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Jornalismo

Material manipulável e inclusão nas aulas de Matemática

Esse tipo de material pode ajudar na construção de práticas inclusivas e aumentar o engajamento de toda a turma

PorRosiane Prates

30/10/2023

Quando o estudante utiliza material manipulável, ele tem a oportunidade de visualizar e experimentar concretamente as operações, criando, assim, uma base sólida para a compreensão dos números, além de ajudar a desenvolver habilidades de resolução de problemas. Foto: Getty Images 

Quando vamos planejar uma aula de Matemática, não é incomum aparecerem  dúvidas sobre qual o melhor material para auxiliar no ensino de determinado conteúdo, pensando em favorecer a aprendizagem dos alunos. Muitas vezes ainda nos deparamos com o desafio de escolher e adaptar esses materiais conforme especificidades, singularidades e particularidades das turmas, considerando os aspectos sociais, culturais e de diversidade.

Caros colegas, quando o ensino-aprendizagem de Matemática é considerado em uma perspectiva inclusiva, podemos pensar, então, em uma abordagem que visa garantir que todos os alunos tenham oportunidades iguais de aprender e participar plenamente das propostas. Assim, as aulas têm como foco assegurar que todos tenham acesso ao currículo, às atividades extracurriculares, às interações sociais, e tudo isso atravessa também questões como alteração de materiais de ensino, apoio individualizado e, ainda, a formação de professores em práticas inclusiva e promoção de ambientes escolares seguros e livres de discriminação.

Dessa maneira, trago alguns tópicos que considero interessantes para nos prepararmos para um planejamento inclusivo, considerado a Matemática.

Material manipulável e as operações fundamentais

Um material manipulável é um objeto que pode ser manuseado, moldado, cortado, dobrado, esticado ou modificado. Argila, massa de modelar, papel, madeira, tecido, plástico e grãos são exemplos que podem ser utilizados em diversas atividades. Assim como outros instrumentos pensados para a própria Matemática, como o ábaco.

Especialmente no estudo das operações fundamentais, esse tipo de material pode ajudar a construir uma experiência prática para os alunos explorarem e compreenderem conceitos abstratos.

Quando o estudante utiliza material manipulável, professora e professor, ele tem a oportunidade de visualizar e experimentar concretamente as operações, criando, assim, uma base sólida para a compreensão dos números, além de ajudar a desenvolver habilidades de resolução de problemas e pensamento lógico. Assim, pode ficar mais fácil contar, agrupar, separar, comparar, somar, subtrair, multiplicar e dividir. 

Além disso, esse tipo de material permite que os alunos testem suas hipóteses e experimentem diferentes estratégias de resolução de problemas, contribuindo com a aprendizagem ativa e envolvente, incentivando a exploração, a descoberta e o pensamento crítico. 

Aspectos do Desenho Universal para Aprendizagem

Professora e professor, quanto ao contexto que envolve inclusão e acessibilidade na educação, temos a relação entre o material manipulável e o Desenho Universal para Aprendizagem (DUA), uma vez que essa abordagem tem como foco a acessibilidade e a participação de todos os estudantes. O DUA busca criar ambientes inclusivos, nos quais todos os alunos possam se engajar, independentemente de suas habilidades, necessidades ou estilos de aprendizagem, com a ideia de fornecer múltiplas formas de representação, ação e engajamento.

Com o DUA, os estudantes podem explorar conceitos matemáticos de maneira tátil e visual, facilitando a compreensão e a conexão com os conteúdos, além de poder ser adaptado e personalizado de acordo com as necessidades individuais de cada um.

Importante enfatizar, colegas, que essa relação do DUA e a utilização de material manipulável permitem chegar de maneira ampla em determinada turma. Por exemplo, alunos com deficiência visual podem utilizar blocos de construção com relevos táteis, fichas em braile para realizar as operações ou até mesmo grãos ou palitos. No entanto, essa mesma abordagem é aplicável também para os alunos que não têm essa deficiência, evidenciando que todos poderão participar da prática, aspecto que fortalece a inclusão e acessibilidade, de maneira interativa e colaborativa.

Dessa forma, oferecer uma variedade de materiais manipuláveis, fortalece a possibilidade de garantir que todos os alunos tenham igual acesso às atividades e possam participar de forma ativa, valorizando a diversidade e promovendo a igualdade de oportunidades.

