Uma janela para o mundo
O correio eletrônico leva o planeta para dentro da classe e torna a Geografia mais interessante
PorMarcos Vita
31/08/2002
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Jornalismo
PorMarcos Vita
31/08/2002
Você já foi às Ilhas Maldivas? Visitou o Chade? Alguma vez pensou em dar um pulinho em Bornéu? Esse roteiro, exótico, nunca havia passado pela cabeça dos alunos da Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Oca dos Curumins, em São Carlos, a 236 quilômetros de São Paulo. Em apenas dois meses, porém, eles conheceram um pouquinho desses países, além de outras 139 nações e possessões espalhadas pelos cinco continentes. Tudo sem sair da sala de aula. Como? Graças a uma atividade diferente de Geografia que usou o e-mail como ferramenta principal.
O trabalho, chamado Até Onde Chegaremos pela Internet, foi feito por 19 crianças da 4a série. O objetivo era saber o alcance de uma mensagem eletrônica num intervalo de 60 dias, entre os meses de março e maio. Para começar, 25 e-mails foram mandados para conhecidos no estado de São Paulo. Na carta, escrita em português e inglês, os alunos apresentavam a iniciativa, sugerindo que a mensagem fosse encaminhada a outros destinatários com uma cópia para a escola, mencionando a cidade de onde estava escrevendo.
Geografia
Tema: Internet e globalização
Objetivo: Descobrir o poder de comunicação da internet, entrar em contato com a realidade de outros países e desenvolver noções de globalização
Como chegar lá: Prepare uma mensagem com os alunos para ser distribuída por e-mail. Ela deve ser uma apresentação da atividade desenvolvida. Envie uma primeira remessa limitada de correspondências pedindo que os destinatários repassem para seus conhecidos com uma cópia para a escola, destacando o lugar de onde a pessoa está escrevendo. Com base nesses dados, peça que os alunos identifiquem as localidades num mapa e fale sobre cada uma delas, à medida que a curiosidade surgir
Dica: Discuta as idéias com a turma antes de começar o trabalho. Envolva a garotada em todas as etapas. Tente organizar o projeto com colegas de outras disciplinas
O sucesso da iniciativa se traduz em números: uma avalanche de 103987 mensagens dos quatro cantos do planeta encheu a caixa de entrada da escola. "Boa parte dos destinatários mandou, além da confirmação de recebimento, fotos de sua região e informações sobre o país", conta a professora Sueli Esperança Triques, que desenvolveu o trabalho.
O projeto atraiu o interesse geral. As crianças liam as respostas à medida que chegavam, identificando a origem e representando a localização dos respondentes com alfinetes coloridos no mapa-múndi pendurado no mural. "Eles traziam dúvidas para a sala e transformavam as aulas num interessante bate-papo sobre a globalização e o mundo atual", destaca Sueli.
Outros professores
Mais: as mensagens serviram como matéria-prima para um site e para as aulas de Matemática, História e Inglês. Na primeira disciplina, os alunos tabularam os números, conheceram o valor das diferentes moedas e resolveram questões de probabilidade. Conceitos históricos entraram para contextualizar eventos ocorridos em cada um dos países estudados e também algumas de suas tradições mais importantes. Já a língua estrangeira entrou em cena para traduzir as mensagens.
Além de aprender tantas coisas, a garotada se sentia valorizada. "Mesmo vivendo num ambiente de guerra, um afegão arranjou tempo para nos enviar um e-mail", destaca Tales Eduardo Saia, de 9 anos. Chegaram ainda mensagens de lugares inóspitos, como a Antártida, e de pessoas importantes, como três senadores norte-americanos. Para não sobrecarregar a caixa de entrada da escola, Ken Ozaki, japonês da cidade de Saitama, recorreu à tradição: enviou uma carta à Oca pelo correio comum.
Jogo de comparações
Você pode fazer algo semelhante com seus alunos. "A Geografia viabiliza comparações e a correspondência eletrônica facilita isso. Por meio dele, professor e alunos podem comparar vários aspectos de sua região com os de outros países, como agricultura, urbanização, efeitos de mudanças climáticas - um mundo inteiro de informações", afirma o professor Celso Antunes, diretor do colégio Sant´Anna Global e autor de livros didáticos.
Com iniciativa e criatividade, a internet é mesmo um mundo de possibilidades em suas mãos. "No momento em que o educador tem autonomia, a rede lhe dá asas. Ele deve se apropriar dessa tecnologia e incorporá-la em aula", completa Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.
Bisavó do século 21
Mabel Medeiros Rodrigues (foto) é uma bisavó carinhosa como todas as outras, mas diferente e rara. Com a mesma naturalidade com que afaga os cabelos da bisneta, essa professora aposentada de 72 anos lida com os computadores da Oca dos Curumins. A intimidade vem da década de 1970, quando Mabel era professora de Química no campus da Universidade de São Paulo em São Carlos e teve acesso aos micros pela primeira vez. Foi ela a principal idealizadora da atividade descrita nessas duas páginas.
"Os professores precisam perder o medo da tecnologia e usá-la para criar aulas mais interativas e interessantes", afirma Mabel, que cuida de todos os projetos que envolvem internet na escola.
Quer saber mais?
Contatos
Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Oca dos Curumins, R. da Imprensa, 392, CEP 13569-170, São Carlos, SP, tel. (16) 271-5976, e-mail: oca@linkway.com.br
Bibliografia
Educação na Cibercultura, Andrea Cecília Ramal, 268 págs., Ed. Artmed, tel. 0800 703-3444, 42 reais
Globalização & Educação, Nelson Pretto (org.), 114 págs., Ed. Unijuí, tel. (55) 3332-7100, 8 reais
Sala de Aula de Geografia e História, Celso Antunes, 192 págs., Ed. Papirus, tel. (19) 3272-4500, 22 reais
Sala de Aula Interativa, Marco Silva, 232 págs., Ed. Quartet, tel. (21) 2516-5353, 27 reais
Internet
Confira o projeto da Oca dos Curumins em www.geocities.yahoo.com.br/ateondechegaremos
Pesquisas sobre o uso do computador em sala de aula no site www.prossiga.br/edistancia
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