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Jornalismo

Você sabe como é o trabalho dos editores de livros?

Leia entrevista com a Vanessa Ferrari, editora da Cia. das Letras

PorAnna Rachel Ferreira

10/06/2015

Algo que sempre despertou minha curiosidade na produção de livros é o papel do editor. Ficava imaginando aquela pessoa mal-humorada, extremamente crítica, separando a pilha das obras que mereciam ser publicadas de um lado, e as que iam para o lixo de outro. Eu não tinha lá muita clareza do papel desse profissional, a não ser a função de carrasco.

Nem imaginava que passaria meus dias rodeada por editores, jornalistas e revisores. A figura do tirano carrancudo foi desmitificada, mas ainda restaram curiosidades – já que um editor de livros tem um trabalho bastante diferente dos profissionais com os quais convivo aqui em NOVA ESCOLA. Foi por isso que decidi conversar com Vanessa Ferrari, editora da Cia. das Letras desde 2009. Dá uma conferida no que ela me disse.

Vanessa Ferrari, editora da Cia. das Letras

 

Como vocês escolhem os livros que serão publicados?
Nós trabalhamos em algumas frentes. No caso das publicações internacionais, temos agentes que analisam os lançamentos do mercado e selecionam os que têm a ver com o nosso catálogo. Lemos os resumos e, se interessar, solicitamos o arquivo para a leitura integral. Só depois decidimos se compramos ou não. No caso dos nacionais, eles podem chegar também por meio de agentes literários ou por indicação de alguém da área. Nos dois casos, os editores se dividem para uma primeira leitura. Algumas vezes, quando o tema é mais específico, pedimos um parecer a leitores especializados. Por exemplo: se o texto tem um viés pedagógico, é bacana que alguém do nosso departamento pedagógico leia também.

O que você observa na hora de decidir entre uma obra e outra?
O cuidado com a escrita é o ponto principal. Nós recebemos muitos originais com um nível amador na escrita e uma linguagem excessivamente coloquial. Ou ainda com um excesso de clichês, frases feitas e ideias que se agarram ao senso comum. A ferramenta do escritor é a língua, por isso esperamos que ele tenha algum domínio sobre a narrativa. Na prática, procuramos principalmente obras que despertem interesse, tenham fluência, sejam bem amarradas e tenham personagens convincentes.

Como funciona o processo de edição? Vocês interferem muito no texto?
Nós trabalhamos diretamente com o autor. A gente lê o livro e faz sugestões, às vezes pontuais, às vezes mais estruturais – como enredo e construção de personagens. Depois, o livro passa por um preparador que também sugere mudanças. E, por fim, a revisão, que faz o pente fino. Um bom editor se coloca no lugar do autor, entende o que e como ele deseja contar a história e ajuda-o da melhor forma possível. Não podemos propor mudanças baseadas no que faríamos se nós tivéssemos escrito aquele livro. A voz do autor deve ser sempre respeitada. É ele quem dá a palavra final. No caso dos escritores internacionais, a preocupação maior é com a tradução, pois a estrutura do livro não é modificada.

Até qual etapa do processo vai o trabalho do editor?
Até a final. Depois da edição, o texto vai para o layout. Nesse momento, já pensamos na capa da obra. Quando o autor tem alguma ideia, tentamos contemplá-la na arte final. Pensamos em um capista – profissional que faz a arte da capa – com uma linguagem que converse com o estilo de texto, o tema e a narrativa. Fazemos reuniões para que a capa seja harmônica com o restante do trabalho. Com tudo isso pronto, podemos mandar para a gráfica.

E, aí? Deu para entender melhor o trabalho dos editores? Ele é superinteressante e importante para que os livros cheguem com boa qualidade para todos nós. Usando uma máxima recorrente entre escritores: “O bom editor ajuda a melhorar o trabalho do autor”. Que bom que eles existem!

Você tem mais dúvidas sobre a produção de um livro ou conhece curiosidade sobre o meio? Conte para gente aqui nos comentários.

Até a próxima semana!

Anna Rachel

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