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Jornalismo

O Caldeirão do Huck me fez ser professor

Depoimento de Carlos Eduardo Canani, Educador Nota 10, sobre como ser professor deixou de ser um trabalho temporário para se tornar sua paixão

PorCarlos Eduardo Canani

03/11/2016


Carlos Eduardo Canani, 26 anos, assumiu a docência há 7 anos. De lá pra cá, apesar das dificuldades da carreira, ele descobriu os prazeres em ser professor. Crédito: Edu Lyra

“Não tinha pretensão de ser professor. Minha ideia inicial era ser jornalista, mas acabei optando por cursar Letras. Me incomodava a falta de valorização da carreira docente (e nem tanto em termos financeiros). Em Anita Garibaldi (SC), cidade onde nasci, muitos questionavam: ‘você tem um potencial enorme, por que quer ser professor?’.

Em 2009, no meu 3º ano da faculdade, a direção da escola municipal em que me formei me convidou para substituir um professor de Língua Portuguesa. Topei o desafio: uma turma de último ano do Ensino Médio. Na época, eu tinha 19 anos. Meus alunos, 17. Continuei naquela escola e assumi aulas em outra, no campo. No ano seguinte, eu já cumpria uma carga horária de 40 horas e percorria todos os dias 210 quilômetros para cursar a faculdade.

Me formei e estava indo para o terceiro ano de sala de aula, mas ainda encarava aquele trabalho como temporário. Estava decidido a trocar de carreira. Na mesma época que passei no concurso de um banco, um aluno meu entrou na seletiva estadual do quadro Soletrando, do Caldeirão do Huck. Achei bacana, pois iria ser a minha despedida da escola, em Anita Garibaldi. Só que ele acabou ganhando a etapa estadual e seguiu para a nacional. Foi aí que pensei que essa história de que professor é uma profissão sem importância não era bem assim. Sempre gostei do contato com alunos, de ver os avanços na aprendizagem deles, de planejar o trabalho segundo o perfil de cada turma. A partir dali, mergulhei de cabeça e me tornei, de fato, um educador.

A valorização que eu sonhava acabou vindo por meio dos concursos. Logo em seguida ao Soletrando, em 2012, outro aluno meu ganhou medalha na Olimpíada de Língua Portuguesa. Em 2013, uma aluna da escola rural foi premiada no concurso de redação do Tribunal de Contas do Estado, o que foi uma grande conquista. Os desafios dessa escola eram ainda maiores do que a outra em que lecionava, pois os alunos saíam de casa às 4h30 ou 5h da manhã e chegavam na aula às 7h com frio e fome. A unidade era considerada a pior da região, com condições precárias. Além disso, lá eu lecionava Língua Inglesa – disciplina que a turma não via sentido em estudar, pois achava que trabalharia na lavoura como os pais.

Mas não desanimei: pedi autorização à diretora para preparar a turma para o concurso de redação. Todos os alunos produziram textos de qualidade, o que me deixou muito feliz e resultou na premiação de uma de nossas estudantes. Esse acontecimento levou a turma toda a Florianópolis para prestigiar a colega. A maior parte deles não conhecia o mar. Foi uma emoção sem tamanho para mim vê-los pisando na areia e se divertindo na praia. É o tipo de lembrança que se leva para toda vida.

Atualmente, sou um apaixonado pela docência e pela rotina de sala de aula. Leciono Língua Portuguesa na Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), em Lages, na graduação de todas as licenciaturas e de Jornalismo. Assim como quando ingressei como professor na Educação Básica, tive que superar o olhar de desconfiança dos colegas e dos alunos por ser tão jovem. Eu tinha 23 anos quando comecei a dar aula na faculdade, mas aos poucos fui me tornando referência na área e nunca parei de estudar. Hoje, faço mestrado em literatura na Universidade do Sagrado Coração (USC), em Florianópolis.

Durante essa trajetória, entendi que dá para mostrar aos alunos o potencial que eles têm e onde podem chegar. O professor faz a diferença se trabalhar perseguindo as aprendizagens mais significativas. Muitos alunos meus se destacaram, ganharam bolsa de estudos, ingressaram no ensino técnico ou no Superior. É uma mudança de perspectiva muito grande na vida dessas pessoas. Observar e participar disso não tem preço. Digo para os estudantes da graduação de Pedagogia e das licenciaturas que eles têm o poder nas mãos por trabalhar com o aprimoramento dos saberes dos indivíduos, impactando seu futuro. Não tem profissão que faça isso melhor do que a nossa.”

Carlos Eduardo Canani, professor de Língua Portuguesa no Fundamental II da EM Suzana Albino França em Lages, Santa Catarina, e Educador Nota 10 de 2016.

Depoimento a Maggi Krause

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