Passo a passo para planejar

  • Diagnóstico

Entenda as necessidades e habilidades da turma para traçar caminhos que possam promover a aprendizagem.

  • Objetivo 

Tenha clareza do que se deseja atingir naquela aula. Só então pense na forma de ensinar.

  • Questionamento

Pergunte-se: o conteúdo está sendo dado de diferentes formas? Há oportunidades para o aluno representar a aprendizagem dele de diferentes formas? Quais estratégias motivaram o envolvimento na aula? Como vou avaliar a aprendizagem?

Campos Conceituais: Vergnaud, Piaget e alguns aspectos do pensamento de Vygotsky

Ao inserir a utilização de material manipulável no planejamento, é possível fazer uma relação com a teoria de alguns pesquisadores, como Gerard Vergnaud, que enfatiza a importância de dar significado aos conceitos matemáticos, em diferentes situações, por meio de conexões entre os campos conceituais, permitindo que os alunos construam uma visão integrada da Matemática.

Essa é uma teoria psicológica que permite o estudo de continuidades entre os conhecimentos sob a ótica de seu conteúdo conceitual. É considerada uma teoria cognitivista neopiagetiana, com foco especial nos campos da estrutura aditiva e estruturas multiplicativas. Importante frisar, porém, que a teoria dos campos conceituais não está limitada à Matemática, com possibilidades de aplicações em outras áreas.

É bacana, professora e professor, perceber que a teoria de Vergnaud tem base piagetiana quando o conceito de esquema é considerado. Também pode, em algum momento, ter um olhar a partir da influência vygotskyana por considerar o professor como mediador no processo de ensino-aprendizagem, sendo a linguagem e os símbolos importantes nesse processo de mediação, em que, por meio de uma variedade de situações, o aluno tem a possibilidade de se desenvolver durante a prática pedagógica.

A importância da inclusão e acessibilidade no ensino-aprendizagem

Caros colegas, a inclusão e a acessibilidade no ensino e aprendizagem de Matemática são fundamentais, pois temos como foco garantir que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades, independentemente das suas habilidades  ou limitações. Dentro desse contexto, temos os aspectos sobre igualdade de acesso, que visa assegurar que os alunos tenham disponíveis materiais alternativos em formatos acessíveis, tecnologias assistivas e atendimento individualizado.

O olhar para os materiais pensando na inclusão nos ajuda, no fim, a reconhecer e valorizar a diversidade de habilidades, experiências e as múltiplas maneiras de aprender de cada aluno. Por meio da perspectiva inclusiva, é também possível reduzir barreiras de aprendizagem, sejam físicas - por exemplo, aquelas relacionadas à falta de materiais ou tecnologia-, ou até mesmo as barreiras cognitivas.

A Matemática, professora e professor, é essencial para a preparação e desenvolvimento da vida para cidadania, aspecto que evidencia a importância dessa área no ambiente escolar com um olhar para todos. 

Assim, quando relacionamos a utilização de material manipulável ao ensino-aprendizagem de Matemática em uma perspectiva inclusiva, temos, então, um contexto amplo de discussão, pois a partir de determinado modelo de material é possível delinear estratégias que proporcionam ampliar os benefícios como engajamento e motivação, exploração e experimentação, representação e comunicação, desenvolvimento de conceitos e habilidades, bem como a aprendizagem multimodal, aquela que permite ao aluno receber informações de diferentes modalidades sensoriais. 

E você, colega, já encontrou algum desafio relacionado à utilização de material manipulável em Matemática em uma perspectiva inclusiva?! Conta pra gente!

Até a próxima!

Rosiane Prates é professora de Matemática das séries finais do Ensino Fundamental, atua há mais de dez anos na rede pública e já integrou o Comitê de Avaliação do Município de Pinheiros (ES). Em 2022, participou da quarta edição do Mulheres na Ciência e Inovação, programa de formação para pesquisadoras no Brasil realizado pelo Museu do Amanhã e o British Council. Também foi professora-autora no projeto Planos de Aula de Matemática, realizado pela Associação Nova Escola. Além disso, tem participação como voluntária em projetos socioeducacionais e de empreendedorismo. É licenciada em Matemática e Pedagogia, graduada em Administração e especialista em Ensino e Currículo e em Matemática na Prática.

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