Provinha maluca
O dia em que uma bruxa trocou professores e levou fantasia a um teste de alfabetização
POR: Beatriz LevischiSuspiros tensos e uma mescla de tranqüilidade, dúvida e impaciência
Foto: Marcos Rosa
Tarde de 30 de abril numa sala de 2ª série em uma escola municipal de São Paulo. "A Bruxa Maluca fez uma confusão no computador e trocou os nomes dos professores. Para tudo voltar ao normal, vocês terão de cumprir uma missão, sem conversar com o colega nem olhar para o lado. Uma fada ficará aqui na sala, junto com a professora trocada, para protegê-los. Ao terminarem, depositem a atividade na caixa mágica. Se todos cumprirem as regras do jogo, serão premiados com uma brincadeira."
Foi assim, numa mistura de fantasia com trabalho de classe, que começou a aplicação da Provinha Brasil, a ferramenta de avaliação criada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira e oferecida às redes estaduais e municipais pelo Ministério da Educação (MEC) para determinar o nível em que as crianças estão no processo de alfabetização e balizar ações a fim de melhorar a aprendizagem.
São Paulo foi um dos 2 mil municípios que (estima-se) aplicaram a Provinha. A Secretaria de Educação optou por realizar o teste de forma aleatória, em poucas turmas de cada escola. As coordenadorias regionais fizeram o sorteio das salas, e os diretores definiram professores substitutos para a realização da atividade, os quais tinham todas as questões em mãos e as liam para os alunos. Estes, por sua vez, dispunham somente de folhas sem os enunciados, com espaço para as respostas.
A leitura da questão "Quantas palavras possui a frase ?Eu quero uma coxinha??" arrancou os primeiros suspiros tensos e fez um mar de dedinhos se abaixar e levantar em velocidades variadas, enquanto as crianças contavam no ar. Na hora do ditado de "sorvete", alguém não se conteve e perguntou (sem obter resposta) se o correto era com "s" ou "z".
No rostinho das crianças predominava uma mescla de dúvida, tranqüilidade e impaciência. Algumas marcavam duas alternativas na mesma pergunta, apesar de a orientação de que havia apenas uma resposta correta ter sido dada várias vezes. Outras respondiam em voz alta, mas se esqueciam de registrar o que haviam dito no papel. Um terceiro grupo, desobediente e curioso, virava as folhas sem esperar a leitura do enunciado, arriscando palpites com base nas ilustrações.
No final, um sinsalabim quebrou o encanto da Bruxa Maluca e, em meio a gritos empolgados, a escola cumpriu a promessa: brincadeira no pátio. Na fila, todos diziam ter se divertido durante a atividade. Só um menino confessou ter "suado por dentro", mas um pum distraído deu a entender que outros também haviam se sentido sob pressão.
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Em Provinha Brasil, como e por que participar da avaliação
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