Um mestre da cidadania
31/07/2000
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Jornalismo
31/07/2000
O professor Moacir Fagundes de Freitas é totalmente contra os que dizem que lecionar é apenas ensinar o que está nos livros didáticos. Prefere mostrar que a História é feita todos os dias. Na Escola Estadual Guilherme Hallais França, em Vespasiano, interior de Minas Gerais, ele desenvolveu ao longo do ano passado um projeto que representa bem esse espírito. Sua turma de suplência da 8ª série reviveu a disputa eleitoral entre Getúlio Vargas e Júlio Prestes no distante ano de 1930. O trabalho rendeu a Moacir o Prêmio Victor Civita Professor Nota 10, recebido das mãos do ministro da Educação, Paulo Renato Souza, e dedicado ao pequeno Lucas, seu filho de 5 anos.
Os meandros dessa disputa eleitoral, que parecia tão longe da vida dos alunos, não foram apenas relembrados. "Promovi um diálogo entre o passado e o presente", destaca o mineiro de 38 anos. Ele relacionou o momento político estudado nos livros às formas atuais de participação popular, inclusive na "conservadora" Vespasiano.
As atividades levaram a classe a perceber que é possível participar mais da vida da própria cidade. Uma descoberta que motivou os jovens num momento muito oportuno. A escola passava, em 1999, por um processo de municipalização. Uma parte dos professores, entre os quais Moacir, era contrária à mudança. "A maioria dos alunos também", lembra. "Se ela passasse para o município, não poderia começar a oferecer o Ensino Médio, como estava previsto."
Campanha acirrada
Durante o projeto sobre o pleito de 1930, o professor formou dois grupos, que representavam o Partido Republicano e a Aliança Liberal. Como em uma campanha eleitoral, os estudantes organizaram propagandas e debates para defender as plataformas políticas de cada facção.
Terminadas as campanhas de "Getúlio Vargas" e de "Júlio Prestes", Moacir organizou a votação. "Ao contrário do que ocorria na época, as mulheres também puderam votar", conta. Na hora da apuração, mais uma surpresa. O resultado, fraudado propositalmente pelo professor, foi contestado por vários "eleitores" da 7ª série. "Apesar de ter mantido a vitória de Júlio Prestes, divulguei um número bem pequeno de votos para Getúlio, o que os deixou indignados." A solução, também com objetivos didáticos, foi pedir à turma de 8a para explicar aos colegas mais jovens que as fraudes eleitorais eram comuns no início do século.
Se estava dividida na disputa eleitoral, a classe se uniu na briga para manter a escola nas mãos do Estado. Fora da sala de aula, debates ocuparam a rádio local, com muitos alunos defendendo os prós ou contras da municipalização. "Essa luta foi uma aula de cidadania que valeu por dez de História", afirma Moacir.
O arquivamento do processo deixou todos felizes. Neste ano, entraram em funcionamento as primeiras turmas de ensino médio da Guilherme Hallais França, à qual Moacir dedica agora apenas parte de seu tempo. Chamado a ocupar uma vaga de titular na rede municipal de Belo Horizonte, ele assumiu turmas na Escola Vicente Guimarães. Lá, novos alunos estão tendo o privilégio de conhecer uma História muito mais viva.
Quer saber mais?
Moacir Fagundes de Freitas, R. Olivier Teixeira, 648, CEP 33600-000, Pedro Leopoldo, MG, tel: (31) 662-1769
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