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Jornalismo

Soltar pipa dá aula de Educação Física, Geografia, Ciências e cidadania

Antes de se divertirem empinando quadrados - ou papagaios, ou raias -, os alunos de Vanja conheceram a ciência que existe por trás da brincadeira e medidas de segurança, para não correrem riscos

PorPaola Gentile

01/03/2006

A turma de Vanja empina pipa no pátio da escola: brincadeira, sim, mas com muito aprendizado. Foto: Pedro Motta
A turma de Vanja empina pipa no pátio da 
escola: brincadeira, sim, mas com muito 
aprendizado. Foto: Pedro Motta 
A cada dois meses, Vanja Leila da Conceição Ferreira, 44 anos, professora de Educação Física da Escola Municipal Professora Cândida Junqueira, em Três Corações (MG), muda a modalidade esportiva que ensina aos alunos. Por isso, ela não titubeou quando a molecada pediu para empinar pipas. Assim surgiu este projeto. "Educação Física é mais do que jogar bola. Além de ensinar esportes, dança e psicomotricidade, gosto de trabalhar com o resgate da cultura brasileira e com o respeito à ética e às regras", justifica a professora, que tem 22 anos de magistério.

Passo-a-passo e metodologia

1. Pesquisa sobre o brinquedo
Nada de sair pelo pátio procurando o melhor vento para o papagaio subir. Antes de a brincadeira começar, a turma de Vanja tinha muita coisa a aprender. Primeiro, a classe foi dividida em grupos e todos fizeram uma pesquisa na internet sobre a origem da pipa. Uma equipe descobriu que vários povos antigos, tanto do Oriente quanto do Ocidente, registraram em forma de desenhos objetos que podiam voar controlados por fios. Outro grupo encontrou relatos revelando que, em tempos de guerra, os soldados usavam o artifício para informar onde havia gente viva e assim acionar o resgate para os feridos. Foi divertido constatar que pipa é apenas uma das mais de 20 denominações do brinquedo existentes no Brasil. Ela é chamada de barril ou bolacha nos estados do Centro-Oeste; pepeta no Amazonas; raia no Paraná; califa no Rio de Janeiro; lebreque no Maranhão; pandorga no Rio Grande do Sul; cafita em Minas Gerais...

2. Uma base científica para a brincadeira
A própria Vanja foi para o computador com os alunos pesquisar na internet sobre os possíveis formatos da pipa, os tipos de rabiola mais eficientes, os mecanismos de vôo e os problemas que podem ocorrer para colocá-la no ar. Depois disso, Vanja convidou colegas de outras disciplinas para conversar com a turma e tirar as dúvidas surgidas com as novas informações. Uma professora de Ciências explicou por que o objeto voa ao ser puxado durante a corrida. Outro, também de Ciências, falou sobre a resistência dos diversos materiais que podem ser usados na confecção - dando inclusive opções para o papel de seda, como o saco de supermercado ou de padaria, acessível a todos -, as melhores linhas, os formatos mais adequados e os tipos de madeira para as varetas. Foi importante também a aula no laboratório, onde a garotada aprendeu a fazer o grude - e, de lambuja, a história da cola e da goma arábica. Antes de partir para a finalização do projeto, a professora convidou um bombeiro para dar palestra sobre os cuidados necessários ao brincar de pipa: não soltá-la em dias de chuva nem perto de fios para não levar choque; não usar cerol nem linha metálica para evitar cortes que podem, às vezes, ser fatais; não brincar em lajes, telhados ou ruas movimentadas, prevenindo assim quedas e atropelamentos. Com essas informações, os estudantes fizeram uma paródia da música É Proibido Fumar, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

3. Fazer, empinar e curtir
Na última fase do projeto, Vanja convidou um professor de Educação Física de outra escola para fazer com os alunos uma oficina de confecção dos quadrados. Ele explicou a importância da corrida inicial, a força necessária e o movimento que deve ser feito com o braço para a pipa subir. No final, ela organizou um concurso para testar o aprendizado. Os alunos levaram o próprio material, tiveram uma hora e meia para confeccionar a bolacha e dez minutos para empiná-la. No dia do evento, mais de 80 estavam no ar. Apesar da participação ativa de todos, Vanja refletiu melhor e acredita que, ao repetir o projeto, não fará competição, somente um evento em que os alunos possam curtir a brincadeira sem se preocupar com a premiação.

Tema do trabalho 

A pipa, sua história e sua ciência

5ª série

Objetivos e conteúdos
Para que a diversão fosse completa, Vanja quis que a turma aprendesse as técnicas necessárias para soltar pipa, a história do brinquedo e como curtir a atividade sem perigo. Os alunos estudaram ainda os diversos nomes que o objeto feito com varetas de madeira ou bambu tem em diferentes estados brasileiros e os conceitos físicos que explicam como as pandorgas voam. Mas o objetivo principal da professora era o desenvolvimento emocional da turma por meio do trabalho em grupo e do movimento corporal.

Avaliação
Durante todo o projeto, as crianças registraram no caderno de Educação Física os conhecimentos adquiridos, em forma de relatórios e textos dissertativos. Ao ler os relatos - e durante a oficina de pipas -, Vanja constatou que todos compreenderam as normas de segurança, os mecanismos que fazem a pipa voar e os possíveis defeitos que a impedem de ganhar altura. A professora percebeu também que a turma sentiu-se valorizada ao ver uma atividade tão agradável transformada em conteúdo escolar. 

Quer saber mais?

CONTATOS
Escola Municipal Professora Cândida Junqueira
, R. Bem-Te-Vi, 500, 37410-000, Três Corações, MG, tel. (35) 3691-1079
Vanja Leila da Conceição Ferreira, vanjaf_2@hotmail.com.br  

 

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