O fim da seca?
Bombear as águas do Velho Chico para irrigar o sertão pode ajudar as turmas de 5ª a 8ª série a analisar o futuro social e ambiental da Região Nordeste
06/06/2006
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Jornalismo
06/06/2006
Para quem vive às suas margens, ele é o Velho Chico, que refresca e irriga a região. Para as pessoas que sofrem com a seca no sertão, ele não passa de um rio distante e desejado. A cobiça vem justamente quando se imagina suas águas matando a sede da população e mantendo produtivas as pequenas propriedades agrícolas do Polígono das Secas, localizado na Região Nordeste.
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo projeto de transposição do São Francisco, o desvio de 1,4% de seu volume servirá para abastecer rios do Ceará, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e de Pernambuco, que ficam secos em certas épocas do ano. A água para irrigação ou indústria será a que sobrar depois que o abastecimento humano estiver garantido.
Orçado em 4,5 bilhões de reais, o projeto aguarda decisão judicial. Se liberado, ainda levará cerca de dois anos para ser concluído. A idéia de desviar o curso do rio foi debatida pela primeira vez em 1847, no governo dom Pedro II. Nunca houve consenso sobre se essa é a melhor maneira de acabar com a seca no Nordeste (leia ao lado), mas você e seus alunos têm muito a aprender com esse tema.
Sala de aula
O homem no meio
O professor de Geografia Francisco Ednardo Gonçalves, de Natal, trabalhou a transposição do rio São Francisco pelos aspectos físicos. Já seu colega Thiago Lima, de João Pessoa, abordou os fatores econômicos e sociais. Acompanhe as duas experiências.
Paisagem transformada
A turma de 5ª e 6ª séries de Educação de Jovens e Adultos da EM Irmã Arcângela, em Natal, é quase toda composta por pessoas que saíram do interior e conviveram com a seca. Quando elas ouviram falar que o São Francisco poderia chegar ao sertão, a alegria foi geral. Imaginaram a água saciando a sede e irrigando a plantação. O professor Ednardo preparou atividades para todos conhecerem melhor o projeto do governo e estudarem dois conceitos geográficos: paisagem e espaço. "O objetivo era descobrir como ambos sofrem mudanças ao longo do tempo."
Os alunos consultaram mapas do percurso do rio, fizeram cartogramas indicando as cidades ribeirinhas e as que estão no trajeto dos novos canais, e analisaram dados sobre a população nas últimas décadas. Compararam tudo com a história do rio Potengi que integra as cidades do interior do Rio Grande do Norte com o litoral e fotos antigas com atuais.
Uma visita ao trecho próximo à foz do Potengi levou à constatação de que o aumento da densidade demográfica e das atividades econômicas causou a deterioração do rio e a destruição da mata ciliar. Os estudantes deduziram, então, que o mesmo pode ter acontecido com as cidades banhadas pelo São Francisco. Ednardo leu matérias de jornais e revistas e organizou debates. No final, todos entenderam como o cenário local pode mudar depois que o projeto for implementado.
Reais interesses
Thiago Lima, do Colégio Interativo, em João Pessoa, trabalhou o assunto na 8a série com enfoque na agricultura de subsistência que emprega metade da população local e questionou: esse setor da economia será beneficiado? Para orientar a pesquisa, ele pediu que os estudantes procurassem informacões sobre como o projeto tornaria a vida das pessoas mais digna.
Lima levou para a sala de aula textos variados. Alguns informavam que as áreas agraciadas pela transposição pertencem a latifundiários.
Os alunos pesquisaram termos desconhecidos (como assoreamento e canalização do leito) e estudaram mapas, fotografias, imagens de satélite e desenhos dos eixos de interligação. "Não queria consenso, porque ele não existe nem entre os especialistas.
Meu objetivo era que os jovens exercessem a cidadania, debatendo o tema."
Consultoria: Francisco Sarmento, do Projeto São Francisco, João Abner, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco
Estudar a transposição...
? Permite entender o problema da seca.
? Ajuda a formar opiniões sobre o projeto e a debatê-lo.
? Relaciona conceitos de Geografia com a realidade das comunidades locais.
UM RIO, MUITAS OPINIÕES
A FAVOR
? A oferta de água no semi-árido vai aumentar. Hoje ela é inferior à metade estabelecida como mínima para a vida humana (500 m3 ao ano por habitante).
? Cidades de médio e grande porte não vão sofrer mais com a escassez de água.
? O rio será revitalizado em vários trechos.
? A perda da água por evaporação nos açudes vai diminuir, já que o bombeamento será constante.
CONTRA
? O Nordeste é auto-suficiente em recursos hídricos, mas usa mal a água.
? Localidades com pouco dinheiro e poder político continuarão sem água.
? A água está poluída em diversos trechos do rio.
? Há risco de salinização e erosão dos rios receptores e de desequilíbrio ecológico.
Quer saber mais?
Colégio Interativo, R. Monsenhor Walfredo Leal, 439, João Pessoa, PB, 58020-540, tel. (83) 3241-6270
EM Irmã Arcângela, R. São Pedro, 188, Natal, RN, 059104-270, tel. (84) 3232-4828
Internet
Conheça o projeto Revitalização e Integração do rio São Francisco em www.integracao.gov.br/saofrancisco/perguntas/index.asp
Você pode participar do debate sobre a transposição acessando o fórum de discussão do site www.projetobr.com.br
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