Quadro numérico: uma ferramenta para a alfabetização matemática
Confira algumas dicas para trabalhar o quadro numérico em sala de aula
19/04/2023
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Jornalismo
19/04/2023
Em uma das nossas primeiras conversas por aqui, ao abordar materiais que facilitam a alfabetização matemática, apontamos o quadro numérico como um desses recursos. Realmente ele está sempre na grande maioria das salas de aula, mas sabemos que, muitas vezes, o quadro pode estar na parede apenas como mais uma imagem.
Para refletir sobre os usos do quadro numérico em sala de aula, fizemos uma formação na nossa escola, e quero compartilhar com vocês os principais pontos.
Para esta reflexão, trago as três questões que propusemos às professoras na formação. Convido você a respondê-las antes de continuar a leitura:
Pensou sobre cada uma delas? Vamos, agora, conversar um pouco sobre as perguntas e a nossa prática.
Lá na escola, nossa diretora, Luci Mara Gotardo, propôs assistir a um vídeo do Grupo de Pesquisa e Formação sobre o Conhecimento Interpretativo e Especializado do professor de e que ensina Matemática (CIEspMAT) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que traz possibilidades para o ensino da Matemática na Educação Infantil e no Ensino Fundamental.
No vídeo, a professora Cátia Cristina Bevilaqua conta sua experiência sobre o uso do quadro numérico em uma classe de Educação Infantil. Eu me vi várias vezes nas falas dela.
Para mim, o quadro numérico também demorou um pouco para fazer sentido, assim como utilizá-lo de uma forma que realmente atingisse seu objetivo de uso.
Vale lembrar que o CIEspMAT “surgiu da necessidade de podermos ser interventivos na e para a melhoria das aprendizagens e resultados dos alunos de Matemática, empregando uma abordagem inovadora que considera um efetivo trabalho articulado entre Pesquisa e Formação”. Se despertou sua curiosidade, dê uma espiadinha no site do grupo e encontre excelentes materiais teóricos e práticos.
O principal objetivo ao trabalhar o quadro numérico é permitir que os alunos possam perceber as regularidades do quadro e entender a formação do sistema de numeração decimal. Eles precisam perceber que os números aumentam de um em um na linha horizontal do quadro e, na vertical, de dez em dez. Além de, é claro, perceber que, com os algarismos de zero a nove, é possível representar qualquer quantidade.
Certamente, as boas perguntas que vamos propor vão possibilitar as descobertas, sem nunca dar a resposta pronta.
Apresentar o quadro explorando os seus “segredos” – como eu dizia para meus alunos – permite que entendam a regularidade de uma forma mais significativa.
Eu mostrava o quadro e pedia que eles observassem qual era o “segredo” dos números que ali apareciam. E sempre as turmas conseguiam apontar, a partir dos questionamentos feitos, a regularidade ali presente.
Você já havia pensado que existem para as crianças “números mais difíceis” de compreender? De acordo com a professora Cátia, os números ditos difíceis são aqueles que vão do 11 ao 15, uma vez que, do zero ao dez, a compreensão é mais fácil pois estão relacionados com a contagem nos dedos; do 16 em diante, estão relacionados à formação (ou seja, dez e seis, o que facilita a ideia da formação do dezesseis, e assim acontece com os demais). Já do 11 ao 15, a sua leitura não dá pistas para a sua formação. Interessante, não é?
Trabalhar a regularidade do quadro ajuda na compreensão desses números que as crianças dizem ser difíceis.
Sabemos que a memorização é um dos aspectos a ser levado em conta para a construção do número. No entanto, propor exercícios mecânicos, de escrever sequências numéricas – do um ao cem, por exemplo – não leva a lugar algum, uma vez que as crianças fazem a atividade sem pensar.
Quais propostas permitem que o estudante coloque em jogo os conhecimentos sobre a regularidade do quadro numérico?
Algumas possibilidades, tendo como objetivo a memorização e proporcionar ao estudante pensar sobre aquilo que está fazendo, são, por exemplo:
Neste plano de aula, você também pode se inspirar com outras ideias.
Na nossa formação com as professoras da escola, propusemos que montassem o quebra-cabeça de um quadro numérico, uma ideia da nossa diretora.
A proposta é entregar à turma, organizada em grupos, um quadro numérico dividido em partes, assim como em um quebra-cabeça, para que cada grupo complete as partes recebidas e, depois, monte o quadro. Isso pode ser feito com qualquer quantidade: do um ao cem; do 250 ao 350, enfim, depende da quantidade que você estiver trabalhando.
Após as professoras colocarem a mão na massa com a proposta, elas foram unânimes em perceber a importância de trazer atividades que permitam aos estudantes pensar sobre sequências numéricas, em vez de repetir mecanicamente a sequência sem, muitas vezes, saber o que estão fazendo.
É exatamente isto que precisamos fazer diariamente em nossa prática: refletir sobre a qualidade daquilo que estamos levando para nossos alunos a fim de que todos, dentro da especificidade de cada um, possam aprender.
Será que aquilo que propomos permite que eles pensem sobre o objeto do conhecimento que estamos trabalhando? No caso do quadro numérico, as atividades são feitas de forma mecânica ou permitem que os alunos pensem sobre esse objeto de estudo? As práticas permitem colocar em jogo hipóteses e a revisão e a reconstrução de novos conhecimentos?
Esse é um grande desafio para nós, professores!
E agora, suas respostas às perguntas que fiz no começo da nossa conversa continuam sendo as mesmas? Espero ter contribuído para que o quadro numérico em sua sala de aula esteja sendo significativo para a sua turma.
Um abraço e até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto Mapas do Tesouro que São um Tesouro, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
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