Quando eu era criança, escolhia minhas leituras pelas indicações dos professores. Quando adolescente, passei a verificar assiduamente a lista dos mais vendidos. Já adulta, entrei em crise. Muitas pessoas ao meu redor diziam que os tais best-sellers eram literatura pobre e, então, passei a considerar somente as opiniões de críticos literários. Assim nasceu meu preconceito com aqueles que se davam bem no comércio.
Depois de um tempo, me deparei com ótimos livros que também figuravam nas tais listas e fiquei ainda mais atrapalhada. Um deles foi O Caçador de Pipas, do afegão Khaled Hosseini (Globo Livros, 368 págs., tel.: 11 / 3767-7514, 39,90 reais). A obra conta a história de Amir, um afegão radicado nos EUA, mas que volta ao seu país de origem para acertar contas ligadas à sua infância. A história envolvente me prendeu, me emocionou e me marcou bastante. Aspectos que eu valorizo na apreciação de um texto.
Decidi pesquisar e falar com alguns especialistas para compreender melhor o assunto. Descobri, por exemplo, que em 1893, no Brasil, o título O Aborto, de Figueiredo Pimentel, já havia sido considerado um best-seller por vender mais que os mais prestigiados da época. Mas o conceito só foi efetivamente definido na década de 1940 , quando o historiador e jornalista americano Frank Luther Mott estabeleceu um mínimo de um por cento da população do país em vendas durante a década de sua publicação para que uma obra fosse considerada best-seller.
Ou seja, a classificação de um livro como best-seller tem a ver exclusivamente com suas vendas. Na verdade, não faz lá muito sentido que seja visto como um gênero textual. A pesquisadora Jéssica Kurak Ponciano, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), comenta: “Apenas o fato de ter vendido muito não é capaz de anular toda a riqueza artística, a literariedade e a qualidade estética que uma obra pode conter”. Concordo com ela. Mas, por outro lado, sabemos que muitas vezes uma literatura mais fácil de ser apreendida tem mesmo um público maior. Enquanto algo mais complexo perde popularidade por exigir repertório e disponibilidade para ser lido. Porém, isso também não quer dizer que livros “cabeça” sejam, necessariamente, melhores. Vanessa Ferrari, editora da Cia. Das Letras, com quem conversei no post da semana passada, afirma: “Se uma obra é muito ruim ou muito boa, todo mundo reconhece. Mas existe uma faixa muito grande de bons autores que atuam entre as duas vertentes”. E, nessa faixa, é difícil definir taxativamente o veredicto sobre qualidades e fragilidades de um livro.
Depois desse pequeno estudo, conclui que, em geral, há validade na leitura e há mais ainda em um leitor que lê de tudo e sabe reconhecer as qualidades e defeitos do que está consumindo. É possível mesmo ler livros que sabemos não serem literariamente tão bons mas, mesmo assim, ter prazer na leitura. A preferência literária é uma escolha que deve ser respeitada , seja pelas obras mais simples ou mais complexas.
E, você, lê best-sellers? Qual foi o ultimo que você leu? Era bom ou ruim? Conte pra gente aqui nos comentários.
Até mais!
Anna Rachel