Especial Dia do Professor
PorVera Lucia Maria dos Santos
30/09/2008
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Jornalismo
PorVera Lucia Maria dos Santos
30/09/2008
Brasília, 15 de outubro de 2268.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República do Brasil,
Erradicamos a pobreza e muitas doenças. A distribuição de renda prima pela eqüidade, o que permitiu o decréscimo da violência. Revertemos o efeito estufa e o aquecimento global não mais ameaça a existência dos seres vivos. Nossas indústrias são ecotecnológicas. A expectativa de vida é alta e a taxa de mortalidade quase inexistente.
Condições de trabalho satisfatórias e a medicina preventiva têm feito as pessoas adiarem a aposentadoria, desafogando o sistema de previdência. Um judiciário eficiente acabou com a corrupção.
Contudo, a Educação de nossas crianças e jovens preocupa. Desde a implantação do sistema educacional robótico, mediado por computadores, percebemos que os estudantes estão perdendo a capacidade de compreensão do todo, tornando-se incapazes de pensar por si mesmos.
Todo o sistema é previsível: para um problema de Química, apertar o botão Q36; para um fato histórico, aperta-se o H43; para Redação, o código 53, que, seguido do gênero, traz um texto pronto. Matemática já não é mais um problema, como foi para os nossos antepassados: o programa Hackermats num só clique resolve qualquer desafio. Viajar? Bastam simuladores.
Acredito que, se acontecer dos nossos supergeradores entrarem em pane, nossa sociedade será destruída, pois quem conseguiria sobreviver sem os botões da vida ultramoderna?
Soube de uma antiga classe chamada professores, especialistas em fazer pessoas pensarem de forma autônoma, um grupo dos ofícios já extintos, desenvolvidos pelos grandes mestres, que envolvia processos complexos, de dimensões técnicas, éticas e estéticas, entre outras. Tiveram grandes conflitos: às vezes eram considerados sacerdotes e salvadores e em outras, grandes vilões. Trabalhavam em condições precárias e exigia-se deles o uso dos recursos mais modernos. Eram exaltados e ao mesmo tempo enxovalhados. Quando lhes tiraram a autonomia intelectual, não resistiram e pereceram.
Peço, Vossa Excelência, que resgatemos esses profissionais para não morrermos num mar perigoso disfarçado de calmaria. Compreendemos agora, a duras penas, que uma sociedade se faz com uma juventude crítica e quem pode construí-la é um profissional insubstituível chamado professor.
Atenciosamente,
Sócrates de Paulo Freire
Ministro da Educação
Exercício de imaginação
A autora do texto deste mês, a professora Vera Lúcia dos Santos, que leciona na EMEF Professor José Bento de Assis, em São Paulo, para turmas de 6ª série, é a vencedora do concurso Era uma Vez - Especial Dia do Professor, promovido pelo site de NOVA ESCOLA (www.novaescola.org.br) entre 6 de agosto e 12 de setembro.
A carta futurista concorreu com outros 293 contos, crônicas e cartas, enviados por educadores de todo o Brasil, e foi selecionada pela equipe de jornalistas da revista e pela coordenação pedagógica da Fundação Victor Civita por cumprir claramente o que foi proposto: provocar a reflexão sobre a Educação. "Tentei imaginar um mundo sem professores, com máquinas transmitindo conhecimento. Percebi que a idéia não tem sentido porque o professor faz mais do que isso. Ele contextualiza o conteúdo, enxerga o aluno e analisa o aprendizado", diz ela, que leciona Língua Portuguesa e defende o hábito da leitura para seus alunos, explicando que ele ajuda a desenvolver a escrita.
Antes mesmo de saber que tinha sido escolhida vencedora, ela leu a carta para seus colegas professores, que disseram ter sentido um toque de Admirável Mundo Novo, obra de Aldous Huxley (1894-1963) que descreve um futuro com seres humanos despersonalizados. "Fiquei feliz por minhas idéias provocarem um debate no grupo", comemora.
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