Autismo e inclusão: 4 sugestões para fortalecer a parceria com as famílias na Educação Infantil
Experiências que congregam pais, responsáveis e educadores são muito importantes para consolidar uma escola que seja realmente inclusiva
13/09/2022
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Jornalismo
13/09/2022
Olá, professoras e professores! Como já mencionei em outras conversas neste espaço, a temática da educação inclusiva tem sido a minha grande área de interesse nos últimos tempos, até para poder intensificar a experiência de convívio com crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) na Educação Infantil.
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Para dar continuidade a esse assunto, quero trazer alguns pontos que, no dia a dia, entendo serem importantes na relação com as famílias. Vale ressaltar que é justamente no período da Educação Infantil que a maioria das crianças são diagnosticadas – inclusive, em muitos casos, é a partir do olhar e das considerações do professor que os familiares começam a busca por atendimentos específicos.
Assim, conhecendo os desafios desse momento de articulação com os pais e responsáveis e com diferentes profissionais da saúde, apresento aqui algumas sugestões com base nas ações concretas que estamos desenvolvendo na escola em que atuo. A ideia é demonstrar como a busca por uma educação que seja de fato inclusiva e de qualidade requer uma rede de fortalecimento coletiva.
Quando impulsionamos continuamente o nosso desenvolvimento profissional, conseguimos uma comunicação eficiente e estimuladora com as famílias, ajudando a desmistificar conceitos antigos e evitar expressões e termos inadequados, além de gerar segurança para nós mesmos e para os pais.
Em alguns momentos, médicos e outros profissionais da saúde podem solicitar à escola um relato com evidências do desenvolvimento da criança, um material que aborde aspectos como o comportamento durante as propostas desenvolvidas e situações da vida diária e das interações com os colegas. É crucial, então, que, ao construir esse documento, o professor apresente a criança inicialmente sem julgamentos e, depois, destaque os suportes oferecidos pelo ambiente e pelos adultos nesse contexto pedagógico. Esse relato ajuda muito a família na busca por profissionais que atendam as reais demandas dos pequenos.
Pesquise programas, projetos ou pessoas que possam fazer parte da rede de apoio da sua instituição. Isso é importante tanto para ajudar na sua formação e na dos seus colegas sobre esse tema quanto para contribuir para o esclarecimento de dúvidas das famílias. Uma inquietação frequente de pais e mães é em relação ao acesso a serviços e atendimentos adequados para as crianças autistas – há muitas queixas relacionadas à ausência desses serviços na rede pública de saúde e até nas redes particulares.
Nesse sentido, a escola pode se tornar uma parceira para esses responsáveis que muitas vezes não sabem nem por onde começar quando se trata da busca por terapias e outros acompanhamentos. É interessante, desse modo, estruturar encaminhamentos iniciais para atendimentos com psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos e com os programas da própria Secretaria de Educação para o atendimento educacional especializado.
Na escola onde trabalho, idealizamos um grupo de apoio entre os familiares. Essa ideia surgiu da observação da insegurança dos pais e responsáveis que se descobrem com uma criança autista, algo que costuma trazer dúvidas, angústias e dificuldades muito similares.
O primeiro encontro aconteceu no mês de abril, por ocasião do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que é dia 2. Desde então, temos reuniões mensais que duram cerca de uma hora e meia e são mediadas pela equipe da escola, que traz pontos-chaves para iniciar a conversa e depois deixa o espaço aberto para todos debaterem questões referentes principalmente à rotina das crianças.
O intuito é ser um canal de troca de ideias, de partilha de tópicos do cotidiano entre pessoas que estão adentrando agora nesse universo com tantas especificidades que é o TEA. Pelas devolutivas que recebemos das famílias, esse trabalho tem sido proveitoso, porque aqueles pais que estão há mais tempo sob acompanhamento motivam os pais que têm diagnóstico recente, desmistificam falas e concepções e ajudam ainda a perceber que a criança não se reduz a um laudo ou apenas às questões que envolvem o transtorno. Além disso, há o acolhimento de sentimentos e experiências que muitas vezes apenas um pai ou uma mãe de criança autista consegue compreender de fato.
Outra ação que tem apresentado resultados bastante significativos é a criação de um grupo de WhatsApp específico para essas famílias, visando a troca de informações pertinentes como: contatos de profissionais e outros assuntos mencionados durante as nossas conversas presenciais, materiais e links com estudos, entrevistas com especialistas, e também notícias de conquistas recentes – desde uma mudança na legislação até o surgimento de novos espaços de atendimento.
Temos ainda um informativo institucional mensal na escola, em que reservamos um espaço para que os outros pais conheçam nossas iniciativas. Trata-se de uma estratégia para multiplicar informações sobre o autismo para toda a comunidade escolar, já que somente o conhecimento é capaz de superar todas as formas de preconceito.
Os impactos dessas ações estão em contínua análise na nossa instituição, podendo ser modificadas ou mesmo ampliadas com o tempo. Nosso objetivo central é acompanhar a dinâmica das necessidades que as crianças e seus responsáveis apresentam para que cada vez mais sejamos uma escola acolhedora e integradora. Espero que essas sugestões o apoiem na hora de pensar, aí na sua escola, em iniciativas de parceria com as famílias.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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