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O balanceio da saia é um dos passos básicos feitos pelas meninas ao dançar o siriri. Marcos Negrini/Agência Phocus O balanceio da saia é um dos passos básicos feitos pelas meninas ao dançar o siriri Na posição inicial, os meninos mantêm os braços para trás e as meninas seguram a saia. Marcos Negrini/Agência Phocus Na posição inicial, os meninos mantêm os braços para trás e as meninas seguram a saia Em roda, os dançarinos batem palma com o parceiro da direita e depois da esquerda. Marcos Negrini/Agência Phocus Em roda, os dançarinos batem palma com o parceiro da direita e depois da esquerda Os garotos marcam o ritmo da música batendo palma e  também os pés no chão. Marcos Negrini/Agência Phocus Os garotos marcam o ritmo da música batendo palma e também os pés no chão Meninos e meninas dançam frente a frente e, depois, trocam de fila no ritmo do siriri. Marcos Negrini/Agência Phocus Meninos e meninas dançam frente a frente e, depois, trocam de fila no ritmo do siriri

As danças de um lugar podem revelar muito sobre a cultura local e suas influências. Nas aulas de Educação Física, o conhecimento sobre elas e o contexto em que ocorrem é essencial para o trabalho com o tema não se tornar algo meramente mecânico. "Ao desenvolver o sentimento de pertencer a um grupo social, os alunos passam a ter respeito pela diversidade", diz Silvia Pavesi Sborquia, do Centro de Educação Física e Esportes da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Esse era um dos objetivos de Sueli Xavier, professora do 6º ano da EM Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, em Cuiabá.

A educadora percebeu que havia alguns problemas de relacionamento na escola motivados por discriminação racial e desenvolveu uma sequência didática que contempla a identidade cultural. "Muitas referências dos alunos têm origem africana ou indígena, e eu queria que eles entendessem isso", diz Sueli. Caso você não seja do Mato Grosso, pode eleger uma dança de sua região, como o frevo, em Pernambuco.

Para levantar o que a turma sabia sobre as danças típicas, em sala, ela mostrou imagens de diversas modalidades e pediu que todos escrevessem em um papel quais já haviam visto. "Uns diziam que os avós dançavam ou que conheciam algumas de festivais", conta. Com o auxílio dos estudantes, ela tabulou as respostas e registrou no quadro. O siriri apareceu como a mais citada e, por isso, foi escolhida para ser estudada.

Na aula seguinte, os adolescentes levaram à escola músicas que ouviam em casa, entre elas, o siriri, o rasqueado e o chorado - todos ritmos de Cuiabá. Em quadra, eles dançaram livremente enquanto Sueli observava os movimentos que conheciam. Após a atividade, a professora mostrou à turma o livro Remedeia co Que Tem (Milton Pereira de Pinho, 192 págs., Carlini e Caniato Editorial, tel. 65/3023-5714, 45 reais), com informações sobre a história das danças mato- grossenses. Nele, os alunos pesquisaram sobre o siriri e descobriram que ele tem influência religiosa e é uma mistura própria do estado, pois surgiu das culturas africana, indígena e portuguesa. Individualmente, eles fizeram resumos dos dados.

Para que a turma pudesse conhecer o contexto em que o siriri teve origem, Sueli programou uma visita ao quilombo de Mata Cavalo de Baixo, em Nossa Senhora do Livramento, a 65 quilômetros de Cuiabá, onde ele é praticado até os dias de hoje. Lá, todos assistiram a palestras sobre a dança e tiveram contato com instrumentos, vestimentas e publicações relacionadas a ela. "Os alunos ficaram curiosos para saber como a comunidade mantinha suas tradições vivas", relata Sueli. Eles também participaram de uma vivência prática e, com orientação dos moradores, aprenderam alguns passos. Caso não seja possível ir a campo, exiba vídeos para que a garotada se familiarize com o siriri.

Foco nos movimentos

De volta à escola, a docente pediu que os estudantes dançassem conforme tinham visto no quilombo. Eles fizeram alguns movimentos básicos, como o balanceio da saia no caso das meninas e a batida de mãos e pés, feita pelos meninos. Em uma roda de conversa, contaram o que acharam da experiência e o que consideraram mais difícil.

Sueli foi introduzindo novos movimentos. Para isso, ela passou a dividir as aulas em etapas. Na primeira parte, eram feitas atividades para trabalhar aspectos corporais relacionados aos passos que iriam aprender, o que acontecia na segunda fase da aula. Por fim, os alunos atuavam na construção coletiva de uma coreografia. "A preocupação não era ensinar a perfeição dos gestos, mas desenvolver as habilidades que permeiam o siriri, como a coordenação motora e a lateralidade", conta.

Ao caminhar, sem olhar para baixo, sobre círculos e retas desenhados no chão com giz, por exemplo, era praticado o equilíbrio. Na hora de dançar, a docente dizia: "Da mesma forma que fizeram ao andar sobre as linhas, mantenham a estabilidade ao rodar". A postura, essencial em todos os passos, a turma trabalhou andando com um saquinho de milho na cabeça sem deixá-lo cair. A velocidade da marcha aumentava ou diminuía conforme o ritmo da música.

A pesquisadora Mildred Aparecida Sotero, mestre em Dança e Educação Física pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que o foco na movimentação distingue o trabalho com essa modalidade artística na Educação Física do realizado nas aulas de Arte. "O mais importante são as experiências corporais que ele vai proporcionar, enquanto em Arte o objetivo é voltado às expressões e à linguagem", explica.

Ao final de cada aula, os alunos cooperavam com a criação de uma coreografia de siriri. "O professor pode e deve dar ferramentas para que eles proponham novos passos com base no que sabem. A construção coletiva faz com que se apropriem da dança estudada", diz Mildred.

Sueli pôde acompanhar o avanço de cada um por meio das observações e dos registros feitos durante todo o processo. Além de desenvolver a cultura corporal, a garotada passou a se identificar ainda mais com as influências étnicas de seu estado, pondo fim ao preconceito em sala.

1 Sondagem e pesquisa Levante as danças regionais que os alunos conhecem e eleja uma para trabalhar. Toque a música e peça que dancem livremente. Proponha uma pesquisa sobre as origens do ritmo. Solicite um resumo sobre o que foi aprendido.

2 Entendimento do contexto Se possível, leve a turma para ver uma apresentação de dança no ambiente em que ela costuma acontecer. Apresente as vestimentas e os instrumentos musicais utilizados.

3 Movimentos e passos Relembre os passos observados e apresente novos. Trabalhe os aspectos corporais relacionados a eles, como a postura. Proponha a criação de uma coreografia.

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