
O encerramento do bimestre pode ser enriquecido por uma pausa avaliativa. Nesse momento de reflexão, estudantes e professores podem olhar os percursos de aprendizagem e seus resultados. Essa percepção das conquistas e dificuldades pela ótica do aluno nem sempre ficam claras nas práticas usuais de avaliação.
As perspectivas dos estudantes dão muitas pistas sobre os acertos e o que precisa ser melhorado e devem ser valorizadas como elementos estruturantes e fundamentais para qualificar o planejamento e as condições de ensino na continuidade do ano letivo. Por isso, é essencial escutar o que eles têm a considerar sobre esse percurso, o que inclui a (auto)avaliação e a apreciação do trabalho do professor.
Recentemente, participei de uma roda de autoavaliação com estudantes de Pedagogia na disciplina Práticas Sociais de Leitura e Escrita I. Me deliciei com as perspectivas singulares de aprendizagem narradas por eles com a experiência de um projeto chamado “Encantador de leitores em espaços públicos”. Embora todos fossem guiados por objetivos e conteúdos comuns, o alcance da estratégia diferenciava-se para cada um deles. Os relatos manifestavam diferentes estilos de aprendizagem e revelavam experiências inspiradoras para a recriação da intervenção pedagógica, sob a ideia da diversidade.
No caso da sua turma ser na Educação Infantil ou no Ensino Fundamental, a lógica é a mesma. Com base nas considerações das crianças, é possível medir e aprofundar nosso conhecimento sobre a gestão de boas situações didáticas na sala de aula. As rodas de conversa podem ser animadas por questões abertas que acionem as memórias sobre determinadas experiências. Vale questionar a classe sobre:
- Os melhores momentos vividos nos trabalhos propostos;
- O que considerou mais e menos interessante;
- O que mais gostou de aprender e por quê;
- Quais foram os maiores desafios e dificuldades dentro desse processo;
- O que aprendeu que vai levar para a sua vida;
- O que gostaria de ver/aprender em futuras atividades.
Se você costuma registrar os trabalhos em sala, esse é um bom momento para compartilhar esses registros com a turma. A apreciação de fotografias e de vídeos com cenas das práticas educativas na sala de aula pode ajudar o grupo a refletir sobre os próprios percursos de aprendizagem. Da mesma maneira, a análise de produções textuais, desenhos e obras de arte feitas em sala ao longo do ano podem evidenciar os progressos.
A escuta sensível deve ser desenvolvida pelos professores nessas mediações. René Barbier explora a temática em seu trabalho “A escuta sensível em Educação”. Os estudos dele destacam o valor da empatia e da visão holística (de todas as partes envolvidas) em tais processos. O artigo “Narrativas de crianças sobre as escolas da infância: cenários e desafios da pesquisa (auto)biográfica”, de Maria da Conceição Passeggi, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRGN), também contribui para essa temática com pesquisas sobre narrativas infantis, numa investigação de como as crianças dão sentido às experiências escolares.
E você, professor, incorpora a visão das crianças na avaliação dos processos de ensino e de aprendizagem? Quais estratégias você utiliza para isso? Compartilhe essas experiências e inspire outros colegas a realizar uma escuta sensível dos estudantes.
Um abraço e até a próxima,
Neury