Tradição e inovação na bacia do rio Negro
Com o auxílio da internet, alunos de escola indígena em regime de internato fazem pesquisa e registram seus estudos nas línguas nativas
31/03/2012
Este conteúdo é gratuito, entre na sua conta para ter acesso completo! Cadastre-se ou faça login
Compartilhe:
Jornalismo
31/03/2012
Cultura conectada: Elton mostra o mapa do rio, tema pesquisado na internet
Extremo Noroeste do Brasil. Lar das comunidades indígenas do alto e médio rio Negro, onde vivem 50 mil pessoas, de 22 etnias. Às 6 da manhã, o sino toca e o estudante do 9º ano Elton José da Costa, 18 anos, levanta de sua rede e caminha por uma trilha em meio à Floresta Amazônica. Ele e mais 40 jovens se banham no rio Içana.
Mais um sino e as aulas iniciam na Escola Indígena Baniwa Coripaco Pamáali. Professor de temas como piscicultura, Juvêncio Cardoso escreve a lição: kophenai nako, "sobre os peixes", em baniwa.
Elton é chamado para explicar o seu projeto. O garoto abre um mapa do rio, com dados sobre o impacto da pesca, e usa o data show para mostrar como chegou às suas conclusões: "Pesquisei em livros não indígenas e na internet e conversei com os mais velhos da minha comunidade". Seu trabalho, assim como o dos seus colegas, será compilado em textos escritos em baniwa, o que só passou a acontecer com a criação da escola, no ano 2000. Hoje há prateleiras lotadas com exemplares de pesquisas e de livros na língua indígena, além de blogs e páginas no Facebook.
Para implantar a unidade de ensino (que já formou 105 jovens e também possui aulas em português e na língua tukano), os fundadores receberam o auxílio de organizações como o Instituto Socioambiental (ISA) e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Elas financiam inclusive o transporte dos que vivem mais distante da escola. Elton, por exemplo, viaja três dias de barco para chegar.
Com capacidade para 80 estudantes de ambos os sexos, a instituição mantém turmas do 6º ao 9º ano em regime de internato. Os jovens permanecem ali por dois meses e depois voltam para as suas comunidades, onde desenvolvem as pesquisas. "Eles têm aulas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia e sobre informática e a cultura de seus povos", explica Cardoso.
A turma também aprende tanto a fazer tradicionais armadilhas de pesca como desenvolver uma moderna estação para a criação de peixes. Em certos horários, os meninos vão pescar e abrem roçados. As garotas colhem mandioca e fazem farinha. O lazer inclui o violão, a TV, os computadores e os tablets.
Ao badalar do último sino, Elton comemora: "Estamos mostrando ao nosso povo a importância de nos conectar com o mundo sem nunca perder de vista a nossa raiz e a nossa identidade".
Últimas notícias