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Jornalismo

Como terminar o período letivo com a organização em dia?

Educadores dão sugestões para conseguir realizar todas as tarefas e fechar bem o ano. Escutar os alunos e documentar as aprendizagens são ações essenciais

PorCarol Firmino

28/11/2022

Foto: Getty Images

Se normalmente a rotina diária de um professor já demanda uma boa organização, imagine quando chega o final do período letivo. São muitas atividades para corrigir, aplicação de avaliações finais, consolidação das notas, reuniões com a equipe pedagógica, preparação de feedbacks, participação em conselhos de classe, além de ter de lidar com toda a carga emocional que os alunos trazem para a sala de aula nesta reta final.

Dar conta de tudo e manter a saúde mental é um grande desafio. Aliás, se considerados os últimos anos vividos no contexto da pandemia de Covid-19, os obstáculos tendem a parecer maiores. Em 2022, as turmas voltaram definitivamente para o espaço físico das escolas, e todos os envolvidos – alunos, pais, educadores, gestores e funcionários em geral – tiveram de se readaptar ao novo momento.

Em uma certa  “normalidade” e ainda com muita coisa para ser resolvida, as próprias ações de recomposição de aprendizagens exigiram bastante dos professores e gestores, com demandas que vão do diagnóstico à documentação das dificuldades e dos avanços dos estudantes.

Nesse cenário, muitos educadores adotam dinâmicas que ajudam a fechar bem o ano e se apoiam em boas práticas que valem para professores de qualquer componente curricular. Thais Ciardella, coordenadora pedagógica na Comunidade Educativa CEDAC, aponta que, apesar de se falar em encerramento do período, é um momento de reflexão, pois todo ano é uma continuidade do outro.

“O professor vai continuar sendo professor, alunos vão seguir sua trajetória, e as famílias também. Mas a gente tem na Educação esse problema da ruptura, de achar que o preparo é para um ano só, e dá a impressão de estar começando do zero”, diz. Porém, essa é a hora de se fortalecer, olhar para o que foi possível aprender durante o ano e se preparar para avançar.

Olhar para as experiências

Segundo Thais, existe um processo mais individual que ajuda o educador a revisitar seus aprendizados, como listar os livros que leu, os cursos que fez e os conhecimentos que necessita aperfeiçoar. “Depois, ele pode voltar aos seus registros e avaliar quais foram as boas intervenções, os bons projetos e como isso o formou ao longo do ano”, sugere. “Há ainda um movimento que envolve a gestão escolar, a quem cabe escutar o professor para organizar o seu percurso formativo e promover as trocas entre os docentes.”

A especialista acredita que existe um “grande buraco” – o feedback dos estudantes. “Na Educação Infantil, desacredita-se que as crianças possam falar sobre seu percurso de aprendizagem, e, no Ensino Fundamental, isso acaba sendo enquadrado na nota.” Para ela, junto a todas as questões burocráticas do que deve ser feito no final de ano, a conversa com o grupo e a documentação sobre o que ele aprendeu é indispensável.

As professoras Jaqueline Weiler e Francilda Fonseca estão agora justamente nesse momento de transição do ciclo. Jaqueline, mestre em Educação, dá aula para crianças de quatro e cinco anos no Núcleo de Educação Infantil Taquaras, em Balneário Camboriú (SC). Já Francilda, pós-graduada em História do Brasil, leciona para os Anos Finais do Ensino Fundamental na EM Denizard de Almeida e Silva (6º ano), em Cajapió (MA), e na EM Santa Bárbara (6º ao 9º ano), em São Bento (MA). Com realidades profissionais distintas, elas compartilharam suas experiências para ajudar outros educadores a encontrar caminhos para dar conta do desafio de consolidar uma etapa e se fortalecer para a próxima.

Importância da documentação e estratégias de organização

Jaqueline considera que a principal diferença entre esse período e o restante do ano são os documentos que precisam ser entregues para a coordenação pedagógica. Na Educação Infantil, a quantidade é grande. “São avaliações descritivas e individuais das crianças, memorial das propostas desenvolvidas durante o ano, portfólio que relata o percurso de cada um, além de “mini-histórias” e folhetos informativos sobre os projetos que estão acontecendo”, descreve.

