O que ensinar em História do 6º ao 9º ano
O desafio da área é cruzar informações do presente e do passado, do macro e do micro, da sociedade e da esfera individual
01/01/2010
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Jornalismo
01/01/2010
Fotos: Paulo Vitale e Marcos Rosa (2ª e 3ª imagens)
Nem tudo o que lemos, vemos ou ouvimos é uma verdade absoluta. É isso o que deve ensinar a disciplina de História do 6º ao 9º ano (leia uma proposta de plano plurianual para a área). Hoje, com o acesso dos jovens aos diversos meios de comunicação, o filtro e o entendimento daquilo que é ou não um fato histórico depende da seleção e da comparação de informações provenientes de fontes diversificadas. Nessa fase, os alunos estudam semelhanças, diferenças, permanências e transformações no modo de vida social, cultural e econômico de sua localidade, no presente e no passado, com ênfase no domínio da linguagem escrita.
"Essa prática contribui para a formação de um adolescente questionador, capaz de fazer uma leitura crítica de quem ele é, quem somos nós e qual é o mundo em que vivemos", diz Renato Fontes, que leciona História no Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo (conheça as expectativas de aprendizagem).
Renato destaca a evolução da disciplina no novo século. "Dizemos no meio acadêmico que o ensino nos anos 1990 ainda estava marcado pela História oficial, ou seja, aquela que valoriza as efemérides e os grandes temas - como Iluminismo, Revolução Francesa e Grécia clássica - e dava pouca ênfase às relações com o presente, que hoje são bem mais desenvolvidas", relembra.
Todos nós somos produtores de história, mesmo que no futuro nossos atos não apareçam em livros didáticos, reportagens televisivas e jornais. Os sujeitos do processo histórico não precisam ser grandes personagens que desempenham atos considerados heroicos. Eles podem ser agentes de ações sociais, como trabalhadores, patrões, escravos, reis, camponeses, políticos, prisioneiros, crianças, mulheres, religiosos, velhos, partidos políticos etc.
"A História estuda a constituição de uma identidade. Para isso, todo indivíduo deve saber seu papel na sua localidade e cultura", garante Pedro Moura Leite Ribeiro, professor do Colégio Sidarta, de Cotia, na Grande São Paulo. "Só quando percebo o 'eu' é que percebo o 'outro' e o 'nós'", completa Pedro. Uma abordagem possível para desenvolver essa ideia em sala de aula é procurar elementos culturais comuns entre os alunos, em suas comunidades e em âmbito nacional, além de identificar povos que constroem modos de vida diferentes.
Outra questão importante é trabalhar atividades didáticas que envolvam perspectivas distintas de tempo. Estudar medições e calendários de diferentes culturas, distinguir periodicidades, mudanças e permanências nos hábitos e costumes de sociedades estudadas, relacionar um acontecimento com outros de épocas passadas e identificar os ritmos de ordenação temporal das atividades de pessoas e grupos relacionados a padrões culturais, sociais, econômicos e políticos vigentes: tudo isso ajuda a garotada a organizar os acontecimentos históricos no presente e no passado.
Daniel Helene, selecionador do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 e professor da Escola da Vila, em São Paulo, diz que relacionar os fatos ajuda na compreensão de que a história é um processo. "O aluno precisa entender as transformações que ocorrem no decorrer do tempo. Essa também é uma forma de aproximar o conteúdo da vida do estudante, o que se tornava impossível quando os temas eram tratados cronologicamente. "Hoje, o professor precisa estimular a reflexão e deve se valer de diferentes mídias e linguagens para fazer com que a decoreba de informações sem sentido seja substituída pela compreensão", afirma Helene.
Para isso, e aordocom ele, é essencial colocar os estudantes em contato com relatos e realidades diferentes sobre o mesmo assunto. Isso ajuda na compreensão e na elaboração de uma crítica mais complexa do processo histórico. A pluralidade das fontes históricas dentro da pesquisa é, portanto, fundamental no ensino da disciplina. Veja a seguir cinco situações didáticas essenciais para o ensino da disciplina.
O que é O contato com diferentes formas de escrita da História para distinguir as marcas linguísticas, os marcadores temporais e de contextualização, por exemplo, que evidenciam os valores e as visões do autor.
Quando propor Sempre que possível, como parte de sequências e projetos didáticos.
O que o aluno aprende Que todo registro incorpora a subjetividade de quem o faz e a reconhecer diferentes pontos de vista, podendo evidenciar uma realidade que não é única, e sim plural. Ele percebe, portanto, que a História não é apenas o que ocorreu, mas a interpretação dada aquilo que ocorreu.
Como propor Por meio do trabalho com variadas fontes textuais (artigos científicos, didáticos e paradidáticos).
O que é A utilização da História Oral como fonte de informação válida e de ferramentas como entrevistas, seminários, debates e grupos de discussão para captá-la, analisá-la ou transmiti-la.
Quando propor Em todos os momentos, como parte de sequências e projetos didáticos.
O que o aluno aprende Que História é debate de ideias e a valorizar falas de diferentes atores para reconstituir fatos.
Como propor Por meio de pesquisas e entrevistas cujos resultados devem ser debatidos em sala durante seminários ou grupos de discussão.
O que é Considerar como fonte qualquer objeto que possa ganhar sentido histórico, desde um antigo documento escrito até uma música, uma construção ou uma obra de arte.
Quando propor Sempre que possível, como parte de sequências e projetos didáticos.
O que o aluno aprende A reconhecer diferentes formas de representação da realidade, desenvolvendo a habilidade de interpretação de distintas fontes.
Como propor Trazendo para a sala de aula variados documentos históricos, como quadros, esculturas, textos, músicas, roupas e filmes.
O que é O processo de identificação, seleção, hierarquização, organização e interpretação de dados e informações que permitem perceber a História como uma ciência que segue uma metodologia específica, com critérios e categorias definidos pelo pesquisador (leia a sequência didática).
Quando propor Como parte de sequências e projetos didáticos.
O que o aluno aprende A respeitar os procedimentos de pesquisa e observar, registrar e levantar hipóteses sobre impactos sociais de diversos fenômenos e acontecimentos.
Como propor Por meio de um projeto de pesquisa que dê origem a um texto ou a um seminário apresentado para a classe ou para uma banca de professores.
ANÁLISE E PRÁTICA A avaliação de diferentes formas documentais propicia o levantamento histórico da comunidade. Fotos: Paulo Vitale e Marcos Rosa
O que é Pesquisa por meio da qual se estabelece a relação entre o que é ensinado e a realidade do estudante.
Quando propor Como parte de sequências e projetos didáticos.
O que o aluno aprende A reconhecer sua história e desmistificar o conceito de que a História é feita apenas por grandes nomes e fatos, além de valorizar as relações humanas solidárias e a respeitar a diversidade cultural.
Como propor Por meio da indicação de pesquisa sobre a história do bairro ou da cidade. Os alunos devem buscar depoimentos diversos e trabalhos científicos, visitar museus, fábricas, construções antigas. É necessário planejar o estudo do meio prevendo as atividades anteriores à visita, o levantamento das questões a ser investigadas, a seleção de informações a ser observadas em campo, comparar dados levantados e os conhecimentos organizados por outros pesquisadores.
BIBLIOGRAFIA
Ensino de História: Fundamentos e Métodos, Circe Maria Fernandes Bittencourt, 408 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 48 reais
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