Como trabalhar situações-problemas após o resultado da avaliação diagnóstica
O gênero textual é uma possibilidade para professores promoverem avanços em Matemática após a sondagem inicial
20/03/2023
Compartilhe:
Jornalismo
20/03/2023
O trabalho envolvendo as situações-problemas permite muitos avanços a cada um dos alunos. Foto: Getty Images
A avaliação diagnóstica, como já conversamos aqui, é o instrumento que nos permite traçar um perfil da nossa turma para conhecer:
Ressalto a importância de analisar os resultados obtidos com um olhar bastante atento, que permitirá a condução do nosso trabalho visando a evolução de todos.
Entre as sugestões para compor a diagnóstica de Matemática, estão o trabalho envolvendo a construção do número e a resolução de situações-problemas. Vamos focar a nossa lente nelas.
A situação-problema é um gênero textual que permite desenvolver as habilidades de análise, interpretação e resolução, exigindo compreensão além do cálculo e elaboração de estratégias para a solução.
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), há a proposição de problemas para os Anos Iniciais do Fundamental “envolvendo diferentes significados das operações, esperando-se que os alunos argumentem e justifiquem os procedimentos utilizados para a resolução e avaliem a plausibilidade dos resultados encontrados. No tocante aos cálculos, espera-se que os alunos desenvolvam diferentes estratégias para a obtenção dos resultados, sobretudo por estimativa e cálculo mental, além de algoritmos e uso de calculadoras” (p. 268).
O trabalho envolvendo as situações-problemas permite muitos avanços a cada um dos alunos, se for realizado a partir de um bom planejamento e focado de acordo com as necessidades apontadas pela diagnóstica. Vale lembrar os tipos de problema que permeiam esse trabalho.
Há os problemas convencionais, nos quais as frases são curtas e objetivas, não necessitando de um pensamento mais elaborado para a sua resolução. Possui uma única resposta numérica. Por exemplo:
Luísa comprou três pacotes de lacinhos. Cada pacote tinha dez lacinhos. Quantos lacinhos Luísa comprou?
Já os problemas não convencionais trazem uma pequena história que permite ao aluno selecionar as informações importantes para resolver a situação-problema. Não há uma única resposta. Abaixo, trago um exemplo retirado do livro Pobremas: enigmas matemáticos, de Patricia Gwinner (já conversamos sobre a obra neste texto). Confira:
“Isso é um cérebro. Cada vez que uma de suas cabeças está doendo, ele tem de tomar quatro comprimidos. Hoje as suas três cabeças tiveram dor. Mas o frasco já estava no fim e ficou faltando comprimidos para uma cabeça. Quantos comprimidos havia no frasco?”
Imagem do livro Pobremas: enigmas matemáticos, de Patricia Gwinner. Petrópolis: Vozes, 1990, presente em material da Sociedade Brasileira de Educação Matemática
Como é possível perceber, no segundo tipo existem diferentes respostas, o que estimula diferentes estratégias de resolução, indo além da aritmética, como no primeiro exemplo de situações-problemas. Vale ressaltar que, embora o problema convencional tenha uma única resposta numérica, o aluno pode resolvê-lo utilizando diferentes maneiras (um desenho, o algoritmo ou as marcas, por exemplo).
As situações-problemas certamente estão presentes em sua rotina. No entanto, como ela é um gênero textual, é necessário ensinar como resolvê-la. Quando as introduzia no 1º ano, eu começava sempre questionando o que era uma situação-problema e, a partir das respostas, apresentava uma situação e a resolvíamos coletivamente. Em muitas turmas, esse trabalho precisa ser sempre retomado.
Comece fazendo a leitura do texto da situação-problema – convencional ou não –, mas sem enfatizar determinado termo. O aluno precisa, por meio da leitura, analisar e encontrar a solução. Levante as palavras desconhecidas, que possam dificultar a compreensão, para discutirem seus significados. Proponha uma nova leitura e questione o que entenderam da “história” narrada pelo texto.
Depois, pergunte quais informações do texto são importantes para a resolução do problema. Conforme falam, com o problema escrito na lousa, vá grifando o que a turma disser. Em seguida, pergunte como podem resolver a situação-problema. Compartilhe as possíveis soluções apresentadas na lousa e peça que cada um vá ao quadro para registrar e explicar como pensou a resolução, discutindo as diferentes possibilidades. Independentemente do tipo de problema trazido, sempre existem diferentes caminhos para a resolução, e é isso que a turma precisa perceber.
Depois que isso ficar claro para o grupo, proponha em outro momento que façam a atividade individualmente. Observe se estão se apropriando das estratégias trabalhadas coletivamente: a leitura, o levantamento das palavras desconhecidas, o grifar de termos que permitem a resolução, entre outras.
Discutam as respostas em duplas ou trios para, em seguida, socializar e trocar, no coletivo, as diferentes maneiras de resolução.
O momento da socialização é sempre muito rico, pois é nele que os alunos vão modificar conhecimentos prévios, refletir sobre como pensaram, elaborar as ideias e os procedimentos matemáticos envolvidos na situação-problema proposta e conhecer diferentes processos de pensamento para uma mesma situação. É um momento com muitas trocas e aprendizagens.
A riqueza está nesse movimento de resolver individualmente, em duplas ou trios, e depois socializar os diferentes caminhos para as respostas. Aliás, fazer isso deve ser uma constante em sua rotina.
E então, o que a sua diagnóstica apontou a respeito de como a turma resolveu as situações-problemas? Vamos (re)investir nesse importante gênero textual na Matemática?
Um abraço e até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
Últimas notícias