazonas.
Por que ler? O autor transforma os mitos da região em romance.
Sobre o autor Foi professor na Universidade do Amazonas.
TRECHO DO LIVRO
"A voz da mulher atraiu tanta gente, que fugi da casa do meu professor e fui para a beira do Amazonas. Uma índia, uma das tapuias da cidade, falava e apontava o rio. Não lembro o desenho da pintura no rosto dela; a cor dos traços, sim: vermelha, sumo de urucum. Na tarde úmida, um arcoíris parecia uma serpente abraçando o céu e a água.
Florita foi atrás de mim e começou a traduzir o que a mulher falava em língua indígena; traduzia umas frases e ficava em silêncio, desconfiada. Duvidava das palavras que traduzia. Ou da voz. Dizia que tinha se afastado do marido porque ele vivia caçando e andando por aí, deixando-a sozinha na Aldeia. Até o dia em que foi atraída por um ser encantado. Agora ia morar com o amante, lá no fundo das águas. Queria viver num mundo melhor, sem tanto sofrimento, desgraça. Falava sem olhar os carregadores da rampa do Mercado, os pescadores e as meninas do colégio do Carmo. Lembro que elas choraram e saíram correndo, e só muito depois eu entendi por quê.
De repente a tapuia parou de falar e entrou na água. Os curiosos ficaram parados, num encantamento. E todos viram como ela nadava com calma, na direção da ilha das Ciganas. O corpo foi sumindo no rio iluminado, aí alguém gritou: A doida vai se afogar. Os barqueiros navegaram até a ilha, mas não encontraram a mulher. Desapareceu. Nunca mais voltou."
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