A importância do contexto
Para compreender de fato um texto em outro idioma, é preciso evitar a muleta da tradução palavra por palavra. Recursos visuais, esquemas e anotações ajudam muito na tarefa
16/01/2010
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Jornalismo
16/01/2010
A pergunta é recorrente: por que insistir que os alunos leiam um idioma estrangeiro se eles demonstram dificuldade até mesmo para se virar em português? Isso quer dizer que, antes mesmo de falar em estratégias de leitura para a disciplina, os professores de Língua Estrangeira precisam defender a relevância do conteúdo que ensinam...
Felizmente, não é tão difícil fazê-lo: aprender idiomas amplia as capacidades de comunicação e expressão, sobretudo num mundo em que as fontes de informação (alguém aí pensou em internet?) são encontradas em diferentes línguas. Para chegar lá, em vez de trabalhar com gêneros (leia o quadro abaixo), muita gente ainda trilha o caminho tradicional da tradução de textos e da memorização de vocabulário. Já há teoria e prática suficientes para dizer que essas não são as melhores opções.
"Os alunos não precisam compreender palavra por palavra para dar sentido a um texto. O que se faz, inicialmente, é uma leitura geral. Depois dela, pergunta-se o que entenderam", diz Cláudio Muzzio, professor de Espanhol do Colégio Miró, em Salvador. O que se espera é que se comparem as ideias principais com as hipóteses anteriores à leitura (leia o infográfico).
Quase sempre, a resposta para tais perguntas não exige uma consulta frenética ao dicionário inglês-português para verter cada termo. Muitas vezes, é possível deduzir palavras pelo contexto. Em outras, o entendimento delas não é tão importante: são auxiliares e não modificam substancialmente os conceitos apresentados.
Para que a turma atue assim, é preciso, antes de tudo, mobilizá-la para ler em outro idioma. Uma saída é apontar que determinadas informações de artigos científicos, notícias e manuais de instrução de jogos ou programas importados não apresentam traduções. Ou seja, se dependermos só do português, ficamos sem os dados de que necessitamos. "Outra possibilidade é mostrar casos em que se encontram mais informações em língua estrangeira do que na materna", explica Andrea Vieira Miranda Zinni, coordenadora de inglês da Escola Stance Dual, na capital paulista, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Isso fica evidente, por exemplo, quando comparamos o número de artigos em inglês (mais de 3 milhões) na Wikipedia, enciclopédia livre e colaborativa online, com os verbetes em português (que só recentemente superou a casa dos 500 mil). Além disso, muitos artigos estão mais completos em idiomas que não o português, principalmente quando tratam de temas próprios da realidade de outros países - como o verbete sobre Halloween, o Dia das Bruxas, que não explica, na versão nacional, a origem da tradição de fazer lanternas com cascas de abóbora.
O que sei, o que quero saber, o que aprendi
Nas aulas da escola Stance Dual, o professor e a turma do 6º ano constroem juntos uma tabela de entendimento do texto
O PRÉVIO
A coluna K, de what I know, indica o que os estudantes sabem sobre o texto. Deve ser preenchida no levantamento de hipóteses
AS DÚVIDAS
A coluna W, de what I want to know, lista perguntas da turma. É preenchida antes da leitura ou na exploração inicial do texto
AS LIÇÕES
A coluna L, de what I learned, mostra as contribuições do texto para a compreensão do tema. É preenchida depois da leitura.
TUDO EM INGLÊS
Com o professor atuando como escriba, o quadro deve ter apenas expressões no idioma estrangeiro, mesmo que a turma use o português
Gêneros privilegiados em Língua Estrangeira
Biografia
O relato sobre a vida de personagens históricos ou que impactam a sociedade atual permite conhecer um pouco sobre a pessoa e os eventos retratados - o que ajuda muito na compreensão do texto em idioma estrangeiro. Com menor complexidade estilística e estrutura marcadamente cronológica, as biografias são um bom suporte para estudar tempos verbais e a função de adjetivos e advérbios na qualificação de personagens.
Texto Jornalístico
Assim como as biografias, os alunos podem ter algum conhecimento sobre os eventos, o que ajuda a construir hipóteses sobre o sentido do texto.
Texto instrucional
Muitos manuais de programas de computador ou de jogos de videogame não apresentam versões em português. Longe de ser uma barreira, isso pode se tornar uma oportunidade para o aluno trabalhar com o idioma, estudando o imperativo e sua relação com a descrição de tarefas.
Canção
Opção certeira entre os gêneros ficcionais, músicas de grupos internacionais agradam por já estarem naturalmente presentes no mundo dos estudantes. O uso complementar de videoclipes pode ajudar os alunos a visualizar os temas presentes na letra da música.
Hipóteses, perguntas e informações lado a lado
Para ajudar na interpretação do que se lê, um recurso bastante utilizado é uma tabela específica - se a disciplina for o Inglês, será uma tabela do tipo K-W-L. "Ela tem a vantagem de conjugar diagnóstico, com um levantamento do que já se sabe, inferências sobre o texto e uma checagem daquilo a que ele atendeu ou não", resume Andrea.
Procedimento de estudo - Esquema
Composto de palavras-chave organizadas graficamente, ele permite visualizar como se articulam as informações destacadas
Os esquemas procuram organizar graficamente as informações presentes em textos ou que serão usadas como base para a produção escrita ou oral. Eles representam articulações entre elementos por meio de quadros, setas e diagramas - o que facilita a compreensão de textos em idiomas estrangeiros. Dependendo do tipo de texto, há várias configurações possíveis. "Com base num artigo de revista sobre bullying, os alunos podem construir uma tabela com suas causas e seus efeitos", exemplifica Andrea. Isso não só ajuda a compreender o termo em Inglês, mas também permite visualizar funções gramaticais baseando-se no esquema gráfico ao trabalhar conectivos de causalidade e consequência. Depois, a tabela pode ser o ponto de partida para a produção escrita dos alunos, como um panfleto que identifique os sinais e perigos do bullying. Outro esquema possível é construir uma linha do tempo, balizando o desenrolar da história pelos principais eventos cronológicos. Também se pode "mapear personagens" ao identificar suas falas, comparando-as com opiniões de outros participantes da história e do próprio aluno sobre esse personagem. Textos de não-ficção, como reportagens, podem ser esquematizados com base em tabelas que respondam aos "5 Ws" - what, who, when, where, why ("o que, quem, quando, onde e por que"), relacionando-os com o enredo, personagens, espaço, tempo e causas da história.
Quer saber mais?
CONTATOS
Colégio 7 de Setembro, Av. do Imperador, 1330, 60015-052, Fortaleza, CE, tel. (85) 4006-7777
Colégio Miró, R. Cândido Portinari, 58, 40140-440, Salvador, BA, tel. (71) 3247-3022
Escola Stance Dual, R. Avanhandava, 682, 01306-001, São Paulo, SP, tel. (11) 3255-2780
BIBLIOGRAFIA
Reader?s Handbook: A Student Guide for Reading and Learning (Grades 4-5),
Ron Klemp, Wendell Schwartz, Jim Burke, 783 págs., Great Source Education Group, www.greatsource.com/rehand, 22,94 dólares (cerca de 41,30 reais)
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