Educação Infantil: uma reflexão sobre os portfólios
Neste fim de ano, vale analisar esses instrumentos em busca de um impacto cada vez maior na aprendizagem das crianças
22/11/2022
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Jornalismo
22/11/2022
Olá, professoras e professores! Neste momento em que dezembro se aproxima, ficamos muito mais pensativos a respeito das nossas ações, não é mesmo? E falando especificamente da Educação Infantil, ao longo deste ano de atividades houve um universo de situações e marcos no desenvolvimento dos pequenos – e nenhum documento daria conta de retratar com fidelidade tudo o que foi vivido.
No entanto, entre os instrumentos que contribuem para registrar fragmentos desse percurso e que podem ser capazes de complementar a avaliação descritiva, temos o portfólio. Sabemos que esse material só tem sentido quando sua construção ocorre de maneira sistematizada em um longo período de tempo – e aqui mesmo, na NOVA ESCOLA, encontramos dicas e sugestões de como elaborá-lo alinhado à rotina das crianças e inserido no planejamento do professor desde o início do ano ou ao longo de um semestre.
Aproveitando então as habituais reflexões deste período em que o recesso de fim de ano está no horizonte, a proposta da coluna de hoje é justamente refletir sobre os portfólios montados. Resolvi trazer alguns questionamentos para que nós, educadores, possamos examinar o material que temos disponível, rever as ações que resultaram nesse produto e ainda rascunhar algumas resoluções para impulsionar nossos futuros trabalhos. Vamos juntos nessa análise crítica?
Verifique se, na parte das construções iniciais, está explícito por que esse recurso foi o mais útil no momento e quais foram as situações e conversas que indicaram que seria pertinente realizar o registro do percurso desse modo.
Entre os itens que podem ser interessantes de encontrar marcados ali, podemos citar uma problemática observada com e/ou pelas crianças, uma sequência de evidências de que o tema era emergente para o grupo ou mesmo um questionário realizado com as famílias, em que foram compartilhadas observações das crianças em casa – uma forma relevante de documentação processual.
A partir do diagnóstico descrito anteriormente, observe se está evidente quais eram os objetivos a serem alcançados e se as estratégias utilizadas tiveram o intuito de promovê-los. Lembre-se de que esses objetivos têm amparo na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com foco no que as crianças terão a oportunidade de aprender e desenvolver, sempre visando ampliar seu repertório e sua visão sobre diferentes contextos. Nunca se esqueçam do velho ditado: quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve – isso vale tanto para quem tenta trazer muitas informações ao mesmo tempo no portfólio quanto para aquele que começou, mas se perdeu pelo caminho.
Como estamos falando de algo que documenta um período considerável de atividades, é importante que nele constem as circunstâncias que marcaram essa fase, como mudanças, desvios de rota, despedidas, situações inusitadas e erros cometidos que se transformaram em lição.
Ou seja, o portfólio tem a finalidade de trazer fragmentos de vida que incluem tanto as belezas e situações exitosas quanto os momentos não tão agradáveis, mas que foram capazes de provocar, sacudir, inverter e levar a outras formas de pensar e agir.
Reflita: quantas vezes, ao longo do semestre ou do ano, as famílias tiveram acesso ao que estava sendo idealizado? E como puderam participar disso? Além disso, analise se o portfólio esteve em sala em meio às experiências, situações planejadas e a própria periodicidade desse instrumento dentro do seu planejamento. Dependendo do grupo etário, as falas serão menos elaboradas, e os gestos e impressões a partir do olhar do professor é que vão comunicar como se envolveram e o que foi mais significativo.
De qualquer maneira, caso esses pontos não sejam identificados, corre-se o risco de que nem todas as crianças tenham sido contempladas na estruturação desse material. Com isso, cabe registrar a necessidade de que futuramente o portfólio tenha um lugar cativo na sala. É crucial também que ele contemple diferentes meios de expressividade da comunidade escolar, especialmente das crianças, como suas garatujas, desenhos, hipóteses de escrita, imagens, falas em transcrições de áudios e vídeos, gestos, expressões e decisões coletivas – bem como reflexões posteriores que explicitem o que foi vivido e sejam capazes de evocar memórias.
Com o recente período de pandemia, foi necessário que a comunicação para manter vínculos com crianças e famílias se desse via mídias sociais e dispositivos tecnológicos, e invariavelmente os suportes para o portfólio se expandiram na escola, podendo adquirir formato digital.
Mas não importa: seja em vídeo, slides, material impresso, inscrições e elementos manuais, o fundamental é que as diferentes linguagens sejam contempladas – em brincadeiras e interações englobando linguagem oral, corporal, artes, audiovisual, música, histórias, entre outras.
Vale verificar também como os campos de experiência perpassaram a qualidade das relações que foram constituídas, e quais oportunidades os pequenos tiveram para experimentar o próprio corpo em variadas situações, explorar diferentes materiais, cultivar a imaginação e acompanhar processos de construção e transformação das coisas ao seu redor.
Gostaria de concluir essa reflexão frisando: valorize o material elaborado até aqui, já que é por meio da análise dele que vocês, professoras e professores, vão adquirir subsídios para futuramente consolidar portfólios cada vez mais consistentes.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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