Outros jeitos de jogar peteca na escola
Por meio de pesquisas e atividades práticas, o grupo deu novas formas à brincadeira
01/08/2013
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Jornalismo
01/08/2013
Nas ruas e praças de Belo Horizonte, é comum encontrar crianças e adultos jogando peteca. O jogo faz parte do repertório cultural de quem vive na capital mineira e foi escolhido para integrar o currículo de Educação Física da EE Pedro II, no centro da cidade. Localizada em um prédio tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), a escola não conta com quadras. "As aulas da disciplina são ministradas nas salas e no pátio interno, e o planejamento foi organizado de acordo com as orientações didáticas da área e os espaços disponíveis", explica a professora Cristiane Guieiro Guimarães, uma das responsáveis pela proposta curricular da instituição.
Orientado por ela, Anderson Campos Taranbal, docente que trabalha com as turmas de 6º ano, propôs uma sequência didática sobre peteca. Tudo começou durante uma conversa com a moçada a respeito do jogo. "Perguntei o que os alunos sabiam sobre essa prática e quais expe-riências tinham, pedindo que as relatassem", diz ele. Em seguida, o educador apresentou textos sobre o jogo e discutiu o papel cultural dele.
É interessante que a seleção do que será tematizado seja feita em função de um mapeamento inicial da cultura corporal dos estudantes e da comunidade. Isso não significa que a turma tem de conhecer todas as opções que vão entrar no currículo. Durante a vida escolar, o repertório vai se ampliando e diferentes referências devem ser incluídas. Como indica o artigo Em Defesa do Jogo Como Conteúdo Cultural do Currículo da Educação Física, de Marcos Neira, Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2009, "o importante é que todos saibam que o jogo (que vão estudar) existe e constitui-se em patrimônio cultural de um grupo específico".
Após a troca de ideias do início da aula, Taranbal propôs que cada estudante investigasse individualmente, em casa, a história da peteca, a relação dela com Belo Horizonte e as possíveis variações dessa prática. "Pesquisas como essa têm de ser orientadas. É importante elaborar um roteiro para guiar os alunos e pensar em como usar os elementos da investigação. O grande sentido da atividade é produzir referências sobre a linguagem corporal e aproveitar essas informações nas vivências", diz Neira, coordenador do Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da Universidade de São Paulo (USP).
A preocupação estava presente na EE Pedro II. Ao longo da sequência, o docente procurou mesclar atividades práticas e teóricas, aproveitando os saberes que a turma ia adquirindo.
No segundo encontro, Taranbal apresentou à sala uma peteca profissional e falou sobre a modalidade e seus fundamentos. Todos, então, confeccionaram petecas de jornal para usar em aula. Primeiro, fizeram uma bolinha de papel e a cobriram com fita adesiva. Essa base sólida e pesada foi envolvida por uma folha grande e presa com fita, de modo que as pontas do papel, soltas, fizessem as vezes das penas. Com as petecas em mãos, a turma foi ao pátio e se dividiu em grupos para experimentar práticas típicas do jogo: sacar por baixo e por cima, jogar com a mão direita e com a esquerda, além de recepcionar.
Socializar saberes e ressignificar o jogo
Chegou o momento, então, de compartilhar os resultados da pesquisa. Alguns alunos contaram que a peteca já existia no Brasil antes da chegada dos portugueses, sendo uma prática comum entre os índios. Outros relataram que as regras oficiais surgiram em Minas e comentaram que a brincadeira foi levada à Europa pelos brasileiros que participaram das Olimpíadas da Bélgica, em 1920. Atividades como essa ajudam a moçada a entender o jogo como uma produção cultural. A turma vai, aos poucos, compreendendo quem são as pessoas que o praticam e quais os significados atribuídos a ele em cada lugar.
No pátio, o professor propôs que os estudantes organizassem diferentes jogos. "Pedi que criassem versões, tendo como base o que aprenderam em classe e as referências obtidas em casa e na pesquisa", explica. Eles propuseram duas opções. A primeira era uma adaptação da modalidade profissional: usando um barbante como rede e delimitando a "quadra" com cones, a moçada definiu as regras - serão organizadas duplas; valerá ponto quando a peteca tocar o chão dentro do espaço demarcado ou quando não passar por cima do barbante ao ser jogada ao adversário. Em seguida, iniciou a partida.
A segunda opção foi o chamado Corta 3. O jogo tinha sido mencionado por alguns jovens em aula, como uma das brincadeiras realizadas na cidade. A proposta consistia em organizar uma roda, realizar dois passes da peteca e, no terceiro, "cortar". Os alunos combinaram que quem estivesse próximo, tinha de correr para não ser atingido, sob o risco de sair da brincadeira.
Para sistematizar os conhecimentos da garotada, Taranbal organizou uma competição entre meninos e meninas, que responderam com certo e errado a perguntas sobre o que foi visto nas aulas. Depois, deu uma prova escrita. Uma opção de avaliação é realizar um acompanhamento ao longo do processo. "O trabalho pode ser registrado pelo professor e pelos alunos durante as aulas e, depois, as anotações são comparadas, analisadas e discutidas coletivamente", sugere Neira.
1 Discussão e pesquisa Faça um levantamento dos jogos que são parte da realidade local ou de outras culturas que podem ser estudadas. Escolha um e converse com os alunos, pedindo que relatem o que sabem sobre ele. Elabore um roteiro de pesquisa com a turma.
2 Apropriação e ampliação Leve o jogo estudado para o pátio. Proponha que os alunos usem as referências que trouxeram e o que aprenderam de novo para estabelecer regras e vivenciar diferentes formas de jogar. No caso da peteca, oriente a classe sobre como confeccioná-la.
3 Sistematização e conclusão Ao longo do trabalho, peça que os alunos registrem o que foram aprendendo e tome nota você também. Na última etapa, as anotações podem ser compartilhadas, de modo a retomar os conhecimentos adquiridos.
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