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Jornalismo

Lima Barreto, inimigo da desigualdade social

PorNOVA ESCOLA

29/03/2010

Lima Barreto: fotografia da ficha de internação no hospício em 1919. Agência Estado/Reprodução
Lima Barreto: fotografia da ficha de 
internação no hospício em 1919.  
Agência Estado/Reprodução

Lima Barreto escreveu em linguagem simples para ser compreendido pelas pessoas humildes, pois via seus contos e romances como uma arma contra os mecanismos de dominação social. Seus textos apontam no dia-a-dia dos subúrbios cariocas as formas de pressão e controle que a sociedade exerce sobre os indivíduos. Mostram-se situações em que a liberdade de viver é limitada por preconceitos de cor e de classe ou simplesmente porque as idéias diferem das do senso comum. O autor desmascara intenções ocultas nos gestos e atitudes e investiga como os homens são capazes de justificar para si mesmos suas decisões, particularmente as que produzem ascensão social, o que o aproxima de Machado de Assis.

Por ser um observador crítico do cotidiano, Lima Barreto conseguiu transportá-lo para seus livros com olhos de repórter sensível - o que originou uma renovação temática próxima daquela que os modernistas iriam mais tarde promover. Prosadores como Antonio Callado e João Antônio, que aproximam literatura e jornalismo, podem ser considerados seus continuadores.  

Biografia 

Mestiço, de origem humilde, grande escritor: essas palavras poderiam descrever tanto Machado de Assis quanto Lima Barreto, considerado por muitos críticos seu sucessor natural. Porém, Machado de Assis alcançou a maturidade literária e pessoal, enquanto Lima Barreto não conseguiu domar os seus demônios.

Nascido em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro, Afonso Henriques de Lima Barreto era filho de um tipógrafo e de uma professora, ambos mulatos. Perdeu a mãe aos 7 anos. Aos 16, ingressou na Escola Politécnica, mas cinco anos depois seu pai enlouqueceu e o rapaz teve de abandonar os estudos para sustentar a família. Em 1903, com 22 anos, conseguiu um cargo modesto na Secretaria de Guerra e passou a desenvolver uma produção literária sistemática. Em 1904, começou a escrever o romance Clara dos Anjos e, no ano seguinte, iniciou a elaboração de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, publicado em Lisboa em 1909. Também passou a trabalhar como jornalista e fundou, em 1907, a revista Floreal. Quatro anos depois, o Jornal do Comércio publicou, em folhetins, seu romance Triste Fim de Policarpo Quaresma.

Em 1914, Lima Barreto foi internado por alcoolismo no Hospício Nacional. Apesar disso, continuou a colaborar com o jornal Correio da Manhã e a revista Careta, entre outras publicações, e viu o jornal A Noite publicar em folhetins, em 1915, seu romance satírico Numa e a Ninfa. Em 1916, foi internado para tratamento de saúde, devido ao alcoolismo. Em 1917, teve sua candidatura à Academia Brasileira de Letras sumariamente ignorada. Nessa ocasião, escreveu textos em apoio a greves e colaborou na imprensa socialista. Em 1919, ano da publicação do romance Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, candidatou-se de novo à ABL - sem se eleger - e foi internado no hospício pela segunda vez. Em 1921, apresentou-se candidato pela terceira vez à Academia, mas desistiu "por motivos pessoais". A essa altura, as seqüelas do álcool eram irreversíveis. Morreu em 1º de novembro de 1922.

Porta-voz dos excluídos na capital do país

A cidade em que Lima Barreto nasceu e morreu foi, para ele, um cenário de exclusão. Em vez da orla elegante, onde os rapazes da elite branca se divertiam em festas e jogavam foot-ball, sua realidade era o subúrbio carioca de Todos os Santos, onde morava numa casa simples. Em vez dos salões da Academia Brasileira de Letras, reduto da elite intelectual, conheceu as enfermarias do Hospício Nacional, fundado em 1852 e descrito no livro de memórias Cemitério dos Vivos. Em vez das confeitarias sofisticadas, conhecia como ninguém os botequins da cidade e também as salas acanhadas das associações operárias e da imprensa socialista, com as quais colaborou: ele
foi o primeiro dos grandes escritores do país a contestar abertamente, em seus textos, a desigualdade social.

Quer saber mais?

Os Melhores Contos de Lima Barreto, Francisco de Assis Barbosa (org.), 174 págs., Ed. Global, tel. (11) 3277-7999, 27 reais
Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Lima Barreto, 208 págs., Ed. Ática, tel. (11) 3990-1777, 15,50 reais 
Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto, 200 págs., Ed. Martin Claret, tel. (11) 3672-8144, 10,50 reais 

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