O Ideb melhorou, mas ainda não dá para comemorar
A educação brasileira tem melhora tímida e ainda segue abaixo do nível de 1995. Uma subida consistente requer investimento em formação
PorRodrigo RatierCinthia Rodrigues
01/08/2010
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Jornalismo
PorRodrigo RatierCinthia Rodrigues
01/08/2010
Avançamos. À primeira vista, a conclusão que se extrai dos mais recentes resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), relativos a 2009 e divulgados em julho último, é positiva. Em relação à medição anterior, de 2007, a qualidade do ensino evoluiu em todos os níveis de ensino. Numa escala que vai até 10, pulamos de 4,2 para 4,6 nos anos iniciais do Ensino Fundamental, de 3,8 para 4 nas séries finais e de 3,5 para 3,6 no Ensino Médio. Nas três etapas, a tendência é de alta, numa subida que ocorre desde 2005 e supera as metas estipuladas para o período. As razões para celebrar param por aí.
Os mesmos números deixam claro que a melhora é muito tímida. A constatação vale para os dois indicadores que compõem o Ideb. No primeiro deles, a taxa de fluxo escolar (que representa o número de alunos que passaram de ano e se matricularam na série seguinte), a melhoria em relação à última medição não passou de 3,5%. E no segundo, a Prova Brasil, a subida não ultrapassou os 7,4%. Isso, claro, no caso em que os índices melhoraram: em 1.146 cidades avaliadas (21% do total), os resultados do Ideb pioraram em relação a 2007.
Nesse ritmo, ainda estamos a anos-luz da nota 6, um padrão definido como aceitável para os membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube das 30 nações mais desenvolvidas do planeta. Pelo projeto do Ministério da Educação (MEC), que sabe que mudanças profundas são lentas, só chegaremos a esse nível no longínquo ano de 2021. É triste notar que, por enquanto, apenas 6,7% das escolas públicas de séries iniciais do Ensino Fundamental e 0,3% das de séries finais já têm qualidade de primeiro mundo.
O dado mais preocupante aparece quando voltamos um pouco mais ao passado para analisar quanto os alunos aprendiam no passado e quanto aprendem hoje. Comparando os resultados de dois exames nacionais - a Prova Brasil e seu antecessor, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) -, o que se percebe é que cinco das seis médias de Matemática e Língua Portuguesa estão hoje em patamar inferior às de 1995 (como mostram os gráficos abaixo). É verdade que uma comparação exata não é possível porque a Prova Brasil é praticamente universal e envolve 40 mil escolas, enquanto o Saeb trabalha com uma amostra menor, de 10 mil escolas. Mas a escala de pontuação e o foco são semelhantes (leitura em Língua Portuguesa e resolução de problemas em Matemática), o que dá força a uma constatação incômoda: no que diz respeito ao aprendizado, ainda estamos piores do que 15 anos atrás.
Sorriso amarelo
Avaliações nacionais indicam que o aprendizado de Língua Portuguesa e Matemática ainda não retornou ao nível do início das medições, há 15 anos
Todos os especialistas concordam que a queda na virada do milênio se explica pelo aumento da oferta de ensino nos anos 1990. De fato, apenas em 1999 chegamos ao patamar de 97% das crianças de 7 a 14 anos na escola. Mas lá se vão 11 anos e os filhos de famílias pobres que foram na época incluídos não podem ser responsabilizados pelos baixos índices... É hora de virar a página. Uma boa providência é investigar o que nossos alunos sabem e, principalmente, o que não sabem e precisam saber.
Definir, conteúdo por conteúdo, o que tem de ser ensinado
Um instrumento útil para realizar essa tarefa (e que felizmente tem sido cada vez mais considerado no planejamento de professores e gestores) é a própria Prova Brasil. Ela fornece pistas importantes, uma vez que a escala de proficiência relaciona as faixas de pontuação ao nível de conhecimento. Exemplo: se você levasse um artigo como este para sua turma de 5º ano, a maioria das crianças não seria capaz de localizar a informação principal, entender a finalidade do texto ou apontar um dado específico nos gráficos. No 9º ano, poucos conseguiriam identificar as intenções dos autores ou calcular a porcentagem de mudança da nota de um exame para o outro com base nos dados acima à direita.
Num país como o Brasil, com 52 milhões de estudantes, atingir a qualidade em Educação é um esforço titânico, que exige ações coordenadas em vários campos. Sem investir na formação dos professores, porém, dificilmente conseguiremos avanços consistentes - e duradouros - na aprendizagem. Base do trabalho docente, o conhecimento específico possibilita que o professor auxilie o aluno a construir um repertório que inclua os raciocínios necessários para a própria vida em sociedade. Além, é claro, de gerar bons frutos nos dois indicadores que compõem o Ideb, a nota das provas e o fluxo escolar (nesse aspecto, aliás, ainda temos muito o que melhorar, já que a cada ano um em cada cinco alunos fica pelo caminho em virtude de desistências ou reprovações).
Por fim, também é importante concretizar a atualização do plano de metas do Ideb, uma intenção já sinalizada pelo MEC. Afinal, superamos em 2009 as metas do Ensino Fundamental para 2011 - e a tal nota 6, prevista para ser atingida em 2021 pelas séries iniciais do Ensino Fundamental, correspondia ao nível de Educação dos países desenvolvidos em 2003 (é de esperar que eles também evoluam nesse período de 18 anos). Se quisermos caminhar em direção a uma Educação de qualidade, não basta seguir no ritmo atual. É preciso apertar o passo.
Quer saber mais?
INTERNET
Clique em "downloads" para acessar as escalas de proficiência e os exemplos de comentários e questões da Prova Brasil.
Clique em Boletim da Educação no Brasil: Saindo da Inércia? para acessar o estudo da Fundação Lehmann e do Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe (Preal).
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