Mapa de síntese: resumo contado em imagens e símbolos
Quinta reportagem da série sobre cartografia mostra como organizar os conhecimentos que os alunos têm para ensiná-los a interpretar mapas de síntese
01/10/2011
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Jornalismo
01/10/2011
No fim do Ensino Fundamental, seus alunos já devem saber o que é um mapa, quais são os elementos que o compõem (como título, legenda e escala) e a melhor maneira de interpretá-los, reconhecendo seus símbolos - conforme mostrado nas reportagens anteriores da série sobre cartografia, publicadas em NOVA ESCOLA desde a edição de maio. Dominar esses conteúdos é importante para que sua turma possa dar um passo além e saber como interpretar com propriedade os chamados mapas de síntese, imagens que reúnem temas variados sobre determinado local.
Para entender melhor esse material, pense no resumo de um filme, que traz partes da história de maneira que ela seja bem compreendida na totalidade. Da mesma forma, um mapa de síntese mostra determinados dados - como os elementos de uma paisagem, a poluição e o uso da terra - utilizando símbolos próprios da linguagem cartográfica para passar uma mensagem mais complexa (leia uma atividade sobre esse tipo de mapa na página seguinte). "O mapa de síntese é o tipo mais complexo de mapa temático, pois agrega assuntos variados e que interagem entre si", explica Hervé Thévy, do Centre National de la Recherche Scientifique, de Paris, e professor convidado da Universidade de São Paulo (USP). Ele diferencia esse tipo de mapa do analítico (que representa apenas um tema, como o de vegetação) e do de correlação (em que dois assuntos aparecem de maneira relacionada, como num mapa de vegetação e clima).
Por ser tão completo, o mapa de síntese aparece frequentemente em revistas e materiais didáticos. O morfoclimático, por exemplo, que está presente nos atlas, mostra informações sobre clima, vegetação, geologia, relevo e solo. Mesmo sendo familiar aos alunos, essa representação é objeto de ensino apenas no Ensino Médio. Rosângela Doin de Almeida, livre-docente em Prática do Ensino de Geografia pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de Rio Claro, alerta, porém, para a importância de a garotada saber como interpretá-los no Ensino Fundamental, ainda que nos anos seguintes volte a aprofundar sua análise e eventualmente até produzir alguns deles.
Foi pensando em desenvolver essa competência nos alunos do 9º ano que a professora Mariza Pissinati, da EE do Jardim Eldorado, em Londrina, a 378 quilômetros de Curitiba, apresentou o mapa geoeconômico da Ásia. Eles já tinham estudado diversos assuntos sobre o continente, mas não tinham visto uma representação que reunisse todos eles. "Como o mapa sintetizava as informações aprendidas no decorrer das aulas, ele serviu para retomar o que a garotada aprendeu. Além disso, foi um importante indicador dos pontos que precisavam ser revistos para que todos aprendessem", conta a educadora (veja os mapas utilizados e entenda como foi o encaminhamento das aulas nas imagens).
Ela notou que muitas vezes a dificuldade dos estudantes não estava em compreender os elementos cartográficos, mas em não reconhecer o conteúdo trabalhado. Rosângela indica que, nesse caso, o interessante é mesclar a análise da imagem com outra atividade, com uma leitura ou discussão sobre o tema para resolver as dúvidas que aparecerem. De volta à imagem, é importante identificar todos os fenômenos reunidos no mapa geoeconômico separadamente.
Nas aulas de Mariza, são quatro mapas analíticos (sobre indústria, ambiente, população e agropecuária) da Ásia. "Assim a turma consegue visualizar as informações de forma isolada e depois voltar ao mapa de síntese para analisar a relação entre elas e verificar que símbolos foram usados para mostrar isso." Nesse momento, Mariza faz diversos tipos de encaminhamento: "Pergunto por que alguns países são pintados com a mesma cor e o que eles têm em comum para serem agrupados com esse símbolo", conta.
Dados escolhidos a dedo e uma representação clara
Uma característica importante de um mapa de síntese é ser resultado de uma escolha de dados, uma eleição feita com intencionalidade - diferentemente do que ocorre em um mapa sobre vegetação, por exemplo, em que as informações são mostradas com objetividade. Por isso, é essencial discutir com os alunos o que o autor quis mostrar ao omitir ou destacar dados na representação. Uma possibilidade é propor que façam um exercício de descrição da cidade em que vivem. Pergunte à turma: "O que de significativo há para contar sobre o local?" "Dentre os aspectos levantados, o que deve constar e o que pode ser descartado por não cooperar para o entendimento da informação que queremos sintetizar?" Por exemplo, em um mapa da cidade de São Paulo, é importante mostrar as áreas verdes? Por quê? Talvez algum aluno responda que não por haver poucas regiões assim na cidade. Outro pode dizer que é bom colocar esse dado no mapa exatamente para mostrar o quanto a situação é preocupante. Esse olhar, analítico e crítico, deve acompanhar as discussões que o professor encaminha com a turma.
Outra capacidade do mapa de síntese é mostrar como os dados estão relacionados, sem parecer que a imagem é apenas um apanhado de informações isoladas. "Isso aparece, por exemplo, em uma representação que une a densidade populacional e a atividade econômica, mostrando que existe uma maior ou menor quantidade de habitantes conforme o que se faz em determinado local", diz Rosely Sampaio Archela, professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Thévy explica que um mapa de síntese só cumpre sua função quando "faz uma representação consistente sobre o assunto que se quer tratar, tendo em vista a legibilidade das informações apresentadas". Para as informações ficarem claras, portanto, a base cartográfica, as escalas, a projeção e as diversas variáveis visuais (cores, formas e tamanhos) - aplicadas em pontos, linhas e áreas - precisam estar bem articuladas, mostrando os fenômenos e o que os une.
Exercício de leitura e interpretação de mapa de síntese
O mapa abaixo reúne fenômenos que impactam o meio ambiente do Brasil, como a ocupação do solo, as ameaças ambientais e o estado de conservação dos mangues. Veja como conduzir a turma a interpretá-lo para entender o problema geográfico tratado
Leitura
Inicie a observação do mapa perguntando para a turma qual o tema abordado, quais informações ele apresenta e como foram representadas. Oriente os alunos na leitura do título e da legenda para identificar essas respostas. Indique também que notem a data e a fonte para saber a confiabilidade da informação.
Interpretação
Questione os alunos sobre as variáveis visuais: que cores aparecem? O que elas indicam? Quando uma área tem mais de um tipo de informação, de que forma isso pode aparecer? Indique que, para marcar trechos com contaminação do solo e da água por agrotóxicos, o autor fez traços sobre os tipos de ocupação do espaço.
Análise
É importante notar qual a relação entre as informações representadas. No mapa à esquerda, a chuva ácida ocorre em espaços profundamente transformados e onde há poluição do ar e da água pela atividade industrial. Por que isso ocorre? Desafie os alunos a entender a dinâmica espacial que o mapa propõe.
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