Como estratégia de organização, ela adota um planner semanal para registrar todas as datas de entrega, além de pequenas metas diárias. “Por exemplo, se tenho de entregar os pareceres avaliativos até uma data específica, começo a trabalhar nisso pensando que preciso fazer um parecer por dia. Assim, não fico sobrecarregada e garanto que eles sejam elaborados com qualidade”, pontua.

Ela conta também que o mês de novembro já começa a contemplar as sugestões das crianças para a cerimônia de encerramento. Elas costumam estar conectadas a algum dos projetos desenvolvidos ao longo do ano, que são aprimorados e levados para esse momento, visto que há o intuito de encerrar um ciclo de investigações e comunicar os aprendizados conquistados.

Segundo ela, a documentação pedagógica é importante em todas as etapas e deve ser escrita com responsabilidade e profissionalismo. “Quem for ler, seja a família, o professor do ano seguinte ou um profissional da saúde, precisa enxergar uma criança que se desenvolve integralmente, de forma cognitiva, social e emocional.” Além disso, a fase de fechamento de ciclo prevê que o educador faça uma autoavaliação que contemple avanços pessoais e dificuldades a serem resolvidas.

Entre as dicas de Jaqueline, que é uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10 de 2021, está criar sua própria forma de organização, pensando em estratégias para tornar o trabalho mais leve e superar desafios. Ela detalha um de seus métodos: “Eu invisto muito tempo em escrever reflexões sobre cada criança ao longo do semestre. Todos os dias anoto algo em uma pasta que criei no computador com esse propósito. Pode ser a relação com a proposta do projeto em curso, questões sobre o desenvolvimento socioemocional e adaptação ou brincadeiras. Então, [no final do ano] quando faço os registros oficiais, eu tenho muito material”.

Autoavaliação e feedback dos alunos

Assim como Jaqueline, Francilda é uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10 de 2021. Na sua rotina de fim de ano, também está presente a autoavaliação, que deve considerar o feedback dos alunos. “Ouvi-los é uma boa tática para nortear o momento de se autoavaliar, ver o que conseguiu fazer e o que poderia ter feito a mais.”

Ela reforça que o final do ano exige um cuidado maior, pois é quando se encerram as atividades, com uma grande demanda de correções e devolutivas para os alunos e até mesmo para os pais. “São muitas tarefas, e a minha primeira orientação é não se deixar levar pela procrastinação. Deixar tudo para os últimos dias pode ocasionar um cansaço físico e mental além do normal”, comenta. A professora, que atua em duas escolas municipais, lida com sistemas diferentes em cada uma delas para a consolidação de projetos e notas. No entanto, em ambas, documentar essas informações é uma demanda mensal, o que impede o acúmulo de tarefas para essa reta final.

Para ela, manter as anotações organizadas e fazer o registro de tudo é essencial para chegar de maneira mais tranquila ao fim do ano letivo. Esses registros também facilitam a preparação para o conselho de classe. “Ter um relatório das turmas, com o desempenho de cada aluno, seja de excelência ou dificuldade, questões quantitativas e qualitativas, faz com que o professor consiga levar [para as reuniões] a realidade da sala”, diz. Em um ano letivo de busca pela recomposição de aprendizagens, essa prática também é fundamental.

“O planejamento de 2023 parte daquilo que foi construído em 2022. Não se constrói uma estrutura totalmente nova, mas se usa aquilo que se tem de apoio”, destaca Francilda. Jaqueline lembra a importância do trabalho em equipe para que isso aconteça, com gestores e coordenadores pedagógicos guiando seu grupo de professores no acolhimento de alunos e famílias. 

Organização e simplicidade

Além das vivências compartilhadas, as professoras dão sugestões para chegar ao fim do período letivo com mais tranquilidade

  • - Faça um memorial de cada projeto realizado, com registros semanais ou mensais
  • - Crie pareceres individuais dos alunos e destaque os pontos-chave
  • - Tenha frequência ao lançar os registros no sistema, sem deixar tudo para última hora
  • - Exercite a escuta ativa com os estudantes e as famílias, o que ajuda a reforçar os vínculos e direcionar melhor as abordagens
  • - Produza folhetos informativos, portfólios digitais e “mini-histórias” que possam ficar de referência para os professores e alunos do ano seguinte
  • - Tente sair de férias coletivas com quase tudo planejado ou, pelo menos, com uma base sólida para 2023

Esta reportagem faz parte do Especial Fim de Ano Letivo. Confira aqui os demais conteúdos.

 

 

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