Direitos de aprendizagem da BNCC: pontos de atenção para professores
Os direitos perpassam a concepção que os profissionais têm de educação, de ensino-aprendizagem e de infância
19/06/2023
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Jornalismo
19/06/2023
Queridas professoras e professores!
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se consolida em um documento capaz de criar uma consonância em relação aos objetivos e expectativas para a Educação Infantil, embora tenha sido criticada em relação a englobar toda a diversidade de um país continental como o nosso e, também, sobre os aspectos que envolvem o desenvolvimento e aprendizagem pertinente para a primeira infância. Ou seja, foi preciso escolher, mas existe a orientação de que os territórios incluíssem suas particularidades.
Algo fundamental nesse documento e que deve ser pauta constante de discussão entre nós, professores, são os direitos de aprendizagem. Particularmente, vejo com receio a apresentação deles em tópicos, pois a tendência é tratá-los como conteúdos de um currículo. Precisamos fortalecer a ideia de que os direitos de aprendizagem transpassam todo o documento e todas as atividades com os bebês e crianças pequenas.
Na prática, os direitos perpassam a concepção que os profissionais têm de educação, de ensino-aprendizagem e de infância, uma vez que revelam-se no modo como se estabelecem as relações no cotidiano, desde a escolha dos móveis e utensílios até o cronograma de ações que são desenvolvidas.
Para especificar um pouco mais, gostaria de compartilhar com vocês algumas situações no cotidiano que favorecem a garantia dos direitos de aprendizagem. Na minha experiência de anos em sala de aula, vejo a expressividade de crianças pequenas serem, aos poucos, silenciadas pela imposição do adulto que organiza o tempo e o espaço para que se faça valer as suas próprias vontades.
Desse modo, ainda que a ideia de que os direitos devem ser promovidos, a forma como nos relacionamos com as crianças pode convergir para o contrário. Vou trazer alguns pontos sobre cada um dos direitos, mas espero que percebam que um direito envolve diretamente os demais.
Estar por si só em um espaço coletivo nem sempre é a garantia de convivência. Para que se efetivem boas aprendizagens, não basta estar no espaço: é preciso ser parte dele por meio do contato com pares de desenvolvimento colaborativo e com interesses similares, bem como na pluralidade de histórias, de modos de agir e de pensar.
Portanto, além da convivência com professores e colegas da mesma faixa etária, é importante planejar momentos com diferentes faixas etárias e criar vínculos com o reconhecimento do papel e valor de cada profissional que habita esse espaço e, também, com a comunidade escolar. Outro fator primordial está na reflexão sobre a diversidade de gêneros, etnias e de idades.
Na Educação Infantil, é preciso refutar uma rotina marcada por momentos de brincar e momentos chamados de atividades. Para a criança, todo o tempo deve ser de brincadeira.
As propostas de investigação, de construção e exploração devem conter a seguinte questão: "qual oportunidade a criança está tendo de brincar com o que eu estou propondo?”
Para garantir esse direito, é importante a criança vivenciar a tomada de decisões coletivas sobre situações de cada dia, para realizar escolhas e trazer rotas que impactam a vida coletiva, como por exemplo:
Aqui, é importante a instituição ter espaços como caixa de areia ou de barro, assim como uma variedade de materiais intencionalmente oferecidos. Criar espaços e cantos circunscritos, trazendo variados contextos como casinha, espaço pet, mercadinho, entre outros.
Deve-se oferecer materiais com cores e texturas, privilegiando os elementos da natureza, para que as crianças experimentem diferentes sensações. Além disso, é preciso organizar o espaço da sala de modo que os brinquedos e outros materiais que são de interesse das crianças estejam de fácil acesso a elas.
É preciso aprender a reconhecer as ideias das crianças, para que elas se percebam em um espaço seguro para expressar opinião sem julgamentos sobre sua história, seu contexto e seus valores.
Seus sentimentos devem ter espaço e tempo para serem acolhidos e compartilhados para além da oralidade, como na linguagem das artes. As cantigas da cultura local, as rodas de música, vivências com tintas e materiais riscantes, entre outros, são oportunidades ricas para o direito de se expressar.
Embora o espaço da Educação Infantil seja um local para o coletivo, cada sujeito é único e possui suas preferências. Por isso, é importante que o professor apoie as crianças no reconhecimento de suas individualidades e preferências, para saber o que as afeta e o que desagrada.
O que de mais valoroso a educação pode nos fornecer é o encontro com nós mesmos, a possibilidade de reconhecer as próprias fragilidades, mas também a gama de potencial que passa pelo autorrespeito e autocuidado. As propostas que envolvem o conhecimento do seu corpo, das suas expressões e ter oportunidade de fazer escolhas pessoais envolvem esse direito.
Caros colegas, vejam que todos os direitos perpassam, fundamentalmente, o modo como nos relacionamos com as crianças. Então, vale a reflexão e análise constante das nossas práticas cotidianas para que possamos tomar decisões cada vez mais assertivas que garantam o protagonismo dos pequenos.